Manifestante devolve bomba de gás lacrimogêneo à polícia

É a maior repressão após dois meses e meio de intensa mobilização pela educação públicaEstudantes chilenos voltaram às ruas do país nesse dia 4, reivindicando a reforma no sistema educacional e mais recursos públicos ao setor. Milhares de estudantes universitários e secundaristas não se deixaram intimidar com a proibição do protesto pelas autoridades, foram às ruas e armaram barricadas nas ruas de Santiago. Além da capital, houve manifestações em mais 12 cidades.

Numa medida inédita desde a ditadura Pinochet, o governo bloqueou as passagens para a Praça Itália, local onde se concentrariam as marchas dos estudantes. Os manifestantes, porém, adotaram uma tática de protestos dispersos pelas ruas e avenidas do centro da capital chilena.

A polícia, no entanto, reprimiu fortemente o protesto. Com gás lacrimogêneo e jatos d´água, os “carabineros” investiram contra os manifestantes, em confrontos que duraram pelo menos 6 horas. Ao final, o próprio governo registrou a detenção de 874 estudantes, segundo estimativa divulgada nesse dia 5.

Um grupo de estudantes chegou a invadir a sede de uma rede de televisão, Chilevisión, a fim de expressar suas reivindicações. Á noite, estudantes e a população fizaram um ‘cacelorazo’ (panelaço) em repúdio à repressão. Os panelaços foram muito usados em protestos contra a ditadura Pinochet.

Radicalização
Os protestos massivos dos estudantes já duram mais de dois meses no Chile e tem como o alvo o injusto e elitista sistema de educação do país. Não há educação gratuita e, mesmo os colégios e universidades públicas, são pagos. Grande parte dos recursos públicos vai para as instituições privadas e, apesar de o lucro ser proibido, na prática elas encontram brechas na legislação para lucrarem. Os estudantes mais pobres, quando conseguem estudar, acabam endividados.

O desgastado governo de Sebastián Piñera se recusa a implementar uma verdadeira reforma da educação e apenas apresenta medidas cosméticas. Trocou o ministro da Educação, tirando Joaquin Lavín para colocar o ex-ministro da Justiça, Felipe Bulne, que ganhou prestígio após o resgate dos 33 mineiros soterrados no ano passado. Não há, porém, medidas concretas para atender as reivindicações dos estudantes.

Agora, aposta na repressão para deter o movimento. “Há um limite, os estudantes não são os donos desse país”, afirmou o porta-voz do governo, Andrés Chadwick a uma rádio. Os estudantes, por sua vez, exigiram propostas concretas do governo e prometem mais mobilizações.