Os defensores do governo Lula costumam dizer que sua política externa é uma expressão de “esquerda”. Chegam a querer se justificar de toda a política de direita aplicada no país, falando que na política externa Lula é “progressista”.

Não é verdade. Muito pelo contrário, a política externa de Lula é uma extensão da mesma submissão ao governo dos EUA que se demonstra nos planos econômicos. Nesta competição desenfreada para ver quem está mais à direita, acreditamos que a política externa ganha, ainda que por pontos.

Uma delegação da Conlutas com dirigentes sindicais de todo o país, militantes do PSTU, do PSOL e independentes, esteve por oito dias no Haiti. Visitou três cidades e conversou com operários(as), camponeses, estudantes e intelectuais. Discutiu com o presidente haitiano, o embaixador brasileiro e o comandante das tropas da ONU. A delegação pôde ter uma visão bastante completa da situação do país.

A conclusão de todos os seus membros é clara e dura: as tropas brasileiras asseguram o plano econômico que está sendo aplicado contra os trabalhadores haitianos. Cumprem o mesmo papel da polícia em uma greve no Brasil. Estão lá para garantir a privatização de todas as empresas estatais que sobraram, anunciada agora pelo presidente. Estão lá para garantir a imposição de um salário de fome de cerca de R$ 100 por mês e reprimir as greves nas multinacionais da zona franca.

A Carta aos Haitianos levada pela comissão da Conlutas diz corretamente que “nenhum povo pode ser livre se oprime outro povo”. É preciso que as entidades sindicais, estudantis e populares de todo o país se somem a esta campanha pela retirada das tropas. Debates devem ser realizados em cada uma dessas entidades. Ao final deles, as entidades devem se posicionar, respaldando e assinando a carta. Para facilitar estas discussões, os membros da delegação se dispõem a fazer palestras sobre sua experiência em todo o país.

É preciso que os setores mais avançados dos trabalhadores e estudantes assumam uma campanha para explicar a todos que é mentira a famosa “missão humanitária” das tropas. Não existe nada de “humanitário” na invasão de um bairro pobre com fuzilamento dos que se oponham. Não existe nada de humanitário na repressão de uma greve. Não existe nada de humanitário em fazer a segurança das grandes empresas para que elas paguem R$ 100 por mês de salário por 12 horas de trabalho diário, sem direito a almoço ou sequer a ir ao banheiro.

É preciso construir um amplo movimento dos que querem libertar o Brasil do imperialismo. Para isso, é preciso não aceitar tampouco que nosso país e os soldados brasileiros sejam usados para oprimir um povo ainda mais explorado, a serviço de Bush.
Post author Editorial do Opinião Socialista nº 305
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