Bancada do PT sofre profundo desgaste para obedecer ao presidenteNão foi Renan Calheiros (PMDB-AL) nem Fernando Collor (PTB-AL). Quem enterrou de vez os processos contra José Sarney (PMDB-AP) no Senado foi Lula. Partiu do Planalto a ordem para os senadores petistas no Conselho de Ética votarem a favor do arquivamento definitivo das denúncias contra o presidente da Casa.
O conselho negou, no último dia 19, o desarquivamento das 11 denúncias contra Sarney. Como prova do acordão entre a base aliada do governo e a oposição de direita, aprovou também o arquivamento definitivo da denúncia contra o senador tucano Arthur Virgilio, com os votos do próprio PMDB, o mesmo que protocolou a denúncia.

Crise no PT
A decisão de Lula provocou uma profunda crise na bancada petista. Vários senadores do partido no Conselho de Ética viviam um dilema. Não um problema ético, mas eleitoral, como a senadora Ideli Salvatti (PT-SC), candidata ao governo de Santa Catarina, ou Delcídio Amaral (PT-MS), de olho no governo de Mato Grosso do Sul. O voto a favor de Sarney pode dificultar tais pretensões eleitorais.

O senador do Paraná Flávio Arns chegou a declarar sua saída do PT após se dizer “envergonhado” com o partido. O próprio líder da bancada, Aloizio Mercadante (PT-SP), candidato à reeleição, caiu em desgraça ao protagonizar várias manobras desastrosas para não ir contra o governo nem contra a opinião pública. Não conseguiu nem uma coisa nem outra. Sua ideia original era desarquivar pelo menos uma denúncia contra Sarney para não ficar tão mal perante os eleitores, mas nem isso Lula permitiu.

“Centralizado” e desautorizado pelo Planalto, Mercadante anunciou publicamente sua renúncia da liderança do partido em caráter “irrevogável”. Horas depois, porém, voltou atrás e virou piada nacional. A imagem dos senadores petistas votando envergonhados a favor de Sarney no Conselho de Ética, fora do microfone e longe das câmeras, expressa o que é hoje o partido, que contabiliza ainda o enorme desgaste que a decisão trouxe.

O fundo do poço é ainda mais fundo
O acordão entre governo e oposição para tentar salvar a imagem do Senado foi escancarado. Sarney ainda está no posto, mas cada vez mais fragilizado. O desgaste da Casa cresce entre a população, assim como a percepção de que, entre governo e oposição, não há diferença.

Comprovando, porém, a falta de ligação entre o Senado e qualquer pressão ou reflexo da opinião pública, os senadores mostram não ter limites. Tramita uma proposta para limitar os poderes do Conselho de Ética, que perderia a possibilidade de cassar mandatos. Já o próprio Sarney defende a pura e simples extinção do conselho.
Os senadores se convencem a cada dia de que o Conselho de Ética só serve para atrapalhar. A mesma opinião que a população tem tido sobre o Senado.

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