Em cerimônia de comemoração dos 15 milhões de carros produzidos pela Volkswagen de São Bernardo do Campo (SP) – nesta segunda-feira, 2 de maio – Lula foi vaiado por operários que reivindicavam, entre outras coisas, a correção de 64% no Imposto de Renda (IR). Luiz Marinho, presidente da CUT, também recebeu vaias de protesto. Apesar de ter decidido não participar dos showmícios da CUT ou da Força Sindical durante o dia internacional da classe trabalhadora – festas milionárias promovidas pela burocracia sindical, financiadas pela burguesia e saudadas pelos representantes do Estado, articulados em torno à política de “pão e circo” –, o governo federal não foi poupado de críticas. O evento ocorreu de forma discriminatória – restringindo-se a participação tão somente aos operários da ala 14, incumbidos da finalização do processo produtivo dos automóveis – num claro esforço destinado a evitar a exposição de Lula à totalidade dos operários da fábrica.

Lula, valendo-se do “capital” político acumulado durante os anos em que esteve à frente da luta contra a ditadura militar, saudou a “extraordinária consolidação do processo democrático” que permitiria “inclusive” a participação “dos nossos companheiros trabalhadores, que podem participar do ato e levantar as faixas que, muitas vezes, precisam ser enxergadas por todos nós”. A “democracia” limitou-se ao discurso presidencial, já que após as eleições sindicais – nas quais a oposição de esquerda conquistou 37% da proporcionalidade, elegendo nove diretores – a chapa oposicionista foi recebida pela truculência de sicários e bate-paus contratados pela direção majoritária.

A faixa aludida pelo presidente trazia os dizeres uma vez defendidos pelo próprio, quando dirigente sindical: “Lula, salário não é renda”. A bronca dos trabalhadores – organizados em oposição ao sindicato e à comissão de fábrica – referia-se ao descumprimento da palavra do ex-operário, que sempre defendeu que o salário dos trabalhadores não fosse tributado como renda.

A imprensa burguesa, por outro lado, fez questão de sobrepor – de forma indiferenciada – a reivindicação do presidente da Volkswagen do Brasil, Hans-Christian Maergner, por menor taxação (federal e estadual) sobre exportações; a “reivindicação light” de Marinho, que literalmente alegou que iria poupar Lula após as “queixas” do 1° de Maio, e o protesto da oposição metalúrgica como o que a Folha de S. Paulo considerou um “palco de cobranças ao governo federal”. A burocracia sindical encenou certa “divisão social do trabalho” (sujo, diga-se de passagem), utilizando a fala do presidente do sindicato José Feijoó a favor da renovação do acordo de garantia de empregos pela Volks como elemento de sustentação de Marinho, que foi alvo de vaias ostensivas por conta da política da entrega de direitos, redução salarial e flexibilização da jornada de trabalho.

Visivelmente irritado pela faixa ostentada contra a reforma Sindical e Trabalhista, Lula disse não acreditar que ainda existiam sindicalistas defendendo a estrutura sindical brasileira. Marinho acenou no mesmo sentido, quando num gesto desesperado durante o 1° de Maio, dedicou-se a atacar a construção da Coordenação Nacional das Lutas – a Conlutas –, alternativa classista e combativa que já começa a incomodar os planos dos “super-pelegos”. Na verdade a reforma defendida pelo governo aprofunda o corporativismo e o atrelamento ao Estado, submetendo os sindicatos e as assembléias de categoria ao cupulismo das centrais sindicais, para depois retirar direitos históricos dos trabalhadores.