Marina Silva confirma à imprensa gravidade do desmatamento
José Cruz / ABR

Para presidente, não dá para “culpar ninguém”Em resposta aos dados divulgados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o presidente Lula considerou um “alarde” os números sobre o desmatamento. Na semana passada, o sistema de detecção de desmatamento em tempo real do Inpe, localizou 3.235km² em áreas desmatadas somente nos últimos cinco meses de 2007. Este estudo atinge aproximadamente 40% do desmatamento de fato, ou seja, esse número deve ser ainda maior, podendo chegar a 7.000 km² de área destruída, segundo os especialistas.

A ministra do Meio-Ambiente, Marina Silva, atribuiu ao agronegócio parte da responsabilidade pela destruição da floresta. Lula, contudo, declarou, nesta quarta-feira, 30, que “não dá para culpar ninguém” e que os dados ainda estão em investigação, saindo em defesa dos latifundiários. Ele disse que o anúncio era “como se você tivesse uma coceira e achasse que é uma doença grave”.

A comparação, além de ser simplista, demonstra o descaso do governo com os problemas ambientais. As áreas desmatadas vêm sendo utilizadas principalmente para o plantio de milho e de soja, produtos que tiveram seus preços aumentados no mercado. Isso gera uma corrida do agronegócio por maior produção para, conseqüentemente, ter maior venda. A agropecuária é outra atividade que contribui para o desmatamento.

A facilidade de crédito para os ruralistas também é apontada como causa de desmatamento pelo pesquisador Paulo Barreto, do Instituto do Homem e do Meio Ambiente da Amazônia (Imazon). “Esse dinheiro que vai para a pecuária, pela legislação, não deveria ser utilizado para desmatamento de novas áreas. Porém, como é um dinheiro subsidiado, tem uma tendência que ele leve ao aumento dessas atividades mais do que o normal”, diz em entrevista à Agência Brasil.

O Mato Grosso é responsável pela maior área destruída. O governador Blairo Maggi, aliado do governo, cinicamente, pediu revisão dos números e explicações. O problema é que ele próprio é um dos maiores produtores de soja da região, logo, grande responsável pelo resultado apontado pelo Inpe. Das outras localidades, 81% dos municípios campeões de desmatamento são administrados por partidos aliados do governo federal e pelo próprio PT.

Marina Silva, que estava no Mato Grosso nesta quarta-feira, manteve sua posição depois do “puxão de orelha” que recebeu de Lula. Para ela, os dados não são exagero. Ela fez essa afirmação depois de sobrevoar a região mais atingida. Até então, ela apresentava redução do desmatamento em seu mandato. A situação é tão grave que fez com que a própria ministra tivesse de se posicionar.

Marina foi uma importante ativista da causa ambiental que assumiu o ministério. Travou lutas em defesa da ecologia ao lado de nomes como Chico Mendes. Na sua gestão à frente do ministério do Meio Ambiente, porém, os transgênicos foram liberados, créditos para o agronegócio foram facilitados, foi criado o projeto Gestão de Florestas Públicas para a Produção Sustentável – privatização de áreas públicas da Amazônia – e a construção das duas usinas do Rio Madeira, para citar alguns exemplos.

A luta político-ecológica que precisamos
Nenhuma luta ecológica que não passe pelo combate ao latifúndio, ao agronegócio e às multinacionais terá resultado efetivo. O desmatamento e a poluição só acontecem porque esses setores ganham muito dinheiro. Enquanto a burguesia incentiva os indivíduos a não utilizar sacolas plásticas e a reciclar o lixo, milhares de quilômetros de floresta estão sendo desmatados; as multinacionais liberam milhões de metros cúbicos de gases do efeito estufa.

Se é verdade que é necessário um esforço coletivo para preservar a natureza, é verdade também que enquanto houver latifúndio, negociatas, brigas burguesas para assumir o controle da produção de energia e o agronegócio, nada poderá deter a destruição do planeta.

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