Novos fatos voltam a desmentir as explicações dadas por Palocci em sua entrevista coletiva no dia 21 de agosto. Um levantamento telefônico entregue à CPI dos Bingos apontou pelo menos seis ligações feitas pelo advogado Rogério Buratti para a casa do ministro Antonio Palocci em 2003. As ligações somam 28 minutos.

Além dos telefonemas, também foram feitos contatos com pessoas próximas ao ministro. Foram apontadas 12 ligações para o celular de Ademirson Ariovaldo da Silva, assessor especial de Palocci. Os telefonemas para a casa de Palocci e para o celular do assessor totalizaram quase 45 minutos. Buratti também telefonou pelo menos 14 vezes para Juscelino Antonio Dourado, chefe de gabinete do ministro. O levantamento foi feito pela Intelig, e mostra que todas essas ligações foram feitas do celular de Rogério Buratti.

Em sua encenação para acalmar os mercados, na entrevista coletiva, Palocci disse que pode ter conversado por telefone “uma vez ou outra“ com Buratti, mas ressaltou que não se lembrava do conteúdo das ligações. O ministro deu a entender que suas relações com Buratti eram distantes. Na nota oficial, Palocci disse que recebeu “dois ou três telefonemas“ de Buratti, mas as ligações eram “provavelmente tentativas de contato que não prosperaram“.

Com o relatório entregue à CPI, tais mentiras caem por terra. Os muitos telefonemas desnudam uma relação bastante próxima entre Palocci e Buratti, que não se desfez após o ex-prefeito ter assumido o cargo no ministério da Fazenda.

As ligações reforçam as acusações feitas por Buratti em seu depoimento no dia 19 de agosto. Ele disse que o atual ministro da Fazenda recebia R$ 50 mil por mês da empreiteira Leão Leão quando era prefeito, entre 2001 e 2002. Segundo Buratti, os pagamentos eram contabilizados através de notas fiscais frias e o dinheiro desviado era mandado ao Diretório Nacional do PT, através do ex-tesoureiro Delúbio Soares. A propina repassada pela Leão Leão servia como moeda de troca para que a prefeitura mantivesse com a empreiteira o contrato para a coleta de lixo.

Rogério Buratti deve depor pela segunda vez à CPI dos Bingos neste dia 25. Ele é acusado de tentar extorquir R$ 6 milhões da Gtech para garantir à empresa a concessão da exploração das loterias da Caixa Econômica Federal, um contrato no valor de R$ 650 milhões.

Pressão do advogado
Existe um grande acordo entre a direita e o governo para blindar Palocci, que, para eles, parece ser tão intocável quanto Lula. Isso porque há um esforço de todos para que a crise não atinja a economia. A imprensa também embarcou nessa onda e elogiou exageradamente as respostas do ministro da Fazenda em sua entrevista coletiva. Esse acordo se faz sentir de todos os lados. Agora, parece que o próprio advogado de Buratti está contra ele e defendendo a blindagem de Palocci. O advogado Roberto Telhada, ao mesmo tempo em que confirmou a presença de Buratti na CPI, desqualificou o depoimento feito por seu cliente à Polícia.

“Eu desqualifico completamente aquele depoimento, que foi prestado em condições absolutamente impraticáveis, desfavoráveis“, afirmou Telhada, dando a entender que Buratti pode mudar a versão apresentada no primeiro depoimento.

Não é à toa que antes de Buratti depor em Ribeirão Preto, Telhada chegou a desistir de defender seu cliente. Agora, sem a menor explicação, Telhada volta a ser advogado de Buratti e dá declarações como essa, desconsiderando o que já foi dito.

Apesar disso, o advogado ainda ameaça abandonar o caso. Ele afirmou que vai esperar o depoimento de Buratti na CPI “para ver se ele reenquadra-se nos princípios [do advogado] ou se prefere continuar num caminho determinado por ele próprio“. Resta agora aguardar para saber se Buratti vai manter as acusações ou se também entrará no acordão para proteger o ministro e a economia.