Uma pizza muito mal cheirosa está sendo assada em Brasília. Partidos ligados ao governo e à oposição burguesa preparam um grande acordão para dar fim à crise política. Todos querem varrer a sujeira para debaixo do tapete e livrar a cara de suas legendas e parlamentares corruptos. Na última semana, porém, houve mais uma crise para encaminhar o acordão depois que o presidente da Câmara, Severino Cavalcanti, defendeu que nenhum deputado envolvido nos escândalos tivesse seu mandato cassado. As declarações causaram polêmica entre os deputados e serviram para acelerar o acordão dentro das CPIs.

O acordão caminha a passos largos
As lambanças de Severino serviram como desculpa para apresentá-lo como o único personagem que procura uma acordão no Congresso. Dessa forma, políticos, partidos e a grande imprensa buscam opor as manobras de Severino às investigações “sérias e honestas” das CPIs dos Correios e do Mensalão. Trata-se de uma tremenda cortina de fumaça, cujo objetivo é esconder o acordão que se prepara entre PSDB, PFL e PT.

O relator da CPI dos Correios, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), sugeriu em seu relatório a cassação de 18 parlamentares que constam da lista dos que sacaram recursos das contas de Marcos Valério. Ora, o próprio Serraglio sabe que há muito mais parlamentares envolvidos nos esquemas de corrupção. Ele mesmo disse, quando viu a lista com mais de 128 deputados que teriam usado as contas de Valério, que o material era “pólvora pura”. A lista, no entanto, desapareceu. O relator da CPI dos Correios também deixou de fora o senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG). Apenas 18 parlamentares são passíveis de cassação. Azeredo recebeu dinheiro de Marcos Valério para sua campanha à reeleição ao governo de Minas Gerais em 1998. A lista dos “bois de piranha”, como já está sendo chamada, estabelece um teto para a cassação que poderá ser reduzido quando for levada à votação no Plenário da Câmara.

Nem as últimas revelações escandalosas foram incorporadas no relatório, como as sobre o assassinato de Celso Daniel, ex-prefeito de Santo André (ver página 5), as denúncias que atingem diretamente o presidente da República, como o súbito enriquecimento do seu filho e o pagamento do empréstimo que o PT fez a Lula, e os escândalos de corrupção que envolvem Palocci e seu assessor. Bancos, empresas e corruptores de toda a espécie nem sequer são mencionados no relatório. Como num passe de mágica, tudo isso desapareceu.

Lula operou diretamente a articulação desse acordão. Compromete-se, inclusive, a entregar de bandeja a cabeça de José Dirceu, condição fundamental para o acordo. Não foi à toa que o relatório deixou Lula tão feliz que ele chegou a telefonar para Renan Calheiros (PMDB-AL), presidente do Senado. Elogiou-o por ter articulado a aprovação do relatório conjunto das CPIs dos Correios e do Mensalão.

Uma mala puxa a outra
PSDB e PFL dão mostras de que estão satisfeitos com o desgaste de Lula e que não querem derrubá-lo, mas sim empurrar tudo para as eleições de 2006. Pretendem também reforçar a blindagem do ministro Palocci, envolvido na lama até o pescoço, e impedir que a crise contamine o plano econômico neoliberal. A oposição burguesa sabe que a continuidade das investigações pode atingi-la perigosamente. São vários os caminhos para isso. O aprofundamento das investigações nos fundos de pensão das estatais e das contas existentes em paraísos fiscais, por exemplo, revelariam não apenas uma maior podridão do PT, como exporia à luz os esquemas de corrupção dos tucanos e do PFL, dos tempos de FHC. Por isso a pressa.

Explodir o acordão
O movimento de massas deve entrar em cena para explodir o acordo entre governo e oposição. Essa é a única possibilidade de implodir a pizza. Dando seqüência à marcha da Conlutas em Brasília, passeatas chamando o “Fora todos! Fora Lula, Congresso, PT, PSDB e PFL…” serão realizadas nas capitais do país. É hora de ir às ruas e chamar o “Fora Todos!”, para pôr abaixo o acordão.

Escândalos que comprometem PT, PSDB e PFL

Fundos de Pensão
As investigações sobre o mensalão revelaram que recursos dos fundos de pensão das estatais – Previ (Banco do Brasil), Petros (Petrobras) e Funcef (Caixa Econômica Federal) – foram usados para as campanhas eleitorais do PT. As diretorias de todos esses fundos foram indicadas pelo PT e controladas pelo ex-ministro Gushiken, que enriqueceu subitamente.

Durante o governo Fernando Henrique, os fundos de pensão estiveram envolvidos nos corruptos processos de privatização. É bastante conhecida, por exemplo, a participação da Previ, junto com o banco Opportunity, nas privatizações do sistema Telebras. Atualmente os diretores da Previ participam do conselho gestor que controla a empresa que reúne a Brasil Telecom, Tele Norte Leste, Telemig Celular e a Tele Norte Celular. O avanço das investigações poderia comprometer substancialmente os tucanos. Um bom exemplo é do ex-tesoureiro do PSDB, Ricardo Sérgio, que aparece no processo de privatização do sistema Telebras, em conversa com o ex-ministro Luiz Carlos Mendonça de Barros, para favorecer o grupo Opportunity, de Daniel Dantas, que, por sua vez, está duplamente  envolvido: nos esquemas de Marcos Valério e na privatização da Telemig.

Paraísos fiscais
O depoimento do publicitário Duda Mendonça revelou que o PT tinha contas em paraísos fiscais no exterior, e que o partido as utilizava para alimentar o caixa dois nas campanhas eleitorais. As investigações sobre contas de partidos políticos em paraísos fiscais, porém, estão caminhando a passos de tartaruga, uma vez que podem revelar a existência de contas que PSDB e PFL também possuem no exterior.

No início do governo Lula, o PT já dava provas de que não estava interessado em investigar nenhum escândalo relacionado ao governo anterior. Prova disso foi o acordão montado para soterrar as investigações da CPI do Banestado. Na época, a CPI investigava a evasão de US$ 30 bilhões para contas em paraísos fiscais que transitaram por uma agência do Banestado em Nova York. O escândalo atingia, no mínimo, 300 políticos e grandes empresários brasileiros. Os tais políticos envolvidos eram, em sua maioria, do PSDB, do PFL e do PP. O governo petista, entretanto, preferiu abafar as investigações para assegurar a aprovação das reformas neoliberais (como a reforma da Previdência) no Congresso. Agora prepara outro acordão com PSDB e PFL para impedir que mais lama jorre desse chiqueiro.

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