Entre dezembro e janeiro, a imagem já desgastada do Congresso Nacional, por conta dos escândalos de corrupção, ficou ainda pior. Com a convocação extraordinária e os milhões gastos para pagar rendimentos extras aos parlamentares, fica claro que, depois de um ano de escândalos de corrupção, ao invés de punições, o Congresso foi premiado.

Já para os trabalhadores não há mimos. O salário mínimo de fome de R$ 350, que está sendo negociado entre o ministro cutista Luiz Marinho e o governo, está a um abismo de distância dos mensalões, das verbas de gabinete e dos R$ 25,6 mil pagos a cada deputado pela convocação extra.

A convocação extraordinária mostrou-se como mais uma manobra dos parlamentares para embolsarem salário extra sem sequer precisarem ir a Brasília. Ela garantiu a cada parlamentar vencimento extra de R$ 25,6 mil, relativos a dois salários, causando um impacto de R$ 100 milhões aos cofres públicos. A indignação da população forçou os congressistas a adotarem uma estratégia de autopreservação e sacrificarem algumas poucas mamatas para manterem o conjunto de seus privilégios.

No dia 17 de janeiro, a Câmara dos Deputados, acuada com uma decisão judicial exigindo o corte do ponto dos parlamentares faltosos, aprovou o fim do salário extra. No dia seguinte, a Câmara também aprovou a redução das férias dos parlamentares, de 90 para 55 dias. Tal gesto, no entanto, apesar de não causar grande impacto nos bolsos dos políticos, gerou irritação entre os deputados. O atual presidente da Câmara, Aldo Rebelo (PCdoB-SP), auto-proclamou-se paladino das benesses dos deputados e chegou a declarar, em entrevista à revista semanal Carta Capital, que “os deputados trabalham acima da média dos demais brasileiros”.

A votação do fim do salário extra não afeta a convocação que está se dando no momento, já que a primeira parcela do pagamento já foi paga e a segunda será paga em fevereiro. Além disso, a medida está longe de arranhar os privilégios dos parlamentares, que continuarão a receber seus gordos salários, mais o 13º, dois salários a mais de “ajuda de custo“, o auxílio-moradia, as verbas de gabinete e verbas para suas estruturas nos Estados.

Os trabalhadores, por sua vez, não têm férias de 55 ou 90 dias, e, quando têm, elas são de 30 dias. Além disso, os deputados, na prática, só participam dos plenários de terça a quinta, enquanto a classe trabalhadora, quando muito, tem direito a um dia de descanso na semana.

A saída de Severino Cavalcanti não significou uma política para acabar com as mordomias. Tampouco as CPI`s serviram para `moralizar` a casa. O Congresso continua com as mesmas regras, que garantem que, mesmo após as próximas eleições, ele se mantenha cheio de Severinos.

Post author Yara Fernandes, da redação
Publication Date