Para impedir a dispersão e o enfraquecimento do movimento estudantil é preciso criar uma nova ferramenta de luta dos estudantes, com novos espaços de organização autônomos e independentes. A fundação e a construção da ANEL está a serviço dessa tarefa.Estamos vivendo há mais de dois meses uma grande greve nacional da educação, com quase todos os institutos e universidades federais paralisados e uma forte unidade entre professores, funcionários técnico-administrativos e estudantes. Vários outros setores do funcionalismo público federal também entraram em greve, dando à mobilização uma dimensão histórica e obrigando o governo a recuar e abrir negociações. As mobilizações estão cada vez mais radicalizadas e as reivindicações das categorias em luta passam a questionar não apenas o projeto educacional, mas também a política econômica da presidente Dilma.

No movimento estudantil, o Comando Nacional de Greve (CNGE), com delegados eleitos na base, unificou todos os setores combativos do movimento e se legitimou como direção da greve. A formação de um organismo democrático e unitário, que reúne dezenas de ativistas da ANEL, da esquerda da UNE e setores independentes já é uma vitória do movimento estudantil brasileiro.

Infelizmente, a unidade orgânica conquistada pelo CNGE não é uma realidade cotidiana, pois alguns coletivos de oposição de esquerda ao governo federal ainda preferem continuar na UNE, bloqueando a construção de uma entidade estudantil nacional alternativa. Essa situação impõe, inevitavelmente, o debate acerca dos rumos do movimento estudantil brasileiro aos milhares de estudantes em luta.

Falência da UNE e o processo de reorganização
As entidades estudantis nacionais são organizações de “Frente Única”, ou seja, instrumentos de organização de todos os estudantes dispostos a se mobilizar, independentemente de suas filiações partidárias, orientações ideológicas, religiosas, culturais etc. Elas têm a função de unificar, generalizar e aprofundar as mobilizações em defesa da educação pública e dos interesses da juventude brasileira. A existência desse tipo de entidade é uma necessidade para alcançar a máxima unidade política e organizativa do movimento estudantil. Foi com esses objetivos que os estudantes brasileiros há muitas décadas fundaram a UNE.

Entretanto, a UNE não cumpre mais esse papel no movimento. Por isso, existe já há alguns anos um processo nacional de reorganização dos estudantes, com rupturas significativas. O fenômeno da reorganização é objetivo, porque não depende das correntes políticas para acontecer. Ele surge de forma espontânea, com o deslocamento de milhares de estudantes para fora da entidade. Devido à adaptação da UNE ao Estado e a seu longo histórico de traição das lutas, os novos estudantes que se incorporam às mobilizações já sabem que não podem confiar na entidade e passam a rechaçá-la no interior do movimento.

Para impedir a dispersão destes valiosos companheiros e companheiras, processo que levaria ao enfraquecimento do movimento estudantil, é preciso criar uma nova ferramenta de luta dos estudantes, com novos espaços de organização autônomos e independentes. A fundação e a construção da ANEL está a serviço dessa tarefa, é uma alternativa aos milhares de estudantes do país que procuram um ponto de apoio para suas lutas e reivindicações.

Na contramão da unidade
Se as lutas estudantis ainda fossem organizadas pela UNE, mesmo com a degeneração oportunista e burocrática promovida pela sua direção (UJS/PCdoB), os estudantes e setores combativos do movimento estudantil deveriam continuar dentro da entidade, articulando uma oposição de esquerda para lutar contra o governismo e a burocratização da entidade. Todavia, não é essa a realidade. Todas as mobilizações dos últimos anos passaram por fora da UNE, ou então, chocaram-se diretamente contra a entidade. Um exemplo é a própria greve nacional da educação que estamos vivenciando no momento, na qual a UNE é repudiada pela imensa maioria dos estudantes em greve.

Dessa forma, o ensaio de reunificar a oposição de esquerda da UNE que os coletivos impulsionados pelo PSOL e PCR realizaram durante a última reunião do CNGE, no último dia 19, é completamente equivocado e artificial. Essa política não encontra sustentação na base das universidades e escolas, onde esses setores atuam em coletivos separados e com políticas distintas. Assim, não passa de uma unidade limitada e momentânea, que vai contra o sentimento dos milhares de estudante grevistas em todo o país, que não depositam nenhuma esperança nos fóruns da UNE.
Por fim, essa postura da oposição de esquerda da UNE só fortalece o governo e a própria UJS, pois atrapalha o processo de reorganização e vende a ilusão de que existem pluralidade e democracia na velha entidade.

Unidade no CNGE mostra o caminho
O fortalecimento da ANEL nessa greve, com a presença em seus fóruns – estaduais e nacionais – de uma ampla parcela dos estudantes grevistas não é por acaso.
A construção da ANEL, uma entidade democrática e independente do governo federal, é o melhor instrumento para unificar os setores combativos do movimento estudantil, pois vai ao encontro do processo de reorganização.

A experiência do CNGE, por sua vez, mostra que a ANEL e os coletivos da esquerda da UNE, quando estão unificados, são a maioria do movimento estudantil brasileiro. Por isso, a juventude do PSTU faz um chamado aos setores que lutam contra o governo Dilma – especialmente a juventude do PSOL – para não darmos nenhum passo atrás em nossa unidade.

O debate sobre os novos rumos do movimento estudantil deve partir dos ensinamentos do CNGE, que confirmam que a construção unitária de uma nova entidade estudantil mais representativa que a UNE não é apenas uma necessidade, mas, sobretudo, uma possibilidade real.

Portanto, convidamos a esquerda da UNE e todo o movimento estudantil para discutir, na base das universidades e institutos federais, o significado desse processo de reorganização. Acreditamos que as experiências políticas e organizativas que a ANEL acumulou são de fundamental importância para essa discussão. O Segundo Congresso da ANEL, que vai ocorrer durante os dias 30 de maio a 2 de junho do próximo ano, será um relevante espaço para refletir acerca das lições da atual greve nacional da educação e preparar as próximas lutas em defesa da ensino público. Os ativistas da esquerda da UNE e os coletivos independentes não podem ficar de fora.
Post author Vinícius Zaparoli, da Secretaria Nacional de Juventude do PSTU
Publication Date