Crônica da manifestação do dia 10 e da manhã do dia 11 de julhoNa noite do dia 10 julho, quando os mineiros entraram por Moncloa, norte de Madri, encontraram mais de 50 mil pessoas esperando por eles, apesar do horário que chegaram (já passavam das 23h30).

Durante a marcha até a Praça Puerta Del Sol, mais de 4 km de distância, milhares e milhares de pessoas foram se somando à marcha. As praças estavam cheias de pessoas que, emocionadas, cantavam o hino dos mineiros, “Santa Bárbara Bendita”, ou gritavam sem cansar: “Madrid obrero apoya a los mineros” (“Madri operária apoia os mineiros”).
Das varandas e janelas de todo o trajeto (que passava por Princesa e Grand Via), todos saudavam os manifestantes que estavam emocionados, como a gente também. Mais de duas horas depois, a imensa marcha chegava, as 2h30 da madrugada, a Puerta del Sol.

As direções sindicais majoritárias fizeram de tudo para atrasar a entrada dos mineiros em Madri e a manifestação, que estava convocada para as 22h. Tentaram fazer com que ela fosse discreta e pequena. De fato, fizeram que muitos não pudessem acompanhá-la, pois muitos tinham que trabalhar no dia seguinte. Apesar de tudo, não conseguiram que a marcha fosse uma manifestação menor. Ao contrário. A manifestação surpreendeu a todos. Foi uma das maiores mobilizações que ocorreu, até agora, no país com um explicito caráter de classe, com todos gritando “viva a luta da classe operária”.

O ódio ao governo do PP [Partido Popular, de direita] e de Mariano Rajoy (presidente da Espanha) estava presente em cada consigna e coreografia. Passando pela sede do PSOE [Partido Socialista, do governo anterior] de Madri uma imensa coluna gritava: “lo llaman socialista y no lo es, oe, oe, oe…”, (“Se chama socialista, mas não é”), reafirmando o desgaste dos partidos do regime.

Não passará do verão
O povo vê nos mineiros e nos seus métodos de luta um caminho e por isso se orgulham deles. A cada dia percebem que essa crise não tem saída. Que o governo e a Troika (Banco Central Europeu, União Europeia e FMI) não vão parar de destruir direitos, fazer cortes sociais e despejar a conta da crise nos trabalhadores e no povo.
Na manhã do dia 11, após a manifestação noturna que, em uma situação normal poderia fazer tremer o governo, Rajoy anunciou um duríssimo pacote de cortes orçamentários. Um deles prevê a supressão do pagamento extra de Natal aos servidores públicos e o aumento de impostos ao consumo (IVA) contra os trabalhadores e o povo. São as exigências da Troika para resgatar os banqueiros que, em palavras da própria imprensa, é “o maior destruidor da história do Estado de bem-estar Social”.

Dia 11, mais duas manifestações
Pela manhã do dia 11, outras 60 mil pessoas seguiram os mineiros de Colón até o Ministério de Indústria para reivindicar ajuda do governo ao carvão.
A polícia reprimiu brutalmente os manifestantes que, a cada dia, se enfrentam mais com as tropas anti-distúrbios. O resultado foram 76 feridos e 7 presos. A criminalização dos movimentos sociais e a repressão aos mineiros é crescente. Mas, como cantava a coluna da Corrente Sindical de Esquerdas das Astúrias, “si no hay solución, habrá más barricadas” [“se não há solução, haverá mais barricadas”].
No final da tarde, o sindicalismo alternativo, muitas Assembleias de bairro do movimento 15M e os mineiros do sindicalismo de Esquerda, realizaram uma manifestação, de Atocha a Sol passando por Jacinto Benavente, na qual puderam participar os setores que trabalham durante o dia e também aqueles que defendem uma política alternativa à burocracia sindical que, como disseram os ativistas da COBAS [Comissões de Base]: “Oe,oe…oe,oa…a Toxo y Méndez les queremos preguntar:¿ cuántos recortes hacen falta más para convocar otra huelga general? [Toxo e Méndez queremos perguntar: quantos cortes faltam mais para convocar outra greve geral?. Toxo e Méndez são os principais dirigentes sindicais do país].

Organizar uma alternativa à burocracia
O Sindicalismo Alternativo, especialmente a COBAS e “Ay que Pararle los Pies en Madrid” estão chamando a unidade de todos para lutar. Mas todo lutador honesto do país sabe que a burocracia sindical, cedo ou tarde, acaba sempre pactuando com a patronal fechando acordos que prejudicam os trabalhadores. Isso acontece porque a burocracia vive dos privilégios do Estado e praticam um sindicalismo de conciliação de classes, onde quem sempre ganha é a patronal e os governos.

Um dos representantes do Sindicalismo de Izquierda das Astúrias explicava que, tão perigoso quanto o Ministério da Indústria, era ter um “inimigo interno”, ou seja, uma direção do movimento que possa trair os trabalhadores e pactuar com o governo e a patronal.

A manifestação organizada pelo Sindicalismo Alternativo teve um duplo objetivo: primeiro, apoiar a luta dos mineiros (e por isso esteve em todas as manifestações e ações unitárias). Segundo, levantar um programa alternativo e avançar na organização democrática e pela base de uma alternativa de luta à burocracia sindical.

Viva a luta dos mineiros! Abaixo aos cortes de Rajoy e da Troika!
Neste dia 12, será realizada uma manifestação do Sindicalismo Alternativo, na qual Corriente Roja tem grande presença.

A saída da crise exige um plano de resgate dos trabalhadores e do povo, que parta da imediata suspensão do pagamento da dívida aos banqueiros, que imponha um controle de capitais, que nacionalize os bancos e a coloque sob o controle dos trabalhadores, prendendo e confiscando todos os bens dos banqueiros e especuladores responsáveis pela crise.

Os trabalhadores não suportam nenhum corte a mais. Precisamos de trabalho, moradia, educação, Previdência pública, gratuita e de qualidade, transporte público e estatal com tarifa social.

Por tudo isso é necessário unir as lutas e convocar outra greve geral, indefinida se for necessário. É preciso deter o governo de Rajoy. E isso se faz com a luta. Por isso mesmo é escandaloso que o PSOE ofereça um pacto nacional ao PP para que juntos apliquem de maneira negociada (com CC.OO e UGT incluídas, principais centrais sindicais do país) os planos de ajuste da Troika. E é inadmissível também que Esquerda Unida também esteja aplicando no governo de Andaluzia (no qual participa junto ao PSOE) os mesmos cortes que o PP aplica no resto do Estado.

Devemos lutar por um governo operário e popular, apoiado democraticamente nas organizações de base dos trabalhadores e do povo.
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