No dia 20 de junho, em Washington, os dois co-presidentes das negociações para formação da Área de Livre Comércio das Américas, Luís Inácio Lula da Silva e George W. Bush, assinaram um comunicado conjunto para instalação da ALCA em janeiro de 2005Depois do “espetáculo das relações perfeitas“ com os EUA, alguns setores tentaram minimizar o comunicado conjunto, dizendo que este não significou nenhum recuo ou que não teve qualquer significado.

Um dos que sustentam essa versão é o embaixador brasileiro nos EUA, Rubem Barbosa. Fiel escudeiro do time de FHC, ele, em entrevista na revista IstoÉ, agarra-se ao termo “exitosa“, que consta no comunicado que se compromete com a “conclusão exitosa (grifo nosso) das negociações para uma Área de Livre Comércio das Américas até janeiro de 2005“.

Mas é tentar tapar o sol com a peneira ou não querer enxergar a realidade negar que tal reunião atendeu aos objetivos de Bush, de aceleração da Alca.

O governo brasileiro aceitou participar de reuniões extraordinárias – além da Cúpula Ministerial de novembro, em Miami – que vão acelerar as negociações. Uma delas, a chamada “mini-ministerial“, já ocorreu em Maryland (EUA), reunindo 14 dos 34 países que negociam a Alca. O objetivo dela foi acelerar as negociações e avançar numa proposta comum, sem a participação de países que têm maior resistência ao acordo.

O Brasil concordou com a proposta dos EUA de realizar uma cúpula presidencial, que incluirá os temas Alca e terrorismo, em dezembro. Esses encontros visam cumprir o calendário para implantação da Alca em 2005.

A Alca, os acordos bilaterais (como o que os EUA fizeram com o Chile) ou um acordo com o Mercosul (chamado de 4 mais 1) são parte também da estratégia de fortalecimento das propostas dos EUA no âmbito das negociações da OMC.

Bush quer o acordo bilateral com o Chile, a anexação do Mercosul e a aceleração da Alca também para reforçar sua hegemonia mundial.

E, ao contrário do que dizem lideranças petistas sobre a “alternativa“ Mercosul em oposição à Alca, o Mercosul é uma via para a Alca. O Brasil, inclusive, tem usado os países menores (Argentina, Paraguai e Uruguai) como moeda de troca nas negociações com Bush para favorecer setores exportadores da burguesia brasileira.

Também com os países da Comunidade Andina (Colômbia, Venezuela, Peru, Bolívia e Equador), Lula estimulou acordos com os EUA antes da consolidação da Alca. No dia 27 de junho, em reunião da Comunidade Andina na Colômbia, afirmou: “defendemos para as negociações da Alca um enfoque pragmático, deixando a cada país ou grupo de países, que assim o desejem, a liberdade de fazer concessões mais profundas de forma bilateral. Nossos interlocutores em Washington têm demonstrado compreender a necessidade de um enfoque deste tipo.“

Muitos setores honestos e lutadores não querem acreditar que esse cavalo de tróia possa estar sendo trazido para dentro do Brasil pelas mãos do governo Lula. Ademais, porque consideram o Itamaraty e a política externa a parte “mais progressista“ do governo.

Mas, mesmo possíveis contradições existentes no governo e na burguesia não mudam o fato de que a política deste governo é uma totalidade, na qual se inclui o Itamaraty. Ela responde aos interesses da burguesia e seus negócios. E a burguesia brasileira quer a Alca.

Nisso, segue valendo a análise do professor Reinaldo Gonçalves: “no combate à Alca, se é verdade que a potência norte-americana é um forte adversário, é ainda mais verdadeiro que as elites econômicas e classes dirigentes nacionais são os principais inimigos“ (Boletim PACS nov 2002).
Post author David Cavalcante, de Recife (PE)
e Mariúcha Fontana, da redação
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