Protestos em La Paz
CMI Bolívia

A luta dos bolivianos pela nacionalização do gás e do petróleo se intensificou nos últimos dias e o 31 de maio foi um marco no conflito entre o Estado e as mobilizações populares. A multiplicação de protestos, marchas e bloqueios de ruas em La Paz impediu a sessão de reabertura do Congresso. A Praça Murillo, onde se localiza o Congresso, e as ruas de La Paz foram tomadas por mais de 40 mil manifestantes que protestaram durante todo o dia.

Devido à pressão das mobilizações populares, o Congresso havia interrompido suas atividades nas últimas duas semanas e neste dia 31 a retomaria suas atividades discutindo a convocação do plebiscito para definir a autonomia de províncias, como Santa Cruz. A proposta é rejeitada pelos movimentos de mineiros, indígenas, estudantes, professores e vendedores ambulantes.

A proposta de autonomia significa separar a província de Santa Cruz, entre outras, do restante da Bolívia. Essa região, a 600 quilômetros da divisa com o Brasil, é uma das mais ricas do país, porque concentra poços de petróleo e gás, além de terras férteis e baratas usadas na produção de soja. Aí estão instaladas as principais petroleiras e fazendas, muitas delas nas mãos de latifundiários brasileiros. A separação da rica Santa Cruz, além de enfraquecer a Bolívia, vai condenar à pauperização o restante do país.

A sessão foi suspensa no início da noite, por quórum insuficiente de 61 deputados – eram necessários 105 dos 157 parlamentares. Os deputados justificaram sua ausência dizendo não querer sair às ruas, por temer agressões dos manifestantes. Alguns não conseguiram chegar à capital por causa dos bloqueios de estradas.

A concentração dos manifestantes foi na Praça San Francisco, de onde seguiram para a Praça Murillo, onde ocorreu confronto entre a polícia e os manifestantes. Os policiais usavam balas de borracha e gás lacrimogêneo contra os manifestantes, que por sua vez atacaram o cerco policial jogando pedras e bananas de dinamite. Os manifestantes gritavam: “Mesa cabrón! El gas no se vende!”.

Além da Central Operária Boliviana (COB), as principais organizações e grupos à frente do protesto foram a Fejuve (Federação de associações de moradores) e os estudantes da Universidad Pública de El Alto (UPEA). Na cidade, o trânsito foi interrompido e as marchas se expandiram para zonas da cidade até então pouco afetadas. Diversos prédios públicos foram apedrejados. O governo Mesa, porém, ignorando as milhares de pessoas que pararam a capital boliviana, atribuiu os protestos a grupos isolados. “São grupos minoritários que persistem numa atitude de violência“, disse o ministro Saúl Lara.

Os trabalhadores, camponeses e indígenas bolivianos estão diante da necessidade de continuar mobilizados para garantir a greve geral pela nacionalização do gás, exigindo, ao mesmo tempo, a imediata suspensão do plebiscito de Santa Cruz. Agora, mais do que nunca, a grande bandeira do povo boliviano volta à ordem do dia: todo o poder à COB e às organizações em luta!