Por essa ninguém esperava. Coroando mais um esdrúxulo capítulo da novela da reforma ministerial, o governo empossou neste dia 29 de março os novos nomes do Ministério do Trabalho e da Previdência Social.

Luiz Marinho, atual ministro do Trabalho e ex-presidente da CUT, assume o ministério da Previdência no lugar de Nelson Machado. Tal rearranjo se dará para deixar Marinho realizar o trabalho sujo da reforma, abrindo espaço para o presidente do PDT, Carlos Lupi, no Trabalho. Desta forma, o governo compra o apoio do partido “trabalhista” em troca de um ministério com inúmeros cargos políticos para abrigar seus integrantes. “As delegacias regionais do Trabalho vão passar para o controle do PDT”, afirmou sem qualquer constrangimento o novo ministro.

A pressão para Lupi assumir o ministério veio principalmente do deputado federal Paulinho Pereira (PDT), da Força Sindical. Apesar do protesto da CUT para manter Marinho, o ministério do Trabalho foi parar nas mãos da Força, a central construída durante o governo Collor para combater a então oposicionista CUT.

A Central Única dos Trabalhadores, através do Ministério do Trabalho, tinha o poder de obter com facilidade registros sindicais para entidades fantasmas. Desta forma, nos sindicatos em que a Articulação (PT) perdia as eleições, como nos sindicatos dos metalúrgicos em Volta Redonda (RJ) e em São José dos Campos (SP), a central fundava uma nova entidade sob sua direção, com a ajuda do Ministério.

Marinho cuidará da Reforma da Previdência
No entanto, a principal razão para Lupi ter assumido o Trabalho foi para deixar Marinho cuidar da Previdência. O presidente faz questão de ter um ministro de sua total confiança para aplicar a reforma da Previdência no próximo período, assim como o então ministro Berzoini fez em 2003 no setor público. A reconhecida fidelidade canina de Marinho a Lula não coloca em risco o projeto do PT e do FMI de desmonte da Previdência.

“É preciso dar a conta da Previdência Social. E pensei que era o Marinho [a pessoa certa para ir para a Previdência] porque ele tinha perfil. Tirei ele do Trabalho com a certeza de que se ele imprimir no Ministério da Previdência o mesmo ritmo de trabalho e seriedade que imprimiu em São Bernardo, na presidência da CUT, (…) ela [Previdência] vai ser consertada”, afirmou Lula durante a posse dos novos ministros. “Eu assumo a tarefa, assumo a missão e vamos trabalhar para dar conta da expectativa do presidente”, respondeu com obediência militar o ex-presidente da CUT.

Marinho afirmou ainda que apoiará a proposta elaborada pelo chamado Fórum Nacional da Previdência Social, o órgão instaurado pelo governo para elaborar uma proposta de reforma. A previsão é que o Fórum conclua os trabalhos até agosto de 2007.

Farsa do Fórum e falência da CUT
Na verdade, o fórum não passa de uma estratégia do governo para diluir o desgaste com uma reforma que vai atacar direitos. Com representantes do governo, das centrais como CUT e Força Sindical e de empresários, o Fórum vai apresentar uma proposta de reforma como um “consenso” entre os vários segmentos sociais, mas que na verdade representará a orientação do governo Lula e do FMI.

A posse de Marinho visa assegurar esse caminho. Atesta também a completa falência da CUT como instrumento de luta, sendo hoje um sustentáculo para a aprovação das reformas neoliberais.

Entre as reformas preparadas pelo governo Lula, a da Previdência é a mais adiantada. Mais do que uma séria ameaça, ela está em franco processo de implementação, mostrando a importância do Fórum Nacional de Mobilização e do calendário de lutas aprovados no Encontro Nacional de 25 de março.