Redação

Marcela Azevedo, da Secretaria Nacional de Mulheres do PSTU

Para as mulheres, 2020 foi um ano marcado pelo aumento da desigualdade e da violência. Saímos do 8 de Março direto para a pandemia, e a primeira vítima fatal do coronavírus foi uma empregada doméstica infectada pelos patrões no Rio de Janeiro. Com as medidas de confinamento, a violência doméstica e os feminicídios explodiram, bem como a sobrecarga de tarefas domésticas e o desemprego feminino.

Na saúde, trabalhadoras assumiram a linha de frente do combate à COVID-19, enfrentando além da doença a falta de materiais, a perda de colegas e as agressões de apoiadores de Bolsonaro. Empregadas domésticas foram incluídas na lista de serviços essenciais no Maranhão e no Pará. No Recife, Miguel, de cinco anos, virou símbolo da desigualdade quando a patroa de sua mãe o deixou sozinho no elevador do prédio do qual caiu e morreu enquanto a mãe passeava com o cachorro da madame.

A resposta de Bolsonaro e de Damares Alves foi omissão. Até setembro, nem metade do orçamento de política para mulheres tinha sido utilizado e, apesar do discurso distinto de muitos governadores e prefeitos, a negligência e a ausência de medidas para combater a violência e a desigualdade foi a mesma.

Contudo, 2020 também foi um ano de lutas. Na Polônia, mobilizações de massas derrotaram o governo e a igreja católica impedindo a restrição do já limitado direito ao aborto. A forte presença de mulheres nas mobilizações antirracistas nos EUA, somada à marcha feminista nas vésperas das eleições estadunidenses, impuseram, ainda que de maneira deturpada, a eleição da primeira mulher negra à vice-presidência do país. Na Argentina, foi a maré verde e a força do movimento de mulheres que novamente garantiram a aprovação da legalização do aborto na Câmara, ainda que a votação no Senado tenda a ser mais difícil.

No Brasil, mobilizações na internet obrigaram o Santos Futebol Clube a suspender o contrato do jogador Robinho, condenado por estupro coletivo na Itália. Enquanto isso, a Justiça de Santa Catarina mostrava sua cara burguesa e machista ao inocentar um empresário rico pelo estupro de Mari Ferrer apesar das provas, no que ficou conhecido como estupro “culposo”, ao mesmo tempo em que a vítima era humilhada e agredida no julgamento.

O caso Mari Ferrer foi o estopim para a denúncia dessa situação nas ruas de todo o país, mesmo durante a pandemia. Ao mesmo tempo, a TV Globo provou que só assume as pautas de opressão para ganhar audiência ao se omitir quanto às denúncias de assédio sexual e moral contra o diretor do núcleo de humor, Marcius Melhen.