George Bezerra, de Fortaleza (CE)

No dia 6 de maio, os operários da construção civil de Fortaleza (CE) realizaram uma assembléia que ficará na história da categoria e que certamente emocionou quem estava presente na sede do sindicato. Decidia-se o futuro de uma greve que já durava 15 dias. Após a categoria avaliar a proposta patronal, aprovou, por ampla maioria, fechar o acordo com os patrões e encerrar a paralisação. Quais as principais lições que devemos tirar dessa greve?

Resultados econômicos
Embora não se possa reduzir o balanço de uma greve a seus resultados econômicos, as reivindicações salariais são importantes, pois impedem que os patrões joguem os trabalhadores na miséria. Nesse sentido, o movimento conseguiu um acordo razoável. O servente de pedreiro recebeu um reajuste de 9,21%, passando a ganhar R$ 428,00. O meio- profissional (auxiliares dos profissionais) teve seu salário ajustado em 9,3%, passando a receber R$ 507,85. E o profissional (pedreiro, carpinteiro, bombeiro, ferreiro e eletricista) teve um reajuste de 8,4%, o que significa um vencimento de R$ 672,00.

Além disso, o betoneiro (responsável pela produção da massa), que era considerado meio-profissional, passou a ser profissional. A participação nos lucros e resultados foi estendida para os operários que têm três meses de firma. Antes, só tinha direito quem estava há pelo menos seis meses na firma.

Ainda são salários de fome, mas, se não fosse a greve, os operários iriam ter reajustes apenas de acordo com a inflação, justo num momento em os preços dos alimentos estão subindo.

Organização e mobilização mostram o caminho
A patronal, antes intransigente, só mudou de postura a partir do fortalecimento da mobilização e radicalização dos operários. Primeiro, foram as paralisações de duas horas por canteiro, que atingiram um total de cinco mil operários. Depois, veio a greve, que obrigou a patronal a apresentar mudanças significativas na proposta de reajuste dos pisos da categoria.

A mobilização e organização foram determinantes para a vitória. A greve foi garantida com os piquetes em frente às obras, impedindo, assim, a ação dos fura-greves. Depois, cada piquete saía em passeata e encontrava-se com os outros piquetes, à procura de canteiros que estivessem funcionando. Cada empresa que forçava os operários a trabalharem tinha suas obras paralisadas à força.

Esse método foi bastante recriminado, sendo taxado de violento por toda a grande imprensa. Além disso, a Justiça autorizou a cobrança de uma multa de R$ 10 mil por trabalhador que fosse impedido de entrar nos canteiro de obras pelos piquetes e de R$ 30 mil por canteiro depredado. Os operários, porém, mantiveram seu método de luta, pois tinham consciência de que eram os piquetes que garantiam a paralisação das obras e a própria segurança dos trabalhadores contra a ação da polícia e da segurança privada.

Democracia operária
Desde o início, a categoria foi escutada, sendo chamada a formular a pauta de reivindicações, elaborar, planejar e organizar sua luta. Durante a greve, eram realizadas assembléias diárias, reuniões do comando de base, e eram os operários que decidiam as obras que deveriam ser paralisadas pelos piquetes. Isso foi determinante para a vitória.

A existência de espaços que garantiam aos operários o direito de expressar suas opiniões, criticar, pressionar, controlar a direção do sindicato e lançar propostas permitiu a correção dos rumos da greve e, ao mesmo tempo, fez avançar a compreensão de que a emancipação dos trabalhadores será obra dos próprios trabalhadores.

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