Recursos são usados para a compra de títulos da dívida pública, para obter mais lucrosA crise financeira e econômica mundial já chegou ao Brasil. As principais montadoras anunciam a redução na produção e férias coletivas, mostrando a deterioração no setor mais dinâmico do último período. A balança comercial do país, ou seja, a diferença entre as exportações e importações, fechou a quarta semana de outubro com déficit de noventa e oito milhões de dólares. Para 2009, a expectativa é que o país registre o primeiro déficit em dez anos.

Um dos primeiros setores a sentir os efeitos da crise financeira, no entanto, foram os bancos. Com a secura do crédito no mercado, assim como a desconfiança mútua entre as instituições financeiras, os bancos passaram a segurar o dinheiro. O anúncio da Medida Provisória que permite a compra de ativos de instituições privadas em dificuldades pelo Banco Central, aumentou a impressão de que a saúde dos bancos no Brasil não estava tão boa quanto assegurava o próprio governo.

Bolsa banqueiro
Os bancos, aliás, contaram com a ajuda do governo desde os primeiros sinais da crise. No começo de outubro o governo anunciou mudanças na regra dos depósitos compulsórios, a fim de garantir mais recursos aos bancos. O compulsório é uma percentagem dos depósitos recebidos pelos bancos, retido pelo Banco Central. Esses recursos integram o Fundo Garantidor de Crédito, cujo objetivo é assegurar os depósitos dos clientes em caso de quebra do banco.

O governo reduziu o compulsório, liberando mais de 100 bilhões de reais aos bancos. O argumento era de que o acesso dos bancos a mais “liquidez” destravaria a crise do crédito. Os bancos maiores liberariam crédito aos bancos menores, em situação mais difícil. No entanto, o que aconteceu na realidade foi o oposto. Os bancos simplesmente embolsaram essa grana e investiram em títulos da dívida pública, beneficiando-se de uma taxa de juros de 13,75%, a maior do mundo.

O desembolso do Banco Central, desta forma, não facilitou o acesso ao crédito aos bancos menores e muito menos aos consumidores. Serviu apenas para engordar ainda mais o caixa dos bancos e os seus lucros, à custa do crescimento da dívida pública. Já no dia 27, o governo liberou mais 6 bilhões de reais, dessa vez aos bancos de menor porte. Estima-se que os gastos que tal medida refletirá, em juros dos títulos da dívida, chegue a 835 milhões de reais.

Prova de que, com crise ou sem crise, a política do governo continuará a mesma, a de favorecimento dos bancos e grandes empresas. No último dia 27 foi divulgado o lucro do Bradesco em 2008, até setembro. Em plena turbulência financeira, o banco lucrou 6 bilhões de reais, um crescimento de 3% em relação ao ano anterior.