De 23 de julho a 3 de agosto, foi realizado o IX Congresso Mundial da LIT-QI. Foram dias de intensos debates no acontecimento mais importante da vida interna de uma organização internacional. Além de todas as discussões fundamentais, feitas num clima de grande fraternidade, o congresso representou uma vitória para todos os que vêm lutando pela reconstrução da Quarta Internacional

Participaram do congresso organizações da LIT de 18 países (Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Costa Rica, Equador, El Salvador, Peru, Venezuela, Paraguai, Espanha, França, Grã-Bretanha, Itália, Bélgica, Portugal e Rússia) representadas por 22 delegados plenos e nove delegados não-plenos de organizações simpatizantes ou organizações que não atingiram o número de militantes necessário para ter direito a um delegado pleno.

Por razões financeiras, não puderem estar presentes, além do delegado da Turquia, representantes das organizações simpatizantes do Uruguai, de El Salvador, do Panamá e da Ucrânia.

Também estiveram presentes organizações convidadas com as quais a LIT mantém relações políticas. Entre elas, Batay Ouvryé, do Haiti, OKDE-EP, da Grécia, Freedom Socialist Party, dos Estados Unidos, UIT-CI (Unidad Internacional de los Trabajadores) e duas organizações da Argentina: IT (Izquierda de los Trabajadores) e FUR-Poder Obrero.

O congresso recebeu saudações de militantes da LIT no México, além dos grupos Resistencia y Acción Socialista, também daquele país.

Como já é tradição nos congressos da Internacional, foi escolhida uma mesa de honra para homenagear dirigentes e militantes falecidos ou aqueles que deram sua vida à luta revolucionária. Nesta edição, o nome de Nahuel Moreno, fundador da LIT e seu principal dirigente, falecido em 1987, esteve ao lado de outros importantes dirigentes e militantes que faleceram desde o último congresso, aos quais se rendeu uma calorosa homenagem por sua trajetória de luta. Entre eles, Eduardo Espósito, Ernesto González, Jorge Guidobono, Eduardo Gomes (Gardel), José “Petiso” Páez e “Pelado” Matosas.

As principais discussões
O congresso discutiu três questões centrais: a situação na América Latina, o processo de reconstrução da Quarta Internacional e o problema da moral revolucionária.

A discussão sobre a América Latina incluiu a caracterização e a política dos revolucionários em relação aos governos da Venezuela, da Bolívia e demais governos de colaboração de classes, principalmente o de Hugo Chávez. Falou-se também da questão do campo e do lockout (greve) agrário na Argentina, da reorganização do movimento de massas e do papel e perspectivas do Elac (Encontro Latino-Americano e Caribenho dos Trabalhadores).

Sobre a Venezuela, algumas organizações que não fazem parte da LIT afirmaram que o governo Chávez é revolucionário e conduz o país em direção ao “socialismo do século 21”. Outros dizem que é um governo operário e camponês (ou pequeno-burguês revolucionário) e que Chávez pode cumprir o mesmo papel de Fidel Castro na Revolução Cubana em 1959. A LIT, ao contrário, afirma que se trata de um governo burguês, apoiado nas Forças Armadas. É a burguesia que governa o país e a classe operária está totalmente fora do poder do Estado.

As nacionalizações de Chávez não são parte de um plano do governo para expropriar o imperialismo e a burguesia, mas sim medidas limitadas para fortalecer a burguesia nacional (especialmente o setor “bolivariano”) e uma resposta limitada à pressão revolucionária das massas.

Todas essas características confirmam a posição da LIT de que na Venezuela, ao contrário de um “socialismo do século 21”, o que existe é um Estado burguês semicolonial e um regime bonapartista que fica entre o imperialismo e o movimento de massas, e que não tem dúvidas em reprimir os trabalhadores quando isso é necessário.

Chávez e os demais governos populistas e de frente popular da América Latina são inimigos das massas e usam seu prestígio para conter sua luta revolucionária, tentar controlá-las, desmoralizá-las e derrotá-las. Sendo assim, a LIT reafirma sua estratégia de derrubada desses governos e sua substituição por governos operários e camponeses, isto é, pela ditadura do proletariado.

Numa primeira etapa, quando esses governos ainda têm muito prestígio, nossa tática é explicar pacientemente aos trabalhadores seu caráter burguês, lutar contra sua política, animar a luta das massas por suas reivindicações concretas e estimular a organização independente da classe. A política central da LIT hoje na América Latina é buscar de todas as formas a independência da classe operária para enfrentar o imperialismo.

Reconstrução da Quarta
O debate sobre o projeto de reconstrução da Quarta Internacional foi um dos mais importantes do congresso. A situação mundial, de ofensiva imperialista e recolonização de três quartos dos países do mundo, as políticas neoliberais, a superexploração dos trabalhadores e a ampla ação revolucionária das massas no mundo inteiro demonstram a necessidade urgente de reconstruir a Quarta Internacional para resolver a crise de direção do proletariado e levá-lo à vitória em suas lutas contra o capitalismo e o imperialismo.

Essa foi a batalha de Trotsky e da LIT-QI que, desde a sua fundação em 1982, sempre se considerou uma ferramenta a serviço dessa tarefa estratégica. O XI Congresso da LIT foi um avanço nesse sentido. Houve acordo entre as organizações presentes com as quais a LIT vem discutindo em relação aos critérios para a reconstrução da Quarta, já expostos por Trotsky na década de 1930.

É preciso se basear em um programa, ou seja, na compreensão comum da realidade e das tarefas que propomos ao proletariado neste momento e em acordos sobre os fatos fundamentais da luta de classes e a ação conjunta de todos os revolucionários envolvidos nessa tarefa.

Pela importância dessa tarefa, o esforço para reconstruir a Quarta Internacional deve ser de todos os revolucionários, não apenas daqueles que se dizem trotskistas. Isso desde que essas relações sejam baseadas em um método comum de honestidade, franqueza e lealdade, buscando os acordos e discutindo as diferenças com total clareza.

Uma das questões fundamentais nesse processo é a defesa de uma moral revolucionária. Por isso, uma das discussões mais ricas e intensas do congresso foi sobre esse tema.

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