Houve uma mudança na conjuntura do país, mais importante que qualquer um dos possíveis resultados eleitorais. O ciclo de greves, que tem como símbolo maior a greve bancária, mostra o maior momento de mobilização sindical desde o início do governo Lula. A greve do funcionalismo público do ano passado teve grande repercussão, por se enfrentar diretamente contra o governo na reforma da Previdência. Mas o atual ciclo grevista tem um peso maior por distintos motivos.

O primeiro é que os bancários têm um grande peso na economia do país, e causam maior impacto sobre os outros setores da sociedade.
O segundo é que, desta vez, mais setores estão em luta. Na esteira da greve bancária, vem a mobilização de petroleiros, químicos e outros. Os metalúrgicos de São Paulo só não foram à greve porque tiveram aumentos reais, e agora virá a campanha de metalúrgicos de outros estados, como Minas Gerais. Outros setores do funcionalismo também estão em luta, como os judiciários em muitos estados,
professores de Santa Catarina e funcionários da UERJ.

O terceiro é que estão ocorrendo greves longas, que se enfrentam com os patrões e o governo. A greve do Judiciário de São Paulo foi a maior da história. A dos bancários é a maior desde 1991.

Crescimento econômico e desencanto com governo favorecem as greves

Toda a década de 1990 foi marcada pela aplicação dos planos neoliberais e pelo desemprego e o arrocho. O desemprego levava a insegurança para as lutas salariais. Ao lado disso, as direções da CUT e do PT ajudaram a frear as mobilizações, com sua estratégia eleitoreira e de acordo com os patrões (câmaras setoriais).

A experiência com o neoliberalismo levou à vitória eleitoral de Lula. As massas esperavam que seus problemas de salário e emprego fossem resolvidos com o governo do PT.

Mas, agora, o crescimento econômico dá mais segurança aos trabalhadores para as lutas salariais. Por outro lado, a confiança das massas na CUT e no PT caiu muito. Enquanto o PT aplica um plano neoliberal (mais duro que o de FHC), a CUT tenta segurar as lutas. Os dirigentes sindicais da maioria da CUT são os novos pelegos. A recuperação parcial da aprovação do governo, que veio com o crescimento econômico, se dá nas parcelas mais despolitizadas dos trabalhadores. Nos setores de ponta do movimento sindical predomina a desconfiança no governo e em seus representantes, da CUT.

É esta combinação de fatores econômicos e políticos que favorece as greves, e as rebeliões das bases contra as direções, como na greve bancária.

O governo Lula quer derrotar as greves

O governo está atuando para derrotar as greves, porque elas questionam o fundamental de qualquer plano neoliberal, o arrocho salarial. Por isto, a direção do BB e da CEF (indicadas diretamente por Lula) atuam com a Fenaban. Isso também explica a repressão policial à greve e por que a direção da CUT faz de tudo para frear as mobilizações e evitar sua unificação.

Mesmo assim, as greves estão explodindo. Pode ser que estejamos vivendo o início de um grande processo de lutas, da dimensão do vivido com as grandes greves da década de 1980, com enormes repercussões sindicais e políticas. Ou pode ser que não. Só a evolução da realidade confirmará uma dessas hipóteses. Mas é muito importante que todos os setores do movimento sindical apóiem essas mobilizações, porque o seu resultado concreto influenciará o desenvolvimento das próximas lutas.
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