O presidente George W. Bush desembarcou em São Paulo como se fosse um imperador romano visitando suas possessões coloniais. A cidade toda parou em função de um enorme aparato de segurança que envolvia de helicópteros até artilharia antiaérea. Os deslocamentos da comitiva do senhor da guerra interditaram ruas e provocaram a fúria da população. Era comum ouvir nas ruas insatisfação e revolta. “Deveriam ter evacuado a cidade para que esse traste ficasse mais à vontade”, desabafou uma passageira de um ônibus preso num engarrafamento. Outros ainda falavam da postura do governo brasileiro, que recebeu Bush com toda pompa e circunstância. “Um papelão do governo brasileiro”, respondeu o cobrador à passageira.

Na capital era possível ver vários muros pichados com o “Fora Bush”. Nas avenidas onde a comitiva norte-americana passou, entretanto, as pichações foram cuidadosamente apagadas por funcionários do governo. Aliás, todo o operativo de segurança teve como objetivo criar uma “bolha” para impedir ao máximo o contato com a realidade e, principalmente, com os protestos.

Mobilizações contra Bush…
Em sua visita anterior, há dois anos, Bush teria dito que gostava muito do Brasil porque aqui não havia protestos contra a política imperialista norte-americana. Desta vez, os milhares que foram às ruas de todo o país não só desmentiram o senhor da guerra, mas entoaram um sonoro “Fora Bush”, colocando assim o Brasil no circuito mundial dos protestos antiimperialistas. Protestos que se repetiram em outros países visitados por Bush, como Uruguai e Colômbia. Mas a repressão implacável e o forte aparato de segurança não permitiram que os manifestantes chegassem próximo de Bush.

…e contra Lula
Outra grande marca dos protestos é que eles não se limitaram apenas a chamar o “Fora Bush”. Por todo o país, os manifestantes levantaram também a bandeira do “Fora Lula do Haiti”. Em São Paulo, onde foi realizada a principal manifestação, a haitiana Raquel Dominique discursou para as milhares de pessoas que participaram do ato. Professora da Universidade do Haiti, Raquel está no Brasil com o sindicalista Didier Dominique, com quem percorreu 11 cidades, realizando palestras e exigindo o fim da ocupação das tropas da ONU em seu país.

No ato, Raquel fez um chamado ao governo Lula, exigindo o fim da ocupação militar, classificada por ela como imperialista. A denúncia da ocupação colonial dirigida pelo governo brasileiro provocou constrangimento entre os partidos e entidades governistas presentes no ato, como PT, PCdoB, CUT e UNE. Todos esses setores tentaram preservar o governo e reduzir o caráter político do ato ao “Fora Bush”. Não conseguiram.
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