Nas mobilizações da juventude contra o aumento das passagens em todo o país tem sido comum ouvir os gritos de “sem partido” ou “abaixem as bandeiras”. Existe um setor importante dos jovens que manifestam um rechaço aos partidos pela prática corrupta e de defesa da burguesia dos partidos majoritários, inclusive do PT.

Entendemos esse rechaço aos partidos dominantes e nos somamos a ele. A política hoje é entendida por esses partidos majoritários como uma forma de “se arrumar”, de ganhar dinheiro. Em particular, entendemos esse repúdio como uma expressão do desencanto com o PT, partido que se anunciava “contra tudo o que está aí” e que, quando está no governo, é o maior defensor do “que está aí”: a mesma corrupção, a mesma prática política.

Mas isso não significa que concordemos com a ideia de que “todos os partidos são iguais”. Esse tipo de visão ajuda a manter a dominação dos mesmos partidos de sempre, como o PSDB de Alckmin e o PT de Haddad e Dilma. Se “todos os partidos são iguais”, para que mudar?

O PT e PSDB adoram quando veem o rechaço a todos os partidos. A Rede Globo também, tanto que deu destaque a isso em seu noticiário. Por quê? Em primeiro lugar porque isso divide e enfraquece o movimento. Em segundo lugar porque significa que não se construirá nenhuma alternativa contra eles.

Não, nem todos os partidos são iguais. Por exemplo, quais os partidos que apoiam essa mobilização e estavam nela? A maioria dos que ali estavam votou no PT e no PSDB. Ou seja, votaram nos partidos contra os quais estamos lutando. Votaram nos partidos que ordenaram a repressão das mobilizações. Deveriam refletir que esses partidos não servem. Ao pensar que “nenhum partido serve”, termina ajudando o PT e PSDB que seguirão mandando no país, se alternando para aplicar o mesmo programa da burguesia.

Os erros dos anarquistas
As classes dominantes riem quando ouvem a bobagem histórica falada pelos grupos anarquistas: “O povo unido governa sem partido”. Não existe na história nenhum exemplo de que se tenha feito uma revolução sem uma direção revolucionária. E o que o Brasil precisa é de uma revolução. Os anarquistas cumprem nesse caso um papel reacionário, a serviço das classes dominantes, ao falar ao mesmo tempo contra os partidos burgueses e contra os partidos revolucionários como o PSTU.

A história já demonstrou esse papel reacionário dos anarquistas: quando ocorreu realmente uma revolução, como na Espanha em 37, e se esteve perante a necessidade de definir o que se faria com o governo e o Estado burguês, os anarquistas acabaram por participar, na Catalunha, de um governo junto com partidos reformistas e a burguesia. É como se os anarquistas, perante uma revolução no Brasil, se rendessem e aceitassem participar de um governo com o PT e o PMDB. É a consequência de quem não vê a necessidade de um partido até que ela se imponha, e aí aceita simplesmente os mesmos partidos de sempre.

Entendemos o sentimento antipartido da população. Rejeitamos duramente, no entanto, quando grupos anarquistas e neofascistas querem tirar nossas bandeiras. Isso já aconteceu nesses atos e, invariavelmente, provoca conflitos. Nem a ditadura conseguiu fazer com que baixássemos nossas bandeiras e não vai ser qualquer grupo anarquista ou neofascista que irá fazê-lo. Todos têm direito de levantar suas bandeiras e faixas. Não vai se impor nenhuma visão autoritária baseada no atraso.

Lutemos juntos contra os governos. Esse tipo de postura só divide e enfraquece o movimento. Enquanto a polícia nos atira bombas, é um enorme equívoco dividir a luta. 

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