A história da LIT-QI e seus partidos, nos mais diversos países, entrelaçou-se nestas três décadas com alguns dos episódios mais marcantes da luta de classes. Às vésperas de mais um 25 de abril, quando cumprem-se 38 anos da Revolução dos Cravos, oferecemos uma breve síntese da trajetória da corrente morenista em Portugal.Já havia um clima de pré-revolução em 1968/69, quando as mobilizações estudantis enfrentavam a ditadura de Marcelo Caetano. Naquelas jornadas, jovens dos liceus e das universidades conspiravam contra um futuro programa para matar, ou quem sabe morrer, na guerra colonial – em Angola, Moçambique ou Guiné-Bissau.

Foi nesse contexto que surgiu, no início dos anos 70, um pequeno grupo de estudantes reunido em torno do jornal “O Grito”. Esse grupo defendia uma posição diferente da implementada por maoístas e pela maioria dos trotskistas para a intervenção no movimento secundário. Ao contrário dos primeiros, considerava necessário criticar a ditadura e a guerra colonial; mas, em oposição aos segundos, opinava que era preciso também unir estas denúncias políticas às reivindicações mais específicas, “sindicais”, dos estudantes.

Antes de 1974, os partidários do Grito conseguiram adesões nos liceus D. Pedro V e da Amadora, onde eram feitos, respectivamente, os boletins semilegais do Movimento Outubro e Impulso. Ligado a estes setores havia ainda um grupo mais clandestino, que se desdobrava em duas siglas: o Grupo Marxista Revolucionário (GMR) e os “Grupos de Ação”.

O 25 de abril e o contato com a TLT
Os ativistas desses grupos rapidamente se incorporaram ao processo revolucionário aberto com o 25 de Abril. “Foi a radicalização do movimento, essas grandes manifestações que fizeram a revolução. Nós estivemos nisso tudo, nas manifestações pela independência das colônias, nos comícios quase 24 horas por dia no Rossio”, relembra João Pascoal, atual dirigente do MAS e um dos integrantes do GMR e dos Grupos de Ação.

Até que por ocasião de um debate, tomaram contato com a Tendência Leninista Trotskista (TLT), à qual pertencia o PST argentino, dirigido por Nahuel Moreno. “Identificamo-nos com as várias opiniões e críticas dessa corrente e, em outubro de 1974, já integrados a ela, aprovou-se o nosso primeiro documento político nacional e constituiu-se a Aliança Socialista da Juventude”, recorda Pascoal. A ASJ editava o jornal Combate Socialista e tornou-se, em pouco tempo, uma corrente de peso nos liceus de Lisboa.

Os anos da revolução
Desde a ASJ, funda-se, em fevereiro de 1975, o Partido Revolucionário dos Trabalhadores, que durante o período revolucionário que vai até o 25 de novembro1, apoia o surgimento e desenvolvimento das lutas e dos embriões de organismos de duplo poder, como foram as comissões de trabalhadores e de moradores e as assembleias de unidade no exército e na marinha. No 25 de novembro, o PRT posicionou-se corajosamente contra o golpe. “Desafiamos o estado de sítio vendendo o nº 23 do Combate Socialista”, lembra João Pascoal.

A seguir ao 25 de novembro, a burguesia reconstitui o seu governo e lança uma grande ofensiva para impor o controle nos quartéis e também conter o movimento camponês, a reforma agrária e o movimento estudantil.

O ano de 1976, quando começa a organizar-se essa contra-ofensiva burguesa, é um ano de eleições, e o PRT apresenta candidaturas em cinco regiões. “Estivemos presentes na luta dos camponeses contra a devolução das herdades aos latifundiários, nas lutas estudantis e universitárias, nomeadamente, em maio/junho de 1977, na grande greve dos estudantes de Coimbra, contra o ministro da Educação do PS, Sottomayor Cardia”.


Em 1978, a construção do partido revolucionário ganha um novo salto com a fusão entre o PRT e a LCI, grupo ligado à corrente de Ernest Mandel no interior do Secretariado Unificado (SU). Em um congresso de unificação realizado em outubro daquele ano surge o Partido Socialista Revolucionário (PSR).

Além de um balanço comum acerca do processo revolucionário, o congresso adotou resoluções sobre a construção de uma tendência sindical – “é necessário construir em curto prazo um pólo trotskista no movimento operário, que seja a mola impulsionadora de uma oposição sindical classista no seio da CGTP”; sobre “A libertação da mulher” e a “Construção de uma organização revolucionária de juventude”.

Ruptura e divisão
Durou pouco o avanço conquistado com a fusão com a LCI. A luta de classes, que havia aproximado os dois grupos, separou-os um ano depois (1979), quando o PSR se partiu – frente a uma enorme polêmica internacional. Naquele ano, havia estourado a revolução nicaraguense, que derrubou Anastásio Somoza, com a Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN) à cabeça.

Para integrar a luta contra Somoza ao lado da FSLN, diversos partidos agrupados em torno do PST colombiano e da Fração Bolchevique, de Moreno, tinham formado uma brigada internacionalista, a Brigada Símon Bolívar. Passada a fase da guerra civil e derrotado o somozismo, os brigadistas e militantes trotskistas passaram a impulsionar a organização e mobilização da classe operária. Essa orientação se chocava com a estratégia de “reconstrução nacional” da direção da FSLN, que prendeu e entregou os brigadistas à tortura da polícia do Panamá.

Instada a lutar pela defesa e libertação desses militantes, a maioria do SU não só se recusou a fazê-lo como ainda apoiou publicamente a sua expulsão e reforçou o seu apoio ao governo burguês da FSLN. Essa atitude, política e moralmente inaceitáveis, determinou a ruptura da Quarta Internacional – que se refletiu na cisão do PSR.

Por um novo 25 de abril
A trajetória da jovem organização da LIT em Portugal ainda enfrentou maiores desafios, como o “vendaval oportunista” que varreu a esquerda no anos 90, a campanha do imperialismo sobre a “morte do socialismo” e a capitulação da maioria da esquerda ao eleitoralismo. Sob a bandeira do internacionalismo, a organização conseguiu resistir a essas colossais pressões. E hoje, a bandeira do socialismo revolucionário é defendida pelo mais novo partido da LIT na Europa, o Movimento Alternativa Socialista, MAS, criado a partir de ex-integrantes do Bloco de Esquerda que pertenciam à corrente Ruptura/FER.

Em meio a crise que assola os trabalhadores portugueses, o MAS defende a luta por um novo 25 de Abril, que inscreva no seu programa a necessidade de uma revolução social e política que altere substancialmente o tipo de sociedade injusta que cada vez mais se instala em Portugal.

1 – Referência ao golpe militar triunfante que realizaram os chamados “setores moderados” das Forças Armadas, cujo principal representante era António Ramalho Eanes, que afastou do poder a chamada “ala esquerda” identificada com Otelo Saraiva de Carvalho.