Depois de oito longos anos longe das grandes gravadoras, Lobão retorna ao grande circuito com o Acústico MTV, produzido por Carlos Eduardo Miranda e lançado pela Sony BMG em parceira com seu selo Universo Paralelo. De pazes feitas com o mercado, o velho Lobo volta às rádios que se recusavam a tocar as faixas de seus trabalhos independentes e mal tocavam os antigos hits.

Em primeiro lugar, vale destacar a escolha do repertório. Ela foi quase perfeita, uma mistura de antigas composições e músicas recentes. Os instrumentos e o arranjo são um show à parte. Além dos violões de doze cordas, bandolins, órgãos e pianos e da cozinha coesa (baixo, percussão e bateria) de Daniel Martins, Stéphane San Juan e Pedro Garcia, a voz de Lobão passeia entre a agressividade e a sutileza, para nos proporcionar um som denso, pesado e muito bem elaborado.

Das 18 canções, seis têm arranjos de violinos, violoncelo e contrabaixo. Naturalmente, essa “roupagem” tirou a violência de algumas músicas, mas tornou outras ainda mais bonitas. Como é o caso de Vou te levar do disco A vida é doce (1999).

Os pontos fracos são a ausência de músicas do bom disco Noite (1998), e a versão de Rádio Blá, que ficou um tanto “forçada” e não agregou muito ao conjunto do Acústico.

O CD é encerrado com a maravilhosa A gente vai se amar, de 2005, do disco Canções dentro da noite escura, e conta com a participação da banda Cachorro Grande. A música é impecável, com a letra no melhor estilo “lobanesco” e um arranjo de arrepiar e tirar lágrimas.

Longe de ser uma coletânea, o Acústico MTV traz à tona o melhor deste compositor de 49 anos: as suas canções. Sejam aquelas já conhecidas ou as que foram impedidas de tocar no rádio. A favor ou contra as grandes gravadoras, na resistência ou entregue ao sistema que limita o surgimento de novos artistas. A avaliação sobre o posicionamento político do músico não interfere em sua obra. Encontramos neste compacto um Lobão cheio de personalidade e com muita música para mostrar.

As polêmicas em torno do Acústico
A queda de braço entre Lobão e as gravadoras durou 20 anos, mas seu rompimento só aconteceu em 1998. Na época, o músico denunciava a situação vivida no Brasil e quase defendia a pirataria. Segundo ele, não havia razão para os altos preços dos CDs. Cada “bolachinha” custa para as gravadoras menos de R$ 1,00. Um músico renomado recebe cerca de R$ 0,20 por CD vendido, portanto o preço cobrado pelas gravadoras é absurdamente superfaturado.

Lobão também defendia que as obras fonográficas tivessem numeração de produção, como qualquer produto industrializado. Segundo o compositor, isso impediria a “pirataria” oficial, em que as gravadoras vendem mais do que informam ao músico, que, por isso, recebe menos.

No entanto, a denúncia mais insistente de Lobão sempre foi o jabá (valor pago às emissoras de rádio para a divulgação da música de alguns compositores), que vai no centro do problema do sistema de radiodifusão brasileiro.

A concessão da faixa de freqüência é pública. O detentor da mesma não pode, portanto, vender o espaço, exceto para propaganda. Mas é impossível pensar que algum dono de rádio ou tevê fosse para a cadeia por ter recebido tal pagamento. Levantamento realizado no final do ano passado mostra que pelo menos um terço dos 81 senadores e mais de 10% dos 513 deputados federais controlam emissoras de rádio ou canais de televisão.

Lobão diz que só aceitou gravar o Acústico porque a Sony liberou toda a sua discografia. Com o relançamento de sua obra, as novas gerações poderão conhecer seu trabalho. A outra justificativa é que ele teve toda independência musical. O que é notoriamente percebido. Ele ainda é bem audacioso de dizer na MTV – em campo inimigo – que sua música só está nas rádios por causa do jabá.

Isso, contudo, não disfarça que a gravação do Acústico MTV é uma demonstração de que Lobão foi derrotado em sua luta contras as grandes gravadoras. De todas as suas antigas reivindicações, nenhuma foi atendida.

Em sua trajetória, João Luís Woerdenbag, o Lobão, cometeu dois erros táticos. Em primeiro lugar, ele acreditou que com Lula no poder suas exigências seriam atendidas. Em entrevista ao Jornal do Brasil, disse: “Eu ajudei a eleger esse presidente que está aí, ajudei pensando que o PT iria ajudar em minha luta antijabá. Mas quando vi o PT praticando o mensalão, me senti desmoralizado”. Em segundo lugar, não conseguiu que um outro grande compositor aderisse a sua luta, fato que o jogou no isolamento. Por conta disso, inúmeras vezes a crítica o chamou de falastrão.

O lançamento do Acústico mostra que a postura política do velho Lobo é muito contraditória e merece várias críticas. Mas também mostra que ainda podemos apreciar as suas músicas, que continuam muito bem escritas e arranjadas.