Candidatos oferecem mundos e fundos para se elegeremNeste dia 1° de fevereiro, será realizada a eleição para a presidência da Câmara de Deputados, cargo com enorme poder político e financeiro. Mais uma vez, o processo é marcado por grandes negociatas envolvendo loteamento de cargos e liberações de verbas do governo para os parlamentares. Um show de corrupção em plena luz do dia, sem o menor constrangimento.

Os candidatos que concorrerão ao cargo são o petista Arlindo Chinaglia (apoiado pelo PT, PMDB, PP, PTB, PL, Prona e PSC), o atual presidente da Câmara Aldo Rebelo (apoiado pelo PCdoB, PFL, PSB e PMN) e o tucano Gustavo Fruet (apoiado pelo PSDB e o PPS).

A disputa pelo cargo entre dois líderes governistas (Aldo e Chinaglia), apoiados pelos principais partidos do Congresso, expressa um peso maior de Lula na instituição após a vitória eleitoral em outubro e a adesão do PMDB à coalizão governista. Por outro lado, entretanto, a disputa pela Câmara tem direta relação com a reforma ministerial do governo. Tanto é assim que o presidente Lula adiou a formação de seu gabinete para depois da eleição. Em suma, há uma disputa nos bastidores, entre os partidos governistas (especialmente entre PMDB, PT e PCdoB) pelos cargos ministeriais. Isso explica a cautela de Lula ao não declarar apoio a Aldo ou a Chinaglia e ainda dizer que os considera “seus filhos”. Dessa forma, tenta evitar algum racha na base governista.

Feirão de cargos
A prudência de Lula, porém, não impede que ocorra uma forte e acirrada disputa entre os candidatos. Todos, é claro, fazem do Congresso Nacional um enorme balcão de negócios. Corredores e gabinetes são os principais pontos de conchavos e loteamento de cargos.

Há ministérios sendo disputados por até três candidatos. Segundo o jornal Valor Econômico, membros da cúpula do PMDB fizeram um balanço e descobriram 15 ministros “nomeados” por Chinaglia. O petista tentou obter o apoio até do PSDB, prometendo cargos na mesa da Câmara para parlamentares tucanos ligados aos governadores de São Paulo (José Serra) e Minas Gerais (Aécio Neves). O lançamento da candidatura de Gustavo Fruet, contudo, obrigou os tucanos a voltarem atrás. Uma manobra que também ajudou a candidatura de Aldo.

Tudo indica que as eleições seguirão polarizadas entre Aldo e Chinaglia, que tentarão até o fim atrair o apoio dos picaretas.

Inimigos do povo
Os três candidatos em disputa têm um amplo currículo de medidas antipopulares. Chinaglia e Aldo foram articuladores políticos do governo no Congresso e votaram em propostas contra o povo, como a reforma da Previdência, a liberação dos transgênicos e o Supersimples (projeto que dá o pontapé inicial no desmonte das leis trabalhistas).

Recentemente os dois defenderam o vergonhoso aumento de R$ 24.500 para os salários dos deputados federais. Eles também apóiam os novos ataques que o governo prepara – as reformas trabalhista, que visa acabar com férias, 13° salário, etc., e previdenciária, que pretende elevar a idade mínima da aposentadoria para 65 anos.
Gustavo Fruet, por sua vez, é o candidato da oposição burguesa tucana. Seu discurso de “ética na política” é uma falácia. Nos oito anos em que esteve no governo, o PSDB loteou cargos e comprou deputados, assim como o PT hoje.

Covil de trambiqueiros
Não é nenhuma novidade que o Congresso é a casa dos picaretas e poderosos. Toda semana são aprovadas leis contra os trabalhadores e a favor dos empresários. A divulgação do financiamento das campanhas dos parlamentares expõe com toda a clareza o espúrio financiamento das campanhas eleitorais. A próxima legislatura será dominada por bancadas de empresas como a Vale do Rio Doce, Camargo Corrêa e Itaú.

O picareta Inocêncio de Oliveira, acusado de escravizar trabalhadores em suas fazendas, definiu com exatidão o que pensam os parlamentares: “O mais tolo aqui conserta relógio debaixo de água com luva de boxe. Somos um grupo seleto. Os bobos ficaram lá fora”.

É preciso acabar com todos os privilégios dos parlamentares, instituindo o fim dos foros privilegiados e dos sigilos bancário e fiscal. Deputados e senadores devem receber salários proporcionais aos dos trabalhadores, compatíveis com os de operários especializados. É preciso ainda acabar com a impunidade desse Congresso de picaretas, instituindo a revogabilidade dos mandatos.
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