Milhões de trabalhadores que acreditavam em Lula, neste momento, estão em dúvida. Ficaram em choque com as inúmeras denúncias de corrupção. Já chegaram à conclusão de que o governo e o PT estão metidos na roubalheira. Ainda assim, têm dúvidas se Lula sabia, e se ele está mesmo metido em toda a lama.

O governo está fazendo de tudo para alimentar a fábula de que Lula não sabia de nada. Primeiro, comprou abertamente parlamentares para que retirassem suas assinaturas do pedido de CPI. Depois, foi se livrando das figuras que ficavam mais expostas, quando as denúncias tomaram uma dimensão gigantesca. José Dirceu teve que renunciar, e agora toda a cúpula do PT (Genoino, Silvio Pereira, Delúbio) foi sacrificada, para tentar preservar Lula.

A oposição burguesa, com o PSDB e o PFL à cabeça, também não quer derrubar Lula. Quer enfraquecê-lo, para retomar o governo em 2006. Não quer afetar o plano econômico, nem que ocorra um cenário parecido com o da Bolívia ou do Equador.“Do ponto de vista da capacidade de governar e da governabilidade, inegavelmente [Lula] está enfraquecido. Mas não podemos querer que o governo acabe agora”, declarou José Serra, um dos pré-candidatos do PSDB à presidência.

As pontas começam a aparecer

A blindagem ao redor de Lula começa a cair. Um de seus filhos, Fabio Luís, até o fim de 2003 era um biólogo subempregado. De repente, tornou-se um empresário muito bem-sucedido, sócio de uma empresa que, logo depois de formada, recebeu uma injeção de capital de RS 5,2 milhões da Telemar, maior empresa de telefonia do país. A Telemar tem como alguns de seus maiores acionistas os fundos de pensão como a Previ (Banco do Brasil) e Petros ( Petrobras), controlados por Luís Gushiken, ministro e amigo de Lula.

Outro filho do presidente, ao longo de 2004, teria usado um cartão de crédito (pouco mais de R$ 115 mil) da agência de publicidade DNA, de Marcos Valério, o operador do mensalão. O cartão teria débito automático autorizado numa conta corrente de Valério no Banco Rural.

Essas denúncias não ganharam a primeira página dos jornais ou destaque na TV. A CPI nem pensa na possibilidade de convocar Lula para depor. Nos bastidores, teme-se que surjam documentos comprovando que Delúbio, Valério e Cia., tenham pago alguma conta de Lula, depois que ele se tornou presidente.

As desculpas dos corruptos pegos em flagrante são absolutamente descaradas. Genoino “assinou sem ler” um empréstimo de R$ 2,4 milhões. Seu irmão “não sabe como” seu assessor arrumou tanto dinheiro, e nem porque o escondia na cueca. O PFL “não tem nada a ver” com o deputado João Batista pego com R$ 10 milhões.

A mentira construída ao redor de Lula, que ele não sabia de nada, tem o mesmo grau de cinismo. Como se armou um esquema de corrupção desta dimensão sem que Lula soubesse?

A movimentação de dinheiro só nas contas das empresas de Valério deve ultrapassar R$ 3 bilhões, batendo o recorde de PC Farias, que era de R$ 2,5 bilhões. Seguramente se trata apenas de uma das pontas da corrupção, que deve ser bastante superior. É impossível montar um esquema dessa dimensão sem envolver diretamente o governo federal.

Apesar dos esforços do PT e da oposição burguesa, fica cada vez mais claro, aos olhos da população, que Lula sabia da podridão em seu governo. Na última semana, a revista Veja divulgou uma pesquisa mostrando que 55% dos entrevistados acreditam que Lula sabia sobre a corrupção.

Lula não só sabia de toda esta corrupção, mas fez parte de todo esse plano. Difícil é acreditar no contrário, que Lula era um bobo ingênuo, traído por ministros e aliados. Ele é o dirigente do governo, assim como do PT, tanto na política concreta como na corrupção. Mesmo aqueles que ingenuamente acreditam que “está bem, Lula deixou correr, mas não ganhou nada pessoalmente”, agora vão ter que explicar o enriquecimento súbito de seus filhos.

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