O governo amargou mais uma grande derrota na semana passada. Fragilizado desde a derrota na eleição da presidência da Câmara, o governo Lula foi obrigado a desistir de aprovar a Medida Provisória 232 que, ao mesmo tempo, corrigia em 10% a tabela do Imposto de Renda (IR) e aumentava os tributos para as empresas prestadoras de serviço, questão que sofria forte oposição do empresariado.

Lula tentou fazer um jogo de cena, corrigindo a tabela do IR para capitalizar isso eleitoralmente. Não contava, entretanto, com a sua enorme fragilidade no Congresso. Descontentes por terem ficado de fora, ao menos por enquanto, do loteamento ministerial promovido por Lula, os parlamentares dos partidos burgueses aliados ao governo (PMDB, PTB e o PP, de Severino Cavalcanti) anunciavam que votariam junto com oposição de direita (PSDB e PFL), aprovando apenas a correção do IR.

Para piorar ainda mais, os deputados do PT e do PCdoB também perceberam que poderiam se sair muito mal de toda essa história. Afinal, como votar contra uma medida, enquanto PFL e PSDB votariam a favor, que aliviava a carga tributária do trabalhador?

O que se viu então foi uma sucessão de recuos do governo ao longo de toda a semana. Orientados pelos líderes governistas, os poucos parlamentares que seguiram fiéis ao governo petista obstruíram as votações, abandonando o plenário da Câmara para impedir o quórum mínimo de votação. Repetiam-se cenas que lembravam os tempos em que o PT era oposição e minoria no Congresso. “Esse governo é tão, tão forte, que nem quando quer ser derrotado consegue”, ironizava um deputado petista ao jornal Valor Econômico.

Depois de muitos passos para trás, os líderes governistas foram obrigados a aceitar a aprovação da correção do IR. Lula ainda quis dar uma aparência de que a aprovação foi graças à sua iniciativa, mas já era tarde demais, a derrota e o desgaste já eram fatos consumados.

Nem mesmo o fato de ter anunciado, no início da semana passada, que não renovaria o acordo com o FMI, como suposta demonstração de “soberania” do país, poupou o governo do vexame. Nesta semana, a oposição de direita e os partidos “aliados” ameaçam impor uma nova derrota agora na votação da reforma tributária. O líder governista, Arlindo Chinaglia, já reconhece que o governo terá que recuar em relação a essa questão.

Esses acontecimentos revelam que o governo hoje é minoria no Parlamento. Um artigo publicado pelo jornal Financial Times, um dos principais porta-vozes do capital financeiro, revela que investidores estão começando a se preocupar que o governo não consiga aprovar a autonomia do Banco Central e a reforma Sindical.
Claro que Lula tentará reverter essa situação, distribuindo cargos e subvenções a rodo aos parlamentares. No Congresso dos picaretas, todos sabem, predomina a velha pratica do “topa tudo por dinheiro”.

Os movimentos sindical e estudantil devem aproveitar a falta de poder de fogo do governo para ampliar suas lutas contra as reformas Sindical, Trabalhista e Universitária de Lula e do FMI. A fragilidade do governo Lula propicia um cenário favorável para as lutas dos movimentos sociais contra a agenda neoliberal.

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