O ano novo não trouxe nenhuma novidade na política do governo Lula, que já começou 2006 cortando verbas de áreas sociais e planejando obras eleitoreiras. A proposta orçamentária do governo para este ano reduz em R$ 5 bilhões as verbas destinadas ao Ministério da Saúde. É o que afirmou o presidente da Frente Parlamentar da Saúde, o deputado Rafael Guerra (PSDB-MG). A partir do dia 10, o Congresso deve retomar os debates sobre o orçamento deste ano.

Apesar da discussão ainda não estar encerrada, um novo corte nas verbas da saúde não seria novidade. Lula, desde o primeiro ano de seu mandato, deu continuidade à política de FHC de apertar o orçamento, cortando inclusive em áreas sociais, para engordar o superávit primário e pagar os juros da dívida. No caso da saúde, em 2005, foram desviados R$ 2,1 bilhões da área para o programa Bolsa Família (que, em tese, não deveria constar na pasta da Saúde), além de um rombo de R$ 1,2 bilhão que o governo deixou de destinar à área. Para o Orçamento de 2006, o governo já havia destinado 30% a menos de verbas para investimentos em saúde do que ano passado. Agora, pretende mutilar ainda mais esses recursos.

Apesar disso e de outros possíveis cortes que poderão ser feitos no orçamento, o governo não economiza em áreas ‘estratégicas´ para melhorar sua imagem até as eleições. No dia 3, Lula anunciou um pacote de obras, que inclui seis usinas hidrelétricas e investimentos em duas ferrovias. Em reunião com ministros, o presidente determinou que as grandes obras das áreas de transporte e de energia são prioridade absoluta. E todas essas obras serão rápidas, com previsão para serem realizadas ao longo deste ano.

Só a construção de ferrovias e usinas hidrelétricas consumirá investimentos de mais de R$ 3,7 bilhões em 2006. Os maiores interessados e beneficiados nesses projetos debatidos pelo governo são as grandes empresas, principalmente as exportadoras, como as de grãos e minérios, que querem economizar no escoamento de sua produção.

Mas, sem dúvida, o maior beneficiário será o próprio Lula. Não é pura coincidência que tais projetos faraônicos tenham ficado na gaveta por três anos e são agora anunciados com prioridade máxima. Esta é mais uma carta na manga de Lula, que usará tais obras nos muitos palanques nos quais ele próprio disse que pretende discursar para divulgar os feitos de seu governo. Provavelmente, não serão citados entre esses ‘feitos´ os desvios de verbas públicas para pagar mensalões aos deputados. Os discursos de 2006 servirão para tentar passar uma borracha nos escândalos de 2005.