Esposa de controlador revela ao Opinião que substituições realizadas pelo governo aumentaram insegurança dos vôos“A determinação minha para o comando da Aeronáutica é colocar ordem na casa, faça o que tiver que ser feito”. A frase é do presidente Lula em seu programa de rádio semanal “Café com o Presidente”. Mas ela poderia ter sido dita por qualquer general dos tempos da ditadura.

Desta vez Lula autorizou a prisão dos controladores, qualificados como “sabotadores”. Segundo a Folha Online, Lula disse ao brigadeiro Juniti Sato, comandante da Força Aérea Brasileira (FAB), que “a Aeronáutica deve tomar todas as medidas que considerar adequadas para estabelecer o fluxo e a normalidade do tráfego aéreo”. A ordem do presidente liberou a repressão contra os controladores.
As primeiras prisões foram as do presidente e do vice-presidente da Federação Brasileira das Associações de Controladores de Tráfego Aéreo (Febracta), Carlos Henrique Trifílio e Moisés Almeida. Trifílio foi acusado de dar uma entrevista à rádio CBN no último dia 14 sem autorização. Um absurdo, pois a Febracta é uma associação legalmente constituída, não existindo nenhuma restrição a sua organização pelas regras militares.

No último dia 22, a Aeronáutica afastou 14 militares controladores de vôo do Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle do Tráfego Aéreo 1 (Cindacta-1), em Brasília. O local controla 85% da aviação regular do país. A acusação para os afastamentos foi de realização de “operação-padrão velada”, “sabotagem” e insubordinação ao comando militar.

“Nós precisamos manter o bom funcionamento dos aeroportos, a disciplina militar, porque pra isso eles entraram nas Forças Armadas, se formaram sargentos e, portanto, têm que respeitar a hierarquia e cumprir com a determinação que todos os outros brasileiros cumprem”, ditou Lula no programa de rádio.

Tensão
A decisão do comando da Aeronáutica vai piorar ainda mais a situação dos aeroportos, pois não enfrenta os problemas estruturais do setor, que incluem a militarização (resquício da ditadura), os equipamentos sucateados, a falta de pessoal e os baixos salários. Há 15 anos, o número de controladores no Brasil era de 3.200. Atualmente existem pouco mais de 2.300, enquanto o tráfego aéreo no país duplicou no período.

A última ação dos controladores teve início por novos problemas técnicos nos monitores, na terça-feira 19. Segundo os trabalhadores, as imagens não estavam nítidas nas telas. No dia seguinte, ocorreu uma pane no sistema de comunicação da Embratel.

Em nota, a Febracta esclarece que “os atrasos e cancelamentos de vôos no dia de hoje [19/6/2007] nada têm a ver com a chamada ‘operação-padrão’, atribuída aos controladores de tráfego aéreo. O que vem ocorrendo no Cindacta I é o desgaste natural dos equipamentos que estão em uso além de sua vida útil”.
O clima é muito tenso entre os controladores. O Opinião Socialista conversou com a esposa de um deles, cujo nome será omitido por razões de segurança. Segundo ela, o clima no local de trabalho dos controladores é de “terrorismo”. “Há controladores chorando, desgastados emocionalmente, enquanto oficiais ficam ao lado fazendo pressão. A polícia está lá também para prender qualquer um que se recuse a cumprir as ordens. Os próprios oficiais qualificam a situação como uma ‘operação de guerra’”.

Insegurança
Durante a crise, o governo também determinou a substituição dos controladores afastados do Cindacta-1 por profissionais do Núcleo de Controle de Defesa Aérea. A decisão agrava ainda mais a segurança do tráfego aéreo, pois os militares que assumiram o Cindacta 1 não têm experiência em operar o tráfego comercial, já que atuam na defesa aérea.

“Neste final de semana tive a informação de que aconteceram dois ‘quase acidentes’(colisões) entre aeronaves”, revelou a esposa do controlador. “A situação de insegurança é tão crítica que os controladores não deixam ninguém da família embarcar em um avião”, completou.

Uma crise que se arrasta
A última crise aérea teve início no Cindacta-1, em Brasília, no dia 19 de junho. Bem diferente do que a grande imprensa noticia, os controladores não colocam em risco os passageiros, mas apenas passam a cumprir padrões internacionais de segurança, com intervalos maiores entre um vôo e outro, para diminuir os riscos.
Desde o acidente com o Boeing da Gol, que matou todos os passageiros, o governo tem responsabilizado os controladores pelas falhas. Os trabalhadores apontam problemas técnicos, mas não são ouvidos. A principal reivindicação da categoria é a desmilitarização do setor.
A decisão de prender e punir os controladores visa apenas diminuir o desgaste do governo, responsável pela crise aérea. Trata-se de achar um “bode expiatório” para a crise.

Uma solução fácil para Lula. Ao invés de “gastar dinheiro” com contratação e treinamento de pessoal, melhoria do sistema de controle de vôo e aumento dos salários, pressiona os controladores a trabalharem mais e em condições absurdas.
Mas o movimento está longe de terminar. O Opinião apurou que nos próximos dias a categoria vai tomar uma atitude, inclusive com novas paralisações, diante da insegurança dos vôos e das retaliações do governo.

Os movimentos sindical, estudantil e popular devem tomar para si a defesa dos controladores de vôo, votando moções contra a repressão, em defesa de seu direito de greve e em apoio à sua luta.

Post author Jeferson Choma, da redação e Luciana Candido, do Portal do PSTU
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