Longe dos grandes centros urbanos, o campo concentra vastas áreas de uma imensa contradição social, onde brotam os lucros de um punhado de fazendeiros e o sangue de centenas de trabalhadores, como vimos com o número de assassinatos no campo, que continua aumentando.

Passados mais de quatro anos de governo Lula, a história continua a mesma e só tende á piorar. A pistolagem contra os trabalhadores rurais prossegue e tem como prima-irmã a impunidade. A reforma agrária se encontra paralisada, e os índices de Lula neste quesito são piores que os do ex-presidente FHC.

Para acompanhar mais de perto a dura realidade dos camponeses, o Portal do PSTU visitou um assentamento no município município de Concórdia do Pará, nordeste do Pará. Na ocasião, ocorria a eleição da associação Benedito Alves Bandeira, da qual a chapa ligada à Conlutas foi vitoriosa, e militantes do PSTU junto com outros camponeses, desenvolvem uma brava resistência aos fazendeiros e políticos locais e às reformas neoliberais para o campo.

No assentamento
O assentamento Benedito Alves Bandeira (BAB) reflete bem a situação da reforma agrária no Brasil. De acordo com Louro, que é militante do PSTU e um dos mais antigos moradores do assentamento, “o Incra usa a ingenuidade dos camponeses pra assinar toda uma papelada que só advogado entende, constando que foi investido em energia, estradas, casas, equipamentos que nunca chegam, porque o governo fica com o dinheiro e o trabalhador não tem mais como provar. O caso é que o corpo técnico do Incra só tem advogados e engenheiros. Qual é o filho de camponês que tem curso superior? O Incra é uma instituição burguesa a serviço dessa lógica capitalista”.

Fazendeiros lucram com ocupações de terras
Outra grande contradição que tem crescido, principalmente em áreas florestais, é a ação de madeireiros ilegais, conhecidos como “sem-toras”, que roubam madeira de outros fazendeiros. O objetivo dos sem-toras é investir em máquinas e equipamentos nas ocupações de movimentos sem-terra para depois comprar madeira mais barata das áreas ocupadas. Quase sempre, o que acontece é que os sem-toras ficam com a madeira, os fazendeiros, que tiveram suas terras desapropriadas, são indenizados e os trabalhadores sem-terra, quando não são expulsos por jagunços, são presos pela polícia.

Josés, Antônios, Marias… Presentes!
Em 2006, o Brasil bateu seu maior recorde de mortes no campo dos últimos 16 anos. Segundo registros da Comissão Pastoral da Terra (CPT), foram 71 assassinatos no ano, dado que superou o maior índice até então, de 54 assassinatos em 1991. A CPT também identificou o aumento em 87,8%, com relação a 2005, de expulsão de famílias, e os conflitos de terras foram de 1.197 contra 879 em mesmo período de 2002.

Essa realidade os companheiros do BAB no Acará conhecem muito bem. Foi em junho do ano passado, quando os camponeses voltavam do Congresso Nacional de Trabalhadores (Conat) para o assentamento durante a madrugada. A Polícia Militar, de surpresa, invadiu o acampamento. Um jovem militante do PSTU foi o primeiro a ser avistado pelos PMs e alvejado pelas costas. Ele conseguiu escapar e nos contou como foi o episódio: “eles [os PMs] chegaram sem mandado, entraram com tratores financiados pelo sindicato de Concórdia que é da CUT, queimaram tudo bateram nos companheiros e disseram que tinham ordens pra não deixar ninguém vivo. Antônio mais eu saímos fugidos de lá mata a dentro, mas ele tava todo quebrado e morreu nas minhas pernas”.

Após a desocupação, os feridos foram presos e espancados por sete dias. Ao serem libertados, foram todos levados pelos policiais para uma “perícia” no posto médico local onde os médicos, totalmente comprados, não registraram qualquer agressão por parte dos policiais.

Fim da Aposentadoria Rural: o tiro de misericórdia
O atual sistema previdenciário, funciona de maneira solidária. É que uma parcela dos benefícios é destinada aos trabalhadores rurais que não chegaram a contribuir diretamente com a Previdência Social. Muitos desses trabalhadores viviam de agricultura familiar de subsistência e ao chegar numa idade mais avançada, já não conseguem mais trabalhar para manter sua sobrevivência direto da terra. Esse benefício pode acabar.

O governo Lula está realizando uma campanha mentirosa, dizendo que a Previdência Social é deficitária, e pode entrar em colapso se uma terceira reforma da Previdência não for aprovada. Se essa reforma for aprovada, porém, será o maior ataque na história contra os trabalhadores rurais, condenando milhões de lavradores que não terão qualquer outra alternativa de sobrevivência no campo ou na cidade. Será algo tão cruel quanto os massacres como o de Eldorado dos Carajás ou Corumbiara. Um massacre que será feito em nome do lucro dos banqueiros milhões de campesinos, de fome e miséria.