O então candidato Tabaré Vázquez em visita à Lula
Rose Brasil / Ag. Brasil

Envolto em uma aura de imensa esperança, toma posse em março o governo eleito em 31 de outubro de 2004, encabeçado por Tabaré Vázquez, o Lula uruguaioWhisky, filme em cartaz em São Paulo, dá uma idéia de como ficou o Uruguai depois de tantos anos de ditadura militar e governos capachos do FMI. Falência, miséria, paralisia, desesperança.

Mas se o povo uruguaio olhar para nós, brasileiros, verá que com o novo governo esse retrato não vai mudar. O programa da Frente Ampla, no qual depositou toda a sua esperança, foi rebaixado para agradar a gangue do FMI. Deixou de lado bandeiras históricas dos trabalhadores como o não-pagamento da dívida externa, a reforma agrária e a luta pela defesa das fontes de água, problema crucial no Uruguai. Até mesmo a luta mínima por aumento de salários para a aquisição da cesta básica, uma das primeiras bandeiras do programa das organizações que formaram a Frente Ampla, foi abandonada.

Assim como ocorreu com Lula, o programa econômico de Vázquez foi previamente supervisionado e aprovado pelo FMI. O próprio Tabaré tem Lula como sua referência de governo. Tanto que já escolheu o seu “Palloci”. Danilo Astori, muito bem visto pelo FMI, será seu ministro da Economia.

Ele já se comprometeu a pagar a dívida de US$ 12,5 milhões e a respeitar o capital multinacional, tornando impossível o cumprimento das medidas mais urgentes para tirar o país do abismo.

Na política externa, quando o Brasil enviou tropas ao Haiti, a bancada de esquerda da Frente Ampla no Parlamento votou contra enviar tropas uruguaias, argumentando que essa era uma base imperialista para atacar a Venezuela, Colômbia e Cuba. Mas há 15 dias, como esses parlamentares passaram para o outro lado e agora fazem parte do governo, toda a Frente Ampla votou enviar tropas ao Haiti.

`FotoFrente Ampla, uma história de colaborações
Formada em 1971, a Frente Ampla aglutina desde o Partido Socialista do presidente eleito, até o Movimento de Libertação Nacional, formado em 1985 pelos ex-guerrilheiros tupamaros, passando pelos stalinistas, os democratas-cristãos e diversas organizações burguesas. A política de formar a Frente Ampla foi impulsionada pelo Partido Comunista Uruguaio, na época um dos mais importantes PCs do mundo. Era uma tática para levar os trabalhadores a formar uma unidade com a burguesia e assim evitar que criassem uma organização revolucionária independente para fazer a revolução socialista.

A experiência do povo uruguaio com a Frente Ampla não é inédita. Em 1989, Tabaré Vázquez foi eleito para a prefeitura de Montevidéu. Além da capital, essa é praticamente a única grande cidade do país e o que ele fez como prefeito, governando para o grande capital, é um indício do que vai fazer como presidente. Nesses anos todos, a Frente Ampla fez acordos com os partidos burgueses, permitindo que o mafioso governo de Jorge Batlle desse carta branca às multinacionais e afundasse o país no pântano.

Isso deixa os trabalhadores e o povo uruguaio diante da necessidade de sair urgentemente do torpor criado pela ilusão nesse novo governo para construir uma organização independente que lute sem tréguas contra esses planos que só vão aprofundar a miséria e a entrega do país ao imperialismo.

Tupamaros: da guerrilha às eleições burguesas

A adesão da ex-organização guerrilheira Tupamaros, que foi uma das mais importantes da América Latina, foi decisiva para dar um matiz de esquerda à Frente Ampla e levá-la a conquistar maior apoio entre os trabalhadores e estudantes uruguaios. Essa organização pregava a luta armada contra o regime militar nos anos 1970 e teve inúmeros militantes presos, torturados e assassinados.

Como ocorreu no Brasil com várias organizações de esquerda que formaram o PT e passaram a aceitar o domínio do capital estrangeiro e assumiram cargos no governo Lula, os ex-tupamaros estão ajudando a desviar para o caminho da democracia burguesa importantes processos revolucionários.

Em debate realizado no último Fórum Social Mundial, Jorge Zabalza, ex-dirigente dos Tupamaros, que rompeu com estes nos anos 90, lembrou: “Os velhos guerrilheiros que convocaram as pessoas a morrer, pegar em armas, passar por tortura, a estar desaparecidos até hoje em dia, deram o braço ao imperialismo, ao grande capital e a direita (…). No Uruguai se ganhou o governo por pouco mais da metade dos votos.
O povo foi o protagonista, encheu as ruas, fez o maior ato público já visto na história do no final da campanha eleitoral. Mas os burgueses também têm grandes expectativas no novo governo. Não expulsaram os grandes capitais, a Bolsa de Valores continuou funcionando tranqüilamente, o dólar continuou como estava, o risco país caiu, o FMI e o Banco Mundial se sentem sócios do novo governo”
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