Na tarde desta quinta-feira ocorreu um painel com o historiador e membro da direção nacional do PSTU, Valério Arcary. O painel debateu os rumos do governo Lula e reuniu cerca de 350 pessoas na Tenda Socialista. “Esse tema é um tanto incômodo para o Fórum, não há disposição do governo Lula de ouvir críticas” iniciou Arcary.

Valério questiona os setores que caracterizam o governo Lula como um governo em disputa. Para isso ele afirma que são insuficientes as análises que partem de critérios isolados do governo, por exemplo, sua política externa. Arcary refuta essa análise partindo da ação do governo Lula na invasão americana ao Iraque. “O governo Lula sequer foi contra a invasão, mas apenas a lamentou, assim como o Vaticano” diz. Recentemente a ONU aprovou a partilha do Iraque, com apoio inclusive de países que foram contra a guerra como Rússia e China. “O governo Lula poderia ter sido contra, mas a diplomacia brasileira achou melhor ficar em silêncio”, reforça Valério.

A segunda demonstração do verdadeiro caráter do governo, partindo de sua política externa, ocorreu quando Kirchner, presidente da Argentina, declarou moratória. “O Itamaraty se omitiu diante da moratória, e depois ainda vem falar em Mercosul”, afirma.

A caracterização do governo Lula como sendo um governo em disputa não é exclusividade da esquerda petista. “A Fiesp acha que o governo está em disputa, até mesmo a Opus Dei (organização católica ultra-conservadora) acha isso. Tudo na vida está em disputa, pois tudo que existe tem contradições. Quando se fala isso na esquerda está se insinuando que há um pólo dos trabalhadores no poder. Mas a natureza dos conflitos internos do governo não demonstra isso”.

De acordo com o Valério, a forma com a qual se analisa um governo na sua totalidade é avaliando sua natureza de classe. “Que segmentos de classe estão sendo beneficiados e que segmentos estão sendo punidos? Por que o Zé Rainha está preso e o Maluf está solto? Esse é o retrato da natureza de classe do governo Lula”, afirma o professor.

Ele também coloca que a política para reajustes salariais é um critério chave. Funcionários de bancos privados tiveram reajustes maiores do que o aumento salarial dos trabalhadores estatais. Isso provém do tremendo esforço que o governo vem realizando para atingir e até superar a meta de superávit primário exigida pelo FMI.

Valério diz não concordar com o título do painel, que seria injusto. “O governo Lula não representa a continuidade da política neoliberal do governo anterior, mas sim seu aprofundamento”.