Estamos vivendo um ascenso sindical não generalizado, mas muito importante. Entre 2003 a 2007 foram realizadas em média 300 greves por ano. Houve uma mudança em 2008, passando para 500 greves, com mais presença do setor privado. As greves se tornaram mais longas e radicalizadas para enfrentar a resistência da patronal.
Pode ser que tenhamos, neste ano, um avanço em relação aos anos anteriores, passando de 600 greves. Por fora da questão numérica, existe uma maior radicalização das greves. Tivemos greves salariais da construção civil (das grandes obras e também de Fortaleza), do transporte (com destaque para metrô de São Paulo), das polícias (civil, militares, bombeiros e federal), e do funcionalismo público.
A greve do funcionalismo federal, agora com a presença da Polícia Federal, é o maior enfrentamento direto já ocorrido do movimento com o governo Dilma. Já existe uma vitória política da greve do funcionalismo ao obrigar o governo a negociar. Ainda são propostas rebaixadas e o movimento está, nesse momento, lutando para conseguir mais. Mas, pela primeira vez, Dilma foi obrigada a abandonar sua postura imperial e começar a fazer propostas ao funcionalismo. A greve causou uma experiência política no setor com o governo que, infelizmente, não se generaliza ao conjunto dos trabalhadores.

O movimento estudantil voltou a um ascenso nacional, acompanhando a greve dos professores universitários. O movimento popular iniciou o ano com a luta do Pinheirinho e resiste à contrarreforma urbana. A tendência é de que ocorram novas lutas salariais, estudantis e populares no segundo semestre, em meio as eleições.
Como reflexo da situação econômica, deve existir também lutas de resistência contra as demissões, cujo modelo já foi anunciado pela GM. É necessária uma grande campanha política para que a luta na GM de São José seja um símbolo na luta contra o desemprego.

A situação econômica levou as greves salariais e as lutas contra ao desemprego. Entender a desigualdade entre elas é a chave para entender a conjuntura atual. Não existe ainda uma crise no país (como uma recessão), e por isso seria errado caracterizar o conjunto da luta dos trabalhadores com o padrão defensivo em relação ao emprego.

A maioria das lutas é ao redor das campanhas salariais, que se expressa nesse momento com a greve do funcionalismo, mobilizações da construção civil e a preparação das campanhas salariais do segundo semestre (metalúrgicos, bancários,
petroleiros, correios).

A popularidade do governo e as eleições
A popularidade do governo segue forte, apesar da desaceleração da economia, das greves e do julgamento do mensalão. Não se pode fazer uma correlação mecânica entre problemas na economia e desgaste do governo. Já vimos como, na crise de 2009, Lula aumentou sua popularidade, porque os trabalhadores entenderam que ele salvou o país da crise.

As demissões de ministros pelas denúncias de corrupção também estiveram longe de desgastar Dilma. Através da farsa da “faxina” o governo se fortaleceu.
Por trás desses episódios está o caráter de frente popular do governo. Esses governos se baseiam no engano dos trabalhadores, por ter uma face amigável (a imagem e passado de trabalhador de Lula e agora de Dilma), mas um conteúdo de governo do grande capital. Os trabalhadores entendem que têm no governo um aliado, o que ajuda muito na dominação das grandes empresas. Lula e Dilma podem atacar os trabalhadores de uma forma que FHC ou Serra não poderiam.

As denúncias de corrupção pelo julgamento do mensalão e o início dos problemas na economia desgastarão Dilma e o PT a ponto de influir nas eleições? É pouco provável, pois os sinais da economia indicam uma estagnação e não de uma recessão aberta.

A tentativa da oposição de direita de se aproveitar do julgamento mensalão para atacar o PT não deve alterar significativamente o cenário eleitoral. Reforça apenas o cinismo generalizado, alimentando o senso comum de que “todo mundo rouba”.
As eleições vão preencher a vida política nacional. Mas serão eleições frias, com pouco entusiasmo e sem grandes comícios. O cenário eleitoral continua indefinido. Pode ser que o PT consiga vitórias significativas em áreas antes controladas pela oposição de direita, como em São Paulo. A tendência é que a vida política seja pautada pelas eleições, mas com mobilizações e greves importantes.

A resposta de Dilma para evitar a crise
Dilma segue com amplo apoio popular, como indicam as pesquisas. O governo busca se aproveitar para fazer ataques importantes aos trabalhadores e assim prevenir os efeitos da crise sobre o Brasil.

Dilma amplia fortemente o apoio às grandes empresas e os ataques aos trabalhadores. Para as empresas, a redução dos impostos e a oferta de crédito com redução dos juros. Agora acaba de anunciar um megapacote de privatização de rodovias e ferrovias, aplaudido pelo PSDB e por Eike Batista (veja página 7).

Para os trabalhadores, o primeiro reflexo é uma dureza maior nas campanhas salariais, tanto para o funcionalismo público como nas empresas privadas.
O segundo é a preparação de novas reformas, já anunciando uma nova mudança na previdência e o grande ataque dos ACEs, uma reforma trabalhista articulada desde o sindicato dos metalúrgicos do ABC.

Defesa do salário e emprego
O governo Dilma tem que negociar com os grevistas e assegurar a estabilidade de emprego dos trabalhadores da GM. Para enfrentar os reflexos da crise mundial é preciso outra política econômica, oposta a essa, voltada para os trabalhadores.

– Reversão das privatizações!
– Não à reforma na Previdência e aos Acordos Coletivos Especiais. A flexibilização dos direitos não assegura o emprego dos trabalhadores. Só facilita o ataque em todos os níveis das empresas sobre os trabalhadores.
– Dilma tem que parar de dar dinheiro público para as empresas. Essa medida não garante os empregos e só beneficia a patronal. O governo tem que apoiar os trabalhadores, garantido estabilidade no emprego para todos.
– Estatização das empresas que demitirem.
– Fim dos cortes nas verbas sociais. Não pagamento da dívida pública para investir fortemente nas estatais e serviços sociais.
– Estatização dos bancos para reduzir drasticamente os juros, evitar fuga de capitais e o investimento necessário na economia.

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