Liberação representa gigantesco ataque ao meio ambiente e aos povos amazônicosNo dia 1º de fevereiro, o ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, anunciou a concessão da licença prévia para a construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, no rio Xingu, próximo ao município de Altamira (PA).

Belo “Monstro”, como tem sido chamada pelos movimentos sociais e pelas populações ribeirinhas e indígenas da região, que se opõem ao grande projeto, será a terceira maior usina hidrelétrica do mundo, com uma capacidade de geração de energia de 11 mil MW. Sendo a maior obra do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), a construção da usina custará aos cofres públicos nada menos que R$ 20 bilhões, para benefício de grandes construtoras como Odebrecth e Camargo Corrêa.

O Projeto de Belo Monte foi originalmente pensado na época da ditadura militar, durante o governo Médici (1970-1974), no auge do desenvolvimentismo econômico que impôs às populações amazônicas grandes projetos que só beneficiaram o grande capital e contribuíram para a destruição acelerada da floresta amazônica e a expulsão de milhares de indígenas e ribeirinhos de suas terras. Foi assim com a construção da Usina Hidrelétrica de Tucuruí e com o projeto Grande Carajás, só para citar dois exemplos.

O objetivo da construção de Belo “Monstro” é fornecer 80% de sua produção energética para a região sul-sudeste, e os 20% restante que ficarão para a Amazônia serão destinados para os projetos de expansão das mineradoras Vale e Alcoa. E o custo socioambiental do empreendimento será devastador para a natureza e para as populações da região do Xingu.

Segundo o próprio Estudo de Impactos Ambientais da Eletrobrás, a construção do empreendimento inundará uma área de cerca de 500 km² (matando milhares de espécies animais e vegetais) e “remanejará” cerca de 12.000 famílias. Além disso, um importante trecho do rio Xingu terá sua vazão diminuída, matando incontáveis espécies de peixe, que servem de alimento e de base para a economia local.
Estudos do professor do Instituto de Energia e Eletrotécnica da Universidade de São Paulo (USP) Célio Bergman mostram que se as 157 hidrelétricas brasileiras fossem repotencializadas e tivessem seu parque tecnológico renovado, não seria preciso construir hidrelétricas, evitando impactos ambientais.

Não são apenas os objetivos e as consequências de Belo “Monstro” que causam indignação. O método autoritário do governo, sem ouvir sequer as populações locais e o Ministério Público Federal, por meio de falsas audiências públicas e desconsiderando relatórios de técnicos do próprio Ibama que afirmam que não seria possível liberar a licença da usina em função de seus “impactos socioambientais imprevisíveis”, demonstram de forma contundente para quem Lula governa. Uma prova do autoritarismo do governo foi a declaração racista do ministro Lobão (Minas e Energia). O ministro disse que “forças demoníacas” tentam atrasar a construção de Belo Monte, numa clara manifestação preconceituosa contra a cultura dos povos indígenas.

Só o que explica mais esse gigantesco ataque ao meio-ambiente e aos povos amazônicos é a ganância de grandes construtoras e multinacionais por aumentar seus lucros. Infelizmente o governo Lula, ao ressuscitar esse projeto da ditadura, se posiciona ao lado dessas sanguessugas, contra os trabalhadores e a vida no Xingu. É importante lembrar que a ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva também foi favorável ao projeto dizendo que “não há como fugir do aproveitamento energético do rio Xingu”.

Só a mobilização independente dos trabalhadores, dos povos da floresta e dos movimentos sociais poderá barrar mais esse ataque ao meio-ambiente e aos povos amazônicos.

Post author William Pessoa da Mota Jr., de Belém (PA)
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