Mais uma vez, Lula foi traído pelas próprias palavras. Em discurso realizado na tarde do dia 29, quarta-feira, no município de Jaguaré (ES), o presidente admitiu publicamente que acobertou casos de corrupção cometidos pelo governo FHC. Lula afirmou que, logo no início de seu mandato, um “alto companheiro” lhe advertiu que havia recebido do governo anterior uma instituição quebrada pela corrupção. Ante à denúncia do alto funcionário, Lula o mandou que “fechasse a boca”, a fim de se garantir a “governabilidade”.

Cogita-se que o tal “alto funcionário” seja o ex-presidente do BNDES Carlos Lessa. A corrupção seria em privatizações, como a da Eletropaulo. A bombástica declaração de Lula abriu uma crise política no governo e fez emergir a ponta do iceberg de mar de lama.

Língua solta
Essa nova crise do governo Lula irrompe no momento em que o PT vê ameaçada a reeleição de Lula em 2006. A derrota de Greenhalg para a eleição da Câmara fez acender a luz amarela do partido. O PSDB, principal partido da “oposição” de direita, esteve por trás da vitória de Severino e já articula os próximos movimentos para retomar o controle do governo. Não é por acaso o súbito reaparecimento de FHC na mídia. Com isso, o PT foi obrigado a partir para a ofensiva, e o resultado foi trágico.

No entanto, como atolados num pântano, os dois se agarram e afundam juntos na lama. Lula revelou a sujeira de seu antecessor mas também confessou que acobertou a corrupção para não se indispor com o PSDB durante sua gestão. Os tucanos partiram logo pra cima e entraram com um processo contra Lula. FHC exigiu ‘desculpas ou fatos’. O Ministro chefe da Casa Civil, José Dirceu, que estava na Argentina, retrucou que essa atitude dos tucanos poderia “sair pela culatra”. “CPI`s a gente sabe como começa, mas não como termina” ameaçou Dirceu. Calma demais para ser um mero blefe.

O caso expôs o acordo realizado por debaixo do pano entre PT e PSDB, ainda no período da equipe de transição para a gestão de Lula. Sabendo de todas as falcatruas do governo FHC durante as privatizações, o PT se cala para não bater de frente com o PSDB, o que tornaria mais difícil a aprovação das reformas no congresso.