Uma boa parte do povo brasileiro ficou alegre com a prisão de Paulo Maluf. Outra está torcendo pela cassação ou renúncia de Severino Cavalcanti. Mas vale a pergunta: isso resolve alguma coisa?

Paulo Maluf é, talvez, o maior símbolo de corrupção do passado. Roubou, pelo menos, US$ 500 milhões do dinheiro público, que foram enviados ao exterior para contas secretas.

Como se trata de muito dinheiro, muitas vezes não se têm idéia do que significa toda essa grana. Representa mais ou menos o que receberiam 10 mil trabalhadores que ganham salário mínimo em 40 anos de trabalho. Se você e sua família trabalharem toda vida, sem gastar nenhum centavo, não receberão nem um milésimo do equivalente a esse dinheiro.

Como demonstração da ostentação de sempre, seu filho Flavio Maluf veio no helicóptero particular da família até a sede da Polícia Federal, onde também foi preso.

é preciso, porém, ver os limites dessa alegria. Em primeiro lugar, Maluf está sendo investigado há pelo menos cinco anos, e só agora foi preso. Não há como disfarçar a intenção de desviar o foco da atenção pública dos escândalos de Brasília, que envolvem o Congresso e o governo federal. Mais ainda, a prisão serve para demonstrar que “os tempos estão mudando”, e que um político do peso de Maluf está preso.

Há um pequeno problema. Maluf, com suas obras faraônicas superfaturadas (que foram a base de seu esquema de corrupção), foi um modelo para boa parte dos políticos deste país. Não por acaso que foi aliado, tanto do PSDB/PFL como, no último período, do PT, estando na base de apoio do governo Lula. É impressionante o silêncio de seus antigos e atuais aliados neste momento. É como se não tivessem nada a ver com esse personagem sórdido. Mas, ao fazer suas alianças com Maluf, esses partidos sabiam muito bem com quem estavam tratando. O exemplo malufista foi seguido, e não só nas obras, mas também na corrupção, como se pode ver agora. Sua prisão agora não pode servir de escape para desviar a discussão de todos os escândalos de seus alunos no governo e no Congresso.

Outra questão de peso é até quando, e em que condições, Maluf ficará preso. Um burguês rico como ele em geral não fica muito tempo detrás das grades. A justiça coloca em um presídio imundo, por muitos anos, quem rouba um prato de comida. Mas é muito mais gentil com quem rouba US$ 500 milhões.

Além disso, não se expropriará o que foi roubado, e nem a empresa da família, a Eucatex, será estatizada para repor parte do que foi surrupiado. No desfecho do caso, veremos que a “Justiça” burguesa tarda, mas não falha: sempre vai beneficiar a própria burguesia. Ou como diria o jornalista Millor Fernandes: “A Justiça é cega, sua balança, desregulada e sua espada, sem fio”.

Severino Cavalcanti, companheiro de partido de Paulo Maluf, o PP de José “mensalão” Janene, encarnou o papel de escracho nacional, ao se recusar a renunciar perante as evidências de corrupção. As baterias da oposição burguesa, tão corrupta como ele, se viraram contra Severino, como se ele fosse uma exceção, e não a regra.

Severino é como Justo Veríssimo, o personagem de Chico Anísio que encarnava o político ladrão que odiava os pobres. Na verdade, a quase totalidade dos parlamentares são Justos Veríssimos, com mais educação para disfarçar sua corrupção, sua aversão ao povo. Severino não tem esse refinamento, e aparenta o que é: um reacionário e corrupto. Por isso querem destituí-lo para (apoiado pelo PT e pela oposição burguesa) indicar um novo presidente da Câmara com uma cara mais apresentável. Vai se trocar um ladrão grosseiro por outro mais educado, para que o restante dos ladrões sigam roubando tranqüilos.

A situação fica mais cômoda para o governo ao ter a conjuntura nacional polarizada pelos casos de Severino e Maluf. Isso permite dar tempo ao governo e à oposição burguesa para costurar um acordão no Congresso. Os jornais e TVs que recebem dinheiro do governo, a começar pela Rede Globo, apóiam essa tática.

O Congresso é todo de Severinos. Tanto o PT como o PSDB/PFL malufaram. Não basta prender Maluf ou destituir Severino. O PSTU defende o “Fora Todos!”, fora o governo Lula, o Congresso, o PT, o PSDB, o PFL… Não ao acordão!