Mais de 2 mil pessoas protestaram próximo á casa do Cabral

Leblon, bairro conhecido pelas cenas lúdicas de personagens passeando na praia nas novelas do escritor Manoel Carlos, da Rede Globo, se transformou, no início da madrugada de 17 para 18 de julho, em mais um palco da brutal violência policial do governo de Sérgio Cabral contra manifestantes

 
Desde o início da tarde de quarta-feira, 17, 200 soldados da Tropa de Choque, apoiados por um canhão d’água, já tinham ocupado e fechado todos os acessos da agora famosa esquina da Avenida Delfim Moreira com a Rua Aristides Pádua, um dos endereços mais caros do país. Era perceptível o incômodo na abastada vizinhança, pois os apartamentos próximos ficaram com janelas fechadas e luzes apagadas.
 
Mesmo com todo esse clima, centenas de pessoas chegavam das mais diversas direções. Em menos de duas horas, mais de dois mil manifestantes se concentravam porta da casa do governador Sérgio Cabral.
 
Irreverência política e apoio de moradores
A manifestação transcorreu tranquilamente, apesar do clima tenso provocado pela presença ostensiva da tropa de choque, que tinha posto dezenas de policiais espalhados pelas ruas próximas, da suspeita de vários P2 (policiais infiltrados) e dos sobrevoos de 2 helicópteros.
 
O ato contou com muita irreverência e, em ritmo de arquibancada, foram cantadas várias músicas contra Sérgio Cabral, Eduardo Paes e a PM. Sobrou até para o megaespeculador Eike Batista, o novo dono do Maracanã. Um helicóptero de brinquedo foi pendurado no galho de uma árvore provocando gritos entusiasmados de “o Cabral chegou”.
 
Por volta das 20h, moradores da Rocinha, que realizaram protesto contra sumiço de um morador durante abordagem policial na comunidade, se juntaram aos manifestantes, fortalecendo ainda mais as exigências pelo fim das remoções e pelo fim da violência policial nas comunidades pobres.
 
Vale tudo para exigir a saída do governador
A preocupação dos manifestantes em amenizar o clima era tão grande que por duas vezes saíram em passeata. Em plena noite de quarta-feira, o canto “Cabral é Ditador!” ecoou pelas principais ruas do Leblon.
 
Durante o trajeto tapumes, letreiros e ônibus foram pichados com a inscrição “Fora Cabral”. Nas portas de bares e restaurantes, várias pessoas, principalmente funcionários, saíram para aplaudir e apoiar os manifestantes. Numa obra do metrô, a peãozada se postou em cima dos tapumes para aplaudir e fotografar a passeata.
 
Mais uma vez a violência policial se fez presente
Mas o distanciamento da casa do Cabral e a falta de um direcionamento acabaram fazendo com que a manifestação de dispersasse em pelo menos três passeatas menores que rumaram para destinos diferentes, o que fez com que muitas pessoas fossem embora do ato.
 
Mesmo assim, centenas de pessoas retornaram para a esquina da Delfim Moreira para se juntar aos que ali tinham permanecido. Neste momento, a Tropa de Choque cercou os manifestantes. De repente, os policiais começaram a disparar bombas de gás lacrimogêneo e de efeito moral, dispersando a maniestação.
 
Começou, então, uma resposta radicalizada de parte do protesto: barricadas foram feitas e pedras foram usadas para proteger os manifestantes. Ante a brutalidade da PM, os conflitos se espalharam para o bairro vizinho de Ipanema. Já na Lagoa, onde fica a casa do secretário de segurança José Mariano Beltrame, braço direito de Cabral, um grande aparato policial avançou com violência sobre os manifestantes.
 
Como de costume, policiais agrediram e prenderam dezenas de pessoas. Manifestantes e advogados denunciam que a polícia priorizou prender os que não estavam envolvidos nos confrontos. Aparentemente, a PM, sob o comando do governador, preferiu apostar na radicalização dos protestos para ganhar o apoio da classe média e aumentar a repressão policial contra as manifestações.