Para lembrar os 70 anos da Guerra Civil Espanhola, nesta e na próxima edição o Opinião irá publicar artigos referentes a um dos principais episódios da história e da luta de classes durante o século. Neste artigo, abordaremos o início do conflito e a incaA Guerra Civil Espanhola começou há 70 anos, no dia 18 de julho de 1936, quando o general e, posteriormente, ditador, Francisco Franco, deu um golpe de estado, pondo fim à Segunda República, instalada cinco anos antes. Contudo, os eventos que precipitaram a guerra e seu conteúdo revolucionário já estavam em gestação há vários anos.

Em outubro de 1934, por exemplo, uma greve geral na região das Astúrias adquiriu a forma de insurreição operária e antecipou o que inevitavelmente iria ocorrer dois anos depois: um profundo enfrentamento entre a burguesia industrial e os latifundiários (amparados pelo exército e pelos grupos fascistas) e a classe operária e os camponeses pobres.

Este conflito representava dois movimentos simultâneos e antagônicos diante da Proclamação da Segunda República, em 1931.

Por um lado, a possibilidade de uma contra-revolução fascista, que tinha como objetivo conservar privilégios econômicos e políticos da elite espanhola, consciente do fortalecimento da classe operária e de sua ação revolucionária. De outro, o impulso em direção à revolução proletária, movido por uma classe operária cada vez mais consciente de que a Segunda República não poderia satisfazer as necessidades dos trabalhadores, nem o desejo de terras do campesinato.

A entrada da Confederação das Direitas Autônomas (Ceda) no governo da República – e revolução proletária desencadeada por este fato – levou a burguesia a preparar uma mudança do regime, com o propósito de derrotar, por muitos anos, o movimento operário. A opção por um regime fascista se apresentou como a única forma de garantir este objetivo.

Contudo, a Falange e outros grupos fascistas da Espanha tinham forças escassas e não conseguiam mobilizar setores significativos da pequena burguesia (base social do fascismo na Alemanha e na Itália). A única garantia de êxito de uma operação dessa amplitude era que este projeto fosse assumido pelo exército, onde a conspiração para o golpe começou a ser organizada antes mesmo da vitória da Frente Popular, em 14 de fevereiro de 1936.

Frente Popular: um obstáculo para a revolução
O governo que surgiu das eleições era consciente desta situação, mas a própria natureza da Frente Popular a impedia de desarticular a conspiração.
A Frente havia chegado ao poder como resultado de uma aliança entre a burguesia (representada pelos partidos republicanos) e o proletariado (organizado pelo Partido Socialista Operário Espanhol – PSOE –, o Partido Comunista Espanhol – PCE – e outras organizações).

No centro do problema estava um fato bastante concreto. Dentro da Frente, as organizações operárias se submetiam politicamente à autoridade dos ministros republicanos. Por exemplo, qualquer medida dirigida contra os militares golpistas ou em defesa do armamento dos trabalhadores era condenada como “desestabilizadora” do próprio governo.

Os ministros burgueses da Frente, por sua vez, acreditavam que a adoção de uma política de mão de ferro nos conflitos trabalhistas convenceria os setores burgueses de que eles eram suficientemente fortes para impedir a revolução. Mas a burguesia sabia que a situação não admitia panos quentes e prosseguiu com seu projeto conspiratório, até que, em 18 de julho, o iniciou através da rebelião das tropas que se encontravam na África.

Desmoronamento do Estado
Os militares prepararam o golpe como em ocasiões anteriores: retiraram as tropas dos quartéis, ocuparam os edifícios públicos e os sistemas de transportes e comunicações, proclamaram a abolição da República e instauraram um estado de sítio para enfrentar as mobilizações populares.
Entretanto, não levaram em conta que os trabalhadores tinham aprendido muito com as experiências de ascensos fascistas na Itália, Alemanha e Áustria, e não ficaram de braços cruzados ante a possibilidade de que, na Espanha, pudesse se dar uma situação parecida.

Quando as notícias da rebelião no Marrocos chegaram aos bairros operários, as organizações da Frente Popular chamaram os trabalhadores a confiar no governo. Mas os trabalhadores passaram a exigir armas para se defenderem dos militares fascistas.

O governo rejeitou completamente esta possibilidade. Não porque acreditava que o golpe estava condenado ao fracasso, mas sim porque acreditava que, ao fazer concessões políticas aos generais rebeldes, eles poderiam conseguir que Franco e seus aliados desistissem de seus planos.

Enquanto o governo negociava com os militares fascistas, a paciência dos trabalhadores chegava ao fim. País afora, o povo começou a tomar as armas em suas próprias mãos através de assaltos aos quartéis ou da entrega das armas por oficiais médios que desobedeceram ao governo.

Num primeiro momento, essa ação isolada dos trabalhadores, contra as instruções de suas próprias organizações, conseguiu barrar a entrada do fascismo em Madri, Barcelona, Valência, Málaga e Bilbao, além de outras cidades. As vacilações na entrega das armas aos trabalhadores, contudo, provocaram a queda de uma grande parte do território em poder de Franco.

Esta ação heróica e espontânea da classe onseguiu barrar o plano de golpe militar fascista e também fez desmoronar o Estado nas zonas onde o golpe não havia triunfado. Graças ao poder das armas, o proletariado se converteu, provisoriamente, em dono do poder político e econômico: os patrões e latifundiários se esconderam ou fugiram; as fábricas, escritórios e terras passaram a ser controlados pelos trabalhadores e camponeses; o exército desmoronou (os oficiais aderiram aos fascistas e os suboficiais e soldados engrossaram as milícias populares).

A vitória do fascismo
O golpe fascista desencadeou uma revolução proletária. A situação parecia inclinar-se a favor da revolução. Mas os dirigentes da Frente Popular simplesmente ignoraram as lições dadas pelo golpe e pela primeira reação dos operários.

Nos meses seguintes, o governo continuou fazendo concessões aos fascistas e, consequentemente, não conseguiu detê-los. Pelo contrário. Sem aprofundar a revolução que teve início no dia 19 de julho, foram criadas as condições políticas e sociais para a vitória de Franco.

Post author Juan Carrique, de Madri (Espanha)
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