`FotoEnquanto Bush e Lula se reuniam na Casa Branca, soldados americanos continuavam assassinando famílias iraquianas. Não houve interesse de Lula em questionar o “terrorismo de Estado” de Bush, que transformou o Iraque em uma colônia dos EUA.
Lula, fazendo balanço da reunião, disse: “inicia-se uma nova etapa nas relações entre os dois países”. Na verdade, não há nenhum exagero nisso. O que não se disse é que esta nova relação é a pavimentação do caminho que pode nos converter em uma colônia dos EUA, expressa na firme decisão de assinar a Alca. Não foi gratuito o “esquecimento” do Iraque, foi uma opção política.

No plano interno, o governo Lula tenta convencer os trabalhadores de que a colaboração de classes – e não a luta decidida contra a burguesia – pode garantir os interesses dos trabalhadores, e a luta entre as classes foi substituída pela “parceria”.

Em nível internacional, em plena ofensiva recolonizadora do imperialismo contra os povos do mundo, Lula considera o momento como ideal para construir uma relação ainda “mais perfeita” com o imperialismo. Ele acha que pode aperfeiçoar o que foi feito por Collor e FHC?

Segundo Lula, agora será diferente: tudo se baseia em uma profunda “convicção de propósitos” dos países. A luta contra o imperialismo pode ser substituída por uma relação “civilizada” entre chefes de Estado.

O imperialismo, que é a expressão da barbárie que acabamos de assistir no Oriente Médio, pode construir uma relação baseada na “civilidade” com o Brasil? Não. O que se viu foi a reafirmação de uma relação “servil”, em que Lula incorporou toda a agenda do imperialismo americano, em troca de migalhas para as exportações dos latifundiários brasileiros ao mercado dos EUA.

O “sim” `a Alca

Não foi mera coincidência o fato de que ao mesmo tempo em que Lula dizia “sim” ao calendário da Alca, uma reunião ministerial da OMC no Egito constatava a crise da rodada de negociações.

A chamada “Rodada de Doha” tem como eixo a abertura do mercado agrícola dos países imperialistas, em troca de aprofundar a abertura do mercado de serviços dos países periféricos.

Com duas negociações em curso sobre temas similares, a política inicial dos EUA foi atar o tamanho da abertura de seu mercado agrícola ao Brasil e Argentina, ao grau de abertura que fariam os europeus.

A abertura do mercado agrícola da Europa para a exportação estadounidense, pode compensar a entrada de produtos agrícolas brasileiros nos EUA.

Mas a União Européia não consegue chegar a um acordo sobre a redução dos 50 bilhões de dólares de subsídios dados a seus agricultores, nem sobre em que grau abrirá o mercado agrícola. O go-verno francês não está disposto a enfrentar a mobilização dos camponeses, em meio à luta do funcionalismo contra a reforma previdenciária.

Neste quadro, não existe outra alternativa para os EUA do que trazer para as negociações da Alca os pontos que tinha remetido à OMC – barreiras não tarifárias e agricultura – acelerando desta forma a Alca e desvinculando-a de um possível fracasso na OMC.

A razão de fundo de Bush para uma reunião de cúpula com Lula foi a retomada com tudo do calendário da Alca. A intenção de abertura do mercado agrícola fica clara no acordo que prevê a padronização das chamadas normas fitossanitárias, que abriria o caminho para aumentar a exportação dos latifúndios brasileiros.
Os EUA também deram sua benção para que a burguesia brasileira participe da “farra do boi” na África. Empresas brasileiras querem sua parte na rapina no continente, como é feito em Angola, principalmente no setor de construção.

Alca e “integração regional”

Entre os que lutam sinceramente contra a Alca, muitos tinham ilusões de que a política externa de Lula, de prioridade ao Mercosul e integração regional, fosse uma alternativa. O Ministério das Relações Exteriores chegou a ser apresentado por amplos setores da esquerda como trincheira de resistência contra a agenda neoliberal aplicada no país.

Na verdade este seria o primeiro governo que funcionaria com tal critério. Pois a política exterior, mais do que um assunto de governo, expressa interesses de Estado e, em definitivo, interesses da classe que o controla: a burguesia.
Como a política interna do governo está adequada aos interesses do grande capital, vide a reforma da Previdência, lei de falências, reformas tributária e trabalhista, a política externa não poderia ser diferente. Afinal de contas, o Estado aplica uma política centralizada.

O próprio Amorim já tinha dito que o fortalecimento do Mercosul não era uma alternativa à Alca. Mas as declarações de Lula em Washington foram ainda mais categóricas ao afirmar que o Mercosul e a integração sul-americana “podem se converter em um bom negócio para as empresas americanas”.

Demonstrando a serviço de quem está a “integração regional”, Lula buscou convencer as “empresas privadas e fundos de pensão que invistam neste projeto, em especial as companhias americanas que já se mostraram interessadas”.

Não houve exagero da imprensa burguesa ao noticiar que “Bush aprova plano de Lula para liderar América Latina”, pois o plano não exclui os interesses dos EUA. Ao contrário, reflete a opção estratégica da burguesia com capital instalado no Brasil, de aprofundar sua associação com o amo do norte.

Não era por menos que Furlan, ministro exportador da Sadia, estava exultante com a reunião: “Há por parte dos EUA vontade política de aproximação com o Brasil e o desejo de uma agenda positiva”. Trocando em miúdos: lucros à vista.

Post author João Ricardo Soares,
da redação
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