Leia declaração da Liga Internacional dos Trabalhadores – Quarta InternacionalNo dia 3 de janeiro começou a invasão da faixa de Gaza por parte do exército sionista. Esta ação veio precedida de bombardeamentos indiscriminados, que continuaram durante a invasão terrestre e que buscam debilitar a moral palestina. Esta agressão já causou mais de 700 mortos e milhares de feridos palestinos na faixa de Gaza. Mas o povo palestino, com o Hamas à cabeça, está a resistir bravamente aos invasores e já fez as primeiras vítimas entre os soldados israelenses, derrubando um avião e destruindo vários tanques. A cidade de Gaza se encontra sitiada e atacada continuamente pelo fogo inimigo.

Esta é a primeira vez, desde que os sionistas expulsaram a sangue e fogo os palestinos de sua terra para fundar o Estado de Israel, que o exército israelense enfrenta uma milícia armada palestina numa guerra aberta. Até agora, havia reprimido as intifadas ou, nos anos anteriores, enfrentara e derrotara as nações árabes da região.

Israel atravessa uma forte crise desde que foi derrotado no Líbano. O primeiro-ministro Olmert teve que convocar eleições por ser acusado de corrupção. E a faixa de Gaza, governada pelo Hamas, continuava a resistir apesar do criminoso bloqueio a que estava submetida.

O objetivo de Israel é infringir uma dura derrota àqueles que, até agora, se negaram a reconhecer a existência do Estado de Israel. A derrota da invasão israelense ao Líbano pelo Hezbollah, o recrudescimento da resistência no Afeganistão e a cada dia mais próxima derrota dos EUA no Iraque, fatos aos quais deve-se acrescentar o início da crise econômica mundial – cujas conseqüências poderão colocar em pé de guerra centenas de milhões trabalhadores nos próximos meses –, precipitaram a decisão do ataque sionista.

Declaramos mais uma vez todo o nosso apoio à resistência palestina, pela derrota da invasão israelense à faixa de Gaza e pela destruição do estado de Israel. Nosso apoio incondicional à resistência não nos impede de nos diferenciarmos da sua atual direção, o Hamas, com a qual partilhamos o não reconhecimento do estado de Israel.

Obama está com Israel
Este ataque foi preparado durante meses. As constantes agressões do exército israelense, que desde 2005 provocaram milhares de mortos, e o brutal bloqueio, que impede a entrada de alimentos, remédios e combustíveis, além de condenar 70% da população da faixa de Gaza ao desemprego, assim como a trégua nunca respeitada por Israel, foram políticas apoiadas pelo governo dos EUA.

O início da agressão foi acordado com os EUA, como sempre. O secretário-adjunto de Estado, John Negroponte, esteve em Israel em 8 de Dezembro reunindo-se com, entre outros, o chefe da Mossad (serviço secreto israelense), Meir Dagan. Muito está-se a criticar, correctamente, o silêncio de Barack Obama. Dizem que quem cala consente. Mas, na realidade Obama já se pronunciou sobre a situação do Médio Oriente.

Primeiro quando, durante a sua campanha eleitoral, assegurou o seu “compromisso inquebrantável com a segurança de Israel e a sua esperança de ser um sócio eficaz para conseguir uma paz duradoura na região”. Também declarou, em sua visita a Israel, que “nenhum país aceitaria que chovessem mísseis sobre a cabeça dos seus cidadãos. Se alguém estivesse jogando foguetes sobre a casa onde dormem as minhas duas filhas à noite, faria tudo o que estivesse em meu poder para o deter”.

Em segundo lugar, desde que ganhou as eleições, Obama está sendo não somente informado senão mesmo consultado sobre qualquer decisão política pela administração cessante de George Bush. A sua afirmação de que só há um presidente de cada vez e que por isso não iria dar declarações não significa que não tenha opinião, mas que apóia o que Bush está a fazer. O imperialismo espera que Obama possa começar a sua presidência com um Hamas derrotado.

Os cúmplices árabes na agressão. Mubarack é agente israelense O caso mais flagrante de cumplicidade na agressão é o do governo egípcio de Hosni Mubarack. O Egito administrou a faixa de Gaza até 1967. A sua fronteira com a faixa é fundamental para a sobrevivência dos palestinos desta zona. Por isso, o que fez até agora foi o que os sionistas necessitavam para que fosse mais fácil e efectiva a agressão.

Foi no palácio presidencial do Egito onde Tipzi Livni, ministra dos Negócios Estrangeiros de Israel e candidata a primeiro-ministro, informou sobre o início dos ataques. O governo do Egito fechou a fronteira com a faixa de Gaza, impedindo assim a saída dos refugiados palestinos e colaborando com Israel. Nos primeiros dias dos bombardeamentos aéreos a polícia egípcia chegou a disparar sobre palestinos, inclusive causando mortes, que tentavam atravessar para o lado egípcio da fronteira. Os dias em que esta permanece aberta foi somente para a passagem de feridos.

Mubarack traiu mais uma vez a causa palestina quando culpou o Hamas pela agressão israelense: “Advertimo-los repetidamente de que rechaçar a trégua levaria Israel a empreender uma agressão contra Gaza”. Por isso, coincidimos com Nasralá, o líder do Hezbollah, do Líbano, que conclamou os egípcios a derrubarem Mubarack.

O governo do Egipto, assim como os da Jordânia e da Arábia Saudita, não condenaram o ataque israelense. Os governos destes três países são os únicos da região que mantêm relações diplomáticas com Israel. São também os que propõem a existência dos dois estados, o que significa aceitar a formação de um gueto para os palestinos e um estado de Israel como cabeça política (ao qual se subordinariam as burguesias árabes), econômica e, por conseqüência, militar no Médio Oriente.

O pedido do rei Abudallah, da Jordânia, ao governo de Israel para que não realizasse o ataque, pouco antes do seu início, e as declarações que faz agora Mubarack para que termine a agressão, acompanhadas de envio de ajuda humanitária, não são mais que tentativas desesperadas desses dois governos de evitar que as suas populações levantem-se para derrotá-los.

Mahmud Abbas, a marionete de Israel
Esta personagem, eleito sucessor de Arafat com o apoio de Israel, governa a Cisjordânia com a ajuda do exército sionista. Quando começaram os bombardeamentos, utilizou o mesmo perverso argumento sionista, já usado por Mubarack e repetido com o maior descaramento pelos governos imperialistas, de que o responsável pela agressão de Israel é o Hamas por lançar foguetes.

A Cisjordânia, “governada” pela Autoridade Nacional Palestina (ANP), dirigida por Mahmud Abbas, é um território patrulhado e controlado pelo exército israelense. Durante estes anos, este exército chegou mesmo a reprimir mobilizações na zona que a polícia de Abbas não conseguia derrotar. A polícia da ANP é um corpo subordinado e treinado pelos israelenses. Nestes dias, quando milhares de palestinos da Cisjordânia se manifestaram contra a agressão militar na faixa de Gaza, Mahmud Abbas tornou a enviar a sua política para reprimi-los. Os israelenses, por seu lado, novamente mataram um manifestante palestino.

É, portanto, o presidente títere de um regime de ocupação, um colaboracionista comparável ao general francês Pétain, que “governava” a França ocupada pelos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial. Os palestinos da Cisjordânia terão que se livrar deste traidor para lutar contra o ataque israelense em Gaza.

Origem e natureza do Estado de Israel
Israel foi fundado pelo sionismo como um estado teocrático para os judeus, expulsando de sua terra os seus legítimos moradores: os palestinos. Para isso, utilizaram, e continuam a utilizar, os mesmos métodos do nazismo: terror contra a população, segregação em guetos, limpeza étnica e massacres para exterminar o maior número de pessoas. A condenação do genocídio contra o povo palestino por parte do resto do mundo não preocupa Israel desde que consiga colocar de joelhos aos povos árabes.

O sionismo reconheceu que o seu objetivo é obrigar os judeus de todo o mundo a refugiarem-se em Israel. Por isso, os dirigentes sionistas na Europa chegaram a colaborar com os nazistas que estavam a exterminar os judeus. Líderes sionistas como Shamir, Begin ou mesmo Ariel Sharon, fundador do partido que atualmente governa Israel, o Kadima, mostraram a sua admiração pelo fascismo e o nazismo.

Os judeus actuais são de muitas raças e parte do mundo diferentes, mas nem todos os judeus são sionistas. Ainda que o sionismo tenha conseguido impor-se como a corrente mais forte, não conseguiu convencer a maioria para que fosse viver em Israel e esbarra numa resistência cada vez maior de sectores desta comunidade contra a sua política contra o povo palestino. Inclusive muitos jovens israelenses estão fartos de arriscar a vida pela política belicista de seu governo. Tem havido mobilizações conjuntas árabes e judias em Israel contra os ataques a Gaza que reúnem milhares de israelenses.

O Estado de Israel teve o apoio de Estaline e dos EUA para a sua criação. Desde então foi um enclave do imperialismo em meio à nação árabe. Como gendarme do imperialismo implementou, desde então, a sua estratégia de manter dividido o povo árabe, submeter os seus governos e conseguir que alguns deles convertessem-se em correias de transmissão do seu intervencionismo no Médio Oriente. Para isto, realizou várias guerras contra as nações árabes e ataques ao Iraque e Irão. O imperialismo necessita de Israel para ter uma plataforma de controlo da riqueza de hidrocarbonetos da região e para evitar a formação de uma potência regional árabe que possa controlar estes recursos.

Todo apoio à resistencia palestina em Gaza! Mobilizemo-nos para derrotar a agressão fascista de Israel!

Milhares de palestinos, dirigidos pelo Hamas, combatem nas ruas de Gaza e enfrentam com fuzis e grande coragem os tanques, canhões e helicópteros do exército fascista de Israel.

Não pode haver dúvidas: todos os que defendem a luta pela libertação do povo palestino, todos os que querem parar a ofensiva sangrenta, genocida e covarde do estado nazi de Israel, todos os que querem a paz, devem apoiar a resistência palestina. Resistir ao ataque militar a infligir baixas ao exército israelense é a única forma hoje de conseguir a paz contra um Estado que se baseia na guerra permanente, no genocídio e na limpeza étnica.

Para isso é necessário, em primeiro lugar, a unidade de todas as organizações palestinas dispostas a enfrentar o inimigo sionista. Sem dúvida, isso não é possível sem que se rompa com o governo colaboracionista da Autoridade Nacional Palestina, cúmplice de Israel e do imperialismo norte-americano. Chamamos a todos os militantes honestos da Fatah a desfazer-se do governo títere de Abbas-Pétain e a unir-se à resistência palestina.

O povo palestino está dividido pela ocupação sionista. Além da separação entre Cisjordânia e Gaza há 6 milhões de palestinos fora destes dois territórios, mais da metade da sua população. 400 mil vivem refugiados no Líbano e outros tantos na Síria, mais da metade da população da Jordânia é de origem palestina. Além destes, há 1,2 milhões de palestinos em Israel, originários dos palestinos que não foram expulsos quando da fundação do Estado de Israel e dezenas de milhares espalhados em muitos países do mundo.

Os palestinos estão mobilizando-se massivamente para apoiar os seus irmãos de Gaza. Para derrotar este brutal ataque israelense é necessário que os palestinos dos diferentes territórios possam sair em ajuda da faixa de Gaza. É preciso abrir novas frentes. Mesmo no estado de Israel houve grandes mobilizações da população árabe contra a agressão aos que eles chamam membros de sua nação: 130 mil manifestaram-se na cidade de Sajnin. Muitas fações palestinas estão combatendo na faixa de Gaza contra a invasão.

O Hezbollah, desde o Líbano, teria de armar os palestinos que quiserem combater como voluntários e a resistencia de Gaza. Hezbollah tem que entrar na guerra. Desde o ponto de vista militar poderia ser demolidor para Israel e, do ponto de vista político, muito mais. São eles os únicos que ganharam uma guerra contra Israel. Além disso, se se produz uma vitória de Israel em Gaza, irá colocar-se novamente a estratégia sionista de destruí-los. A entrada do Hezbollah na guerra não deveria ser só por solidariedade, já por si necessária, com a causa palestina, mas também como forma de autodefesa.

Também é necessário que as massas árabes, as mais mobilizadas e solidárias com a causa palestina, mobilizem-se contra as brutais ditaduras que governam os seus países e que conciliam com Israel e cruzam os braços frente ao massacre do povo palestino. Em especial, é necessário mobilizar-se contra o governo de Mubarak, exigindo que o Egito abra a sua fronteira com Gaza para que possam entrar remédio, alimentos, combustível, armamentos e voluntários para apoiar a resistência palestina.

No plano internacional, é urgente uma grande campanha de solidariedade e apoio político e material ao povo palestino. Esta campanha já existe de forma espontânea. Centenas de milhares de pessoas mobilizaram-se em todo o mundo em repúdio ao ataque genocida de Israel. Agora, é necessário coordenar estas ações e dar-lhes objetivos bem definidos.

Chamamos a todas as organizações sindicais, populares e democráticas que apoiam a luta do povo palestino por sua liberação e que vêm manifestando-se todos os dias em vários países do mundo a redobrar a sua mobilização para deter a agressão militar de Israel.

Façamos grandes jornadas mundiais em defesa do povo palestino até para o ataque de Israel. Chamamos também a enviar não só solidariedade política senão também todo tipo de apoio material para ajudar a resistência e a sobrevivência do povo de Gaza. Há que tratar de organizar estes esforços criando comités unitários de solidariedade ao povo palestino em todas as cidades, regiões e países onde seja possível.

Exijamos de todos os governos de nossos respectivos países a ruptura de relações diplomáticas com o estado de Israel. Há que isolar totalmente este estado racista, teocrático e nazista como os povos do mundo inteiro fizeram com o regime do “apartheid” que governou a África do Sul até que se conseguiu pôr-lhe fim. Pela ruptura de todos os acordos comerciais, como os da União Européia e do Mercosul, que são preferenciais com Israel. Pelo boicote econômico total a Israel.

Chamemos todos os governos que dizem apoiar a causa palestina, como os governos do Irão e da Síria, no Oriente Médio, e os governos de Venezuela, Cuba e Bolívia, na América Latina, a dar todo apoio material e militar à resistência palestina.

No marco desta luta unitária, a Liga Internacional dos Trabalhadores – Quarta Internacional reafirma a sua posição: a única possibilidade que haver paz no Oriente Médio, a única alternativa para que mais de dez milhões de palestinos possam exercer o direito de recuperar a sua terra e ter o seu país é com o fim do estado de Israel.

Anos de frustrações em supostas “negociações de paz”, que demonstraram ser uma farsa, só confirmaram que não pode haver uma verdadeira paz enquanto exista o Estado de Israel. A alternativa de dois Estados – um estado palestino, quase sem território e soberania e um estado judeu, racista, opressor, apoiado pelo imperialismo e armado até os dentes – foi sepultada pela história.

O imperialismo insiste em duas coisas: que o Hamas acate tudo o que Israel impõe e, depois, continuar as negociações para alcançar uma paz duradoura. A paz que deseja impor é a de um povo convertido em escravo, que acate submissamente o domínio sionista. Enquanto não conseguir que o Hamas e o restante da resistência se renda e capitule essa paz duradoura será difícil. O certo é que, enquanto existir o povo palestino, nunca a paz defendida pelo sionismo será alcançada.

A única alternativa real para a libertação do povo palestino é a que foi em seu momento a bandeira fundadora da Organização para a Libertação da Palestina (OLP): por uma única Palestina laica, democrática e não racista, onde todos os povos e religiões possam conviver.

Fazemos um chamado especial às correntes que se reivindicam trotskistas que já deixaram de defender a destruição do estado de Israel para que retomem a velha consigna da OLP. Que recordem que a IV Internacional se opôs justamente à formação do Estado de Israel, em 1948.

  • Mobilização unitária e mundial para parar a agressão na faixa de Gaza.
  • Boicote internacional a Israel.
  • Pela vitória da resistência palestina.
  • Apoio material e militar à resistência.
  • Fora os governos colaboracionistas e lacaios do imperialismo.
  • Por uma Palestina laica, democrática e não racista.
  • Pelo fim do Estado de Israel.

    Secretariado Internacional da LIT-QI

    São Paulo, 6 de janeiro de 2009