O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) reuniu-se com Lula para pedir que este acelere a reforma agrária. Foram duas horas e meia de conversa, com trocas de elogios e presentes. Após a reunião, João Pedro Stédille afirmou que “o time dos latifundiários vai ser derrotado. O governo joga no nosso time“.

O governo declarou que não ia pedir trégua ao MST. Ao final da reunião, Gilmar Mauro declarou: “sobre as massas do MST nós temos controle. Mas há outros movimentos sociais“. A reunião ocorreu em meio a um forte acirramento no campo. Até 23 de junho, os sem-terra tinham ocupado 128 propriedades, mais do que as 103 de 2002. Segundo o Incra, atualmente 149 mil famílias estão acampadas a espera de assentamentos. Os sem-terra também ocuparam sedes do Incra e postos de pedágios e saquearam caminhões com alimentos.

A reação do latifúndio ao aumento das ocupações foi imediata. Além de ameaças aos acampados e até assassinato de lideranças, desde o início do governo os fazendeiros têm se organizado para evitar ocupações e garantir o cumprimento dos 338 mandados de reintegração de posse em 22 estados.

Esta “organização“ inclui armamento e milícias. Em São Gabriel (RS), ruralistas foram além. Um panfleto distribuído na cidade estimulava o “povo de bem“ a combater os “ratos“. Além de tiros, também sugeria aos ruralistas que despejassem gasolina nos acampamentos. “Haverá sempre um cigarro aceso para terminar o serviço“, concluía o panfleto assassino.

Enquanto isso, Lula pede paciência aos sem-terra. O presidente da Contag, Manuel dos Santos, reflete o que vem sendo o esteio das últimas ocupações: “não dá mais para a gente segurar os trabalhadores com um ‘vamos aguardar’“. O que expressa que a paciência dos trabalhadores rurais parece ter se esgotado.

O governo encolheu o orçamento da reforma agrária de R$ 462,6 milhões para R$ 162 milhões. Da meta de 60 mil famílias assentadas, anunciada para 2003, o ministro Miguel Rosseto, do Desenvolvimento Agrário, só assentou 4.810 até agora – menos de 5%. Rosseto admite que a reforma agrária está lenta. Mesmo que use o orçamento que reservou, o governo só poderá assentar pouco mais de 20 mil famílias até o fim do ano, muito distante dos 90 mil pedidos pelo MST e mais ainda das 149 mil famílias acampadas por todo o país.

O ministro da Agricultura, o latifundiário Roberto Rodrigues, saiu a público em defesa das ações armadas contra as ocupações: “Quem tem terras deve defendê-las, senão não merece tê-las“. Já o ministro da Justiça afirmou que contratar jagunços é ilegal, mas empresas de segurança, não.

O governo deve agir de forma imediata no sentido de desarmar o latifúndio ou só haverá morte de um dos lados: o dos trabalhadores rurais. Se o governo “joga no time“ deve demitir os dois ministros que alentam o assassinato de trabalhadores rurais. Esse time jamais ganhará esta partida tendo jogadores fazendo “gol contra“ e alentando o inimigo.
Post author Gustavo Sixel,
da redação
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