Marcha no Dia Nacional da Visibilidade Trans | Foto: Divulgação
Sarah Fagundes

Em dias e épocas difíceis, como a que estamos passando em nosso país, continuamos a nos deparar com mortes LGBTs. Entra ano, passa ano, e vidas continuam a serem ceifadas de forma brutal e desumanas. Especialmente no caso das travestis e transexuais. Porque quando falamos dessas mortes não estamos falando de mortes naturais, mas da forma como elas sofreram: mortes brutais em que o assassino homofóbico age com naturalidade ao tirar a vida de suas vítimas, expressando seu desejo de eliminá-las do mundo. Nos últimos dez anos nosso país ficou conhecido por ser o que mais mata pessoas LGBT no mundo.

Hoje, dia 14, faço esse texto para dizer o quanto é revoltante saber que 2018 foi o pior ano no índice de assassinatos brutais contra Travestis e Transexuais, chegando ao revoltante índice de 6 travestis ou transexuais, gays e lésbicas assassinadas por semana. Essas pessoas têm sido assassinadas em nome de Deus, com discursos de honra e de defesa da família.

Até onde sabemos, o cristianismo prega um Deus de amor, paz, fraternidade. Mas é justamente o contrário que se expressa nesses crimes de ódio. Sabemos que o nosso país registra 1 morte a cada 16 horas no brasil, pelo simples fato de sermos o que somos. A sociedade continua a perseguir a comunidade LGBT e isso tem se intensificado no governo Bolsonaro que legitima esse discurso.

Entra 2020, e os casos de assassinatos continuam. Não estamos nem no final de janeiro e já assistimos a três homicídios ligados a Travestis que perderam suas vidas simplesmente por serem quem são, que apenas queriam viver e serem felizes.

Amanda C. Silveira, 37 anos, natural de Charqueadas (RS), morta a tiros dentro da sua residência por uma pessoa que ainda não foi identificada. Os motivos a polícia também não esclareceu.

Luana Fontes da Silva, 24 anos, natural de Maceió (AL), estava em Curitiba (PR) quando foi abordada por um motoqueiro e levou um tiro na nuca. Segundo a polícia, o crime foi motivado por uma disputa de ponto.

Paulinha, 24 anos, foi morta a facadas dentro de uma lanchonete na cidade de Deodápolis (TO). Um homem simplesmente entrou no estabelecimento e desferiu várias facadas. A vítima tentou correr, mas caiu e o assassino continuou a desferir sem parar vários golpes até a vítima ficar sem vida.

Agora eu pergunto: isso é normal para nosso país? Pessoas como eu devemos andar prevenidas por não sabermos se quando sairmos de casa iremos voltar com vida, ou se iremos parar em um hospital? Essas perguntas eu me faço todos os dias. E não sou só eu, mas toda a comunidade LGBT que passa por isso todos dias, apenas por sermos o que somos, uma peça às margens da sociedade! É assim que devemos ser então? Andar escondidas com medo, não importando quem somos, se temos direitos enquanto seres humanos? A sociedade capitalista tem oprimido LGBTs, mulheres, negras e negros, indígenas, cada um de nós por sermos quem somos.

A batalha jamais vai acabar, mas ela pode mudar de rumo se unirmos nossas forças, darmos as mãos, e sair à luta sem medo de enfrentar a opressão porque ser o que somos não nos faz menos que ninguém!

Um olhar sobre as estatísticas de violência LGBTfóbica no Brasil nos revela algo assustador: não só os números são gritantes como aumentam a cada ano. No país com o maior número de assassinatos motivados por orientação sexual ou identidade de gênero, a criminalização efetiva da LGBTfobia não é apenas necessária, é urgente. Essa é, contudo, apenas uma das medidas necessárias para combater a violência e a opressão.

Os homicídios são a parte mais escancarada do problema, mas não a única. O assédio nas escolas, discriminação no trabalho ou até mesmo em casa são constantes na vida das LGBTs. Isso gera, também, uma maior taxa de suicídio entre nós. Esses crimes, contudo, não são punidos conforme o que são. Hoje já temos uma lei específica contra a LGBTfobia, mas que ainda ignora a motivação homofóbica ou transfóbica desses assassinatos e agressões.

Nenhum dos últimos governos tomou medidas para defender a vida das LGBTs. Bolsonaro, ainda, busca superar os anteriores sendo não apenas conivente mas um entusiasmado apoiador da violência LGBTfóbica. Sua declaração de que “ter filho gay é falta de porrada” é um bom exemplo de que nosso atual presidente está do lado dos agressores.

Ao seu lado, Damares Alves deixa claro que o Ministério dos Direitos Humanos não defenderá os direitos das LGBTs. É preciso criminalizar efetivamente a LGBTfobia já e seguir na luta contra a opressão. Estamos ao lado daqueles que acreditam que, nesse momento, devemos não apenas barrar qualquer tentativa de retrocesso nos direitos às LGBTs, mas avançar no combate à opressão.

A criminalização da LGBTfobia, aprovada no STF, foi um importante passo desse longo caminho. Lutamos também contra o projeto Escola Sem Partido, pela inclusão dos debates sobre gênero e sexualidade para que nenhum jovem LGBT tenha que largar os estudos ou sofrer assédio em ambiente escolar. Lutamos por políticas efetivas que garantam o emprego e a saúde para as LGBTs, para não morrermos nem de fome nem por falta de atendimento.

E enquanto vivermos sob um Estado que se recusa a garantir a vida das LGBTs, defendemos que a classe trabalhadora tome essa defesa em suas próprias mãos, se organizando coletivamente para combater a violência.