A década de 1980 entrou para a história do movimento operário brasileiro por um grande movimento grevista, iniciado no ABC Paulista, que possibilitou a construção da CUT e do PT. Quem vê essas organizações nos dias de hoje não pode imaginar como foram importantes seus primeiros momentos.

Os congressos da CUT reuniam o melhor da vanguarda das greves de todo o país. Como se tratava de organizações de trabalhadores, as condições em que se realizavam não eram das melhores. Os mais velhos se lembram da fundação da CUT no pavilhão Vera Cruz, em São Bernardo do Campo, com milhares de delegados dormindo no chão em colchonetes improvisados. Os debates eram vivos e com uma democracia que servia de exemplo em todo o mundo. Velhos e bons tempos.

A burocratização da CUT e do PT terminou com tudo isso. A posse de Lula acabou de vez com essas organizações como instrumentos de luta dos trabalhadores. Agora os congressos reúnem os burocratas que estão ou querem estar no governo. Em geral, são realizados em hotéis muito confortáveis e financiados com dinheiro do Estado e da burguesia. A democracia operária desapareceu completamente, dando lugar ao peso do aparato estatal que pode financiar a presença dos delegados da corrente majoritária.

O Congresso da Conlutas, realizado em Betim, mostrou a força dos novos tempos, da reorganização que está em curso no Brasil. Não existe neste momento um grande ascenso como nos anos 1980. Estamos, portanto, passando por um processo qualitativamente menor que o do início da CUT. Mas existe claramente um clima semelhante. Tanto os antigos ativistas da década de 1980 como os novos setores de vanguarda se emocionaram ao viver um congresso com mais de três mil pessoas que expressou grande força da base.

Ali estavam reunidos representantes das principais greves e mobilizações de todo o país, como os operários da construção civil de Fortaleza e da Revap de São José dos Campos, os metalúrgicos da GM, os professores de São Paulo, os trabalhadores dos Correios e os estudantes das ocupações de universidades.

Foi um congresso apoiado no trabalho militante de centenas de ativistas, sem nenhuma remuneração e totalmente independente do dinheiro do Estado e da burguesia. Por isso, os delegados tiveram de enfrentar algumas dificuldades organizativas.

A democracia das discussões ficou clara na defesa das teses, quando a tese amplamente majoritária teve o mesmo tempo de defesa das outras 19 inscritas. Ou ainda na discussão livre nos grupos. Não por acaso, as delegações internacionais destacaram a democracia do congresso.

De forma mais avançada que no início da CUT, foram feitas discussões bem mais profundas sobre a estratégia revolucionária socialista e a luta contra a burocratização sindical. Isso incluiu também um debate sobre os 160 anos do Manifesto Comunista, hoje completamente ausente dos sindicatos dirigidos pela burocracia.

“Se muito vale o que já feito, mais vale o que será.” O lema do congresso esteve presente na emoção nos delegados, conscientes da importância do que foi construído até agora. E conscientes também do muito que há pela frente. Isso significa apostar nas lutas, por isso a resolução sobre a unificação das campanhas salariais e o enfrentamento da próxima crise econômica. E também a aposta na unidade com a Intersindical.

A vitória do Congresso da Conlutas é um novo passo na longa história do movimento operário brasileiro.

Post author Editorial do Opinião Socialista nº 345
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