O debate sobre a tática eleitoral do PSOL tomou novos rumos, apontando para uma candidatura própria.

A opção pelo apoio à Marina Silva (PV) era uma proposta das direções do MES, MTL e APS, correntes majoritárias do PSOL. A direção do PSOL votou uma resolução com uma proposta programática ultra-rebaixada para tentar o acordo com o PV. Mas existia uma grande resistência das bases a essa posição.

Além disso, o próprio PV ajudou a detonar a possibilidade da coalizão. Nem a sua ala governista, comandada por Zequinha Sarney, nem a ala pró-PSDB dirigida por Fernando Gabeira, estavam dispostas a quaisquer concessões para conseguir essa aliança. Só Marina, na verdade, estava empenhada na coligação. Mas ela não dirige o partido.
A pá de cal nas negociações veio com a aliança PV-PSDB no Rio para a candidatura de Gabeira ao governo do estado. Isso levou até o MES, uma das correntes mais a direita do PSOL, a recuar.

Assim, a combinação entre a resistência das bases do PSOL e a postura da direção do PV, está levando este partido a abandonar a idéia do apoio à Marina Silva. Isso é muito positivo.

Como avançar para uma Frente Classista e Socialista
Desde o ano passado o PSTU vem insistindo no chamado ao PSOL para uma discussão programática com o objetivo de construir uma frente classista e socialista. No entanto, a maioria da direção do PSOL preferiu iniciar as negociações com o PV, que agora se inviabilizaram. Está aberto novamente o debate sobre a construção de um programa e de candidato para as eleições de 2010.

Hoje se discutem no PSOL candidaturas das correntes majoritárias como Martiniano Cavalcante (MTL) e Toninho (APS), e da esquerda como Babá e Plínio de Arruda Sampaio. Essa é uma nova realidade. Mas é preciso avançar na discussão do programa e da independência de classe.

O primeiro critério para garantir a frente é programático. Queremos contrapor o programa do governo e da oposição de direita com uma alternativa socialista. Isso inclui a ruptura com o imperialismo, o não pagamento da dívida pública, a expropriação dos bancos e das multinacionais, a reestatização das empresas privatizadas e uma reforma agrária radical.

Esse programa é claramente diferenciado do defendido pela APS e pelo MES, correntes majoritárias do PSOL, que param em um programa “anti-neoliberal” com a auditoria da dívida externa.

A esquerda do PSOL precisa responder com clareza a essa questão. Está em discussão neste momento não só quem será o candidato, mas qual será seu programa. Plinio, por exemplo, tem uma enorme importância nesse debate, e não pode se adaptar ao programa das correntes majoritárias. Para nós foi preocupante uma entrevista à Rede Vida ( da Igreja), em que ele deu a seguinte resposta sobre o papel do PSOL nas eleições de 2010:

“Na realidade, na superficie, as coisas não estão mal. As coisas estão caminhando. Vinte milhões de pessoas melhoraram objetivamente seu padrão de vida. É indiscutível que o Brasil está sendo considerado lá fora com muito mais atenção. É indiscutível que a inflação também não cresce demais. Essas coisas são muito boas. Mas por baixo existem tendencias extremamente perigosas que estão crescendo. A tarefa do PSOL é exatamente mostrar o seguinte: muito bem, gente, o que é positivo tem que ser reconhecido e apoiado, mas o que está por baixo tem que vir à luz.”

Com todo o respeito que merece a figura de Plinio, não nos parece que uma frente de esquerda deveria “reconhecer e apoiar o que é positivo no governo Lula”. Não vemos nada de positivo nesse governo. Por exemplo, a “atenção” que o governo Lula conseguiu internacionalmente, que Plínio considera “positivo”, para nós é só a expressão de uma subordinação lamentável ao imperialismo, o que inclui a ocupação militar do Haiti e a aplicação do plano neoliberal. As pequenas migalhas que os trabalhadores conseguiram são produto do crescimento conjuntural capitalista. O que significa considerar isso como “positivo”, que tem de ser “reconhecido e apoiado”?

A nosso ver, essa deveria ser exatamente uma das diferenças de Plínio com as correntes majoritárias do PSOL: um discurso claro e socialista contra o governo e a oposição de direita.

Uma clara opção classista
Em segundo lugar, é preciso ter um critério de classe. Isso inclui rejeitar com clareza os acordos feitos pelas correntes majoritárias do PSOL com partidos burgueses. O MES fez uma aliança com o PV em Porto Alegre, e a APS com o PSB da familia Capiberibe no Amapá. Além disso, o MES aceitou dinheiro da Gerdau, uma grande empresa. Esse fato foi ignorado no último congresso do PSOL.
É impossível uma frente defender a independência dos trabalhadores em relação à burguesia e ao mesmo tempo conviver com alianças com partidos burgueses. Tampouco é possível ser classista sem a rejeição explícita a acordos financeiros com a burguesia.

O PSOL, mais uma vez, tem a palavra. A conferência do PSOL de março vai claramente apontar um caráter classista, ou vai “esquecer” as alianças regionais com o PV e PSB, e deixar de debater e rejeitar o episódio Gerdau?

O PSOL vai apoiar o candidato que será votado em março?
Essa não é uma pergunta menor. A presidenta e principal figura pública do PSOL, Heloísa Helena, acaba de dar uma entrevista a uma radio gaúcha em que reitera sua preferência por Marina Silva (“digna, competente, que será uma grande presidente da república”) e diz ter a certeza que “qualquer grupamento do PSOL saberá respeitar minhas convicções por Marina”, “por defender um desenvolvimento econômico sustentável”.

Isso significa em bom português que Heloísa seguirá apoiando Marina, independente da candidatura que seja votada na conferência.

Nós do PSTU defendemos que a candidata da frente classista e socialista deveria ser Heloísa Helena. O PSOL está cometendo um grave erro ao se adaptar à vontade de Heloísa ser senadora, abdicando da única candidatura que poderia ter uma base de massas, ainda que minoritária. Agora, pode ser que o PSOL cometa outro erro, aceitando que Heloísa apóie outra candidatura.

Isso enfraqueceria enormemente a candidatura do PSOL e a própria frente. Seria uma contradição importante que outros partidos de esquerda apoiassem a candidatura do PSOL, quando nem o PSOL como um todo o faz.

Isso exige que a conferência de março, com clareza, exija que o partido aplique a resolução votada por todos.

O caráter da pré-candidatura de Zé Maria
Lançamos em todo o país a pré-candidatura de Zé Maria à presidência da República. Atos representativos da vanguarda das lutas respaldaram os lançamentos. Mas desde o início, manifestamos que a pré-candidatura não era uma via de mão única. Mantivemos em todos os atos o chamado a uma frente classista e socialista.
Agora, reiteramos o chamado ao PSOL, e em particular à sua esquerda, que busque concretizar na conferência de março um programa socialista e um critério classista que viabilize a formação de uma frente, que seria tão importante para apresentar uma alternativa perante a falsa polarização governo-oposição de direita.

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