Uma semana após a execução de Clodoaldo Santos, o Barriga, liderança do movimento SOS Emprego em Sergipe, fica cada vez mais evidente o caráter político desse crime. Vários integrantes do movimento no município de Barra dos Coqueiros denunciam ameaças e movimentações suspeitas.

O Portal do PSTU conversou com Vera e Willames Santos, irmãos de Barriga, que relataram o clima de medo e apreensão na região. Mas mesmo com todas as dificuldades, não arrefecem sua disposição de lutar. “Vamos honrar o nome de Clodoaldo”

Portal do PSTU -Há claros indícios de execução do Clodoaldo Santos (Barriga). Vocês acreditam que a motivação do crime foi a atuação do SOS Emprego na região?

Valéria – Olha, sobre o assassinato do meu irmão, eu acredito sim que foi uma execução, uma retaliação ao movimento SOS porque ele estava ganhando corpo, espaço. O movimento estava crescendo muito e queira ou não, ele era o porta-voz, quando alguém precisava dar uma entrevista e aparecer, era sempre ele. Então, ele era visto como um líder, as pessoas não entendem que o SOS é um grupo que todo mundo opina, que todo mundo fala. Mas como ele aparecia mais, era visto como um líder. E assim, ele não tinha inimigo nenhum, nunca discutia ou entrava em briga. Nunca. Era considerada aquela pessoa… Um bom samaritano, sabe? Aquela pessoa que você podia ligar, ir na casa, que sempre ia ajudar. Ele não estava fichado (empregado), trabalhava descascando coco, ganhava 10 centavos por coco, para pagar a pensão dos filhos, para não deixar faltar as compras de casa.

Corpo de Barriga

Depois dos assassinatos houve ameaças contra vocês, inclusive com carros circulando entorno da casa. É isso mesmo?

Valéria – Em relação às novas ameaças, a gente está denunciando esses carros estão rodeando nossa casa. Hoje não apareceu ninguém, então o fato de termos denunciado na mídia pode ter assustado eles um pouco.

Também surgiu boatos de que havia uma lista com cinco pessoas para serem executadas, e o primeiro seria Clodoaldo, o que realmente aconteceu. Então, quem são as outras pessoas que fazem parte dessa lista? Os principais coordenadores, que dão a cara a bater? Então, a gente não sabe quem está nessa lista e quem são os mandantes.

E a única coisa que eu, assim como a cunhada e o irmão dele pedimos é justiça, que esse crime seja elucidado, que se pague. Que a gente possa sair na rua novamente sem medo de sofrer retaliação.

Willames – É, realmente, tanto o movimento está sendo ameaçado, com uma suposta lista com cinco membros do SOS Emprego. Nosso movimento é grande e abrange 16 municípios. Então querem calar nossa voz. Tem um carro prata andando em volta da minha casa. Agora tem um Corolla e a gente fica apreensivo já que a gente tá mexendo com os grandões e com os patrões. Em Barra dos Conqueiros, onde moro, o prefeito recebe milhões de reais em ICMS. Tem a parte do sindicato que recebe uma verba extra. E tem a parte dos agenciadores que recrutam mão de obra e cobram mil reais do trabalhador para empregá-lo na refinaria. O movimento conquistou 450 vagas na empresa, ou seja, isso é menos 450 mil reais para os agenciadores. Todo o movimento fica à mercê desses meliantes.

Como o movimento está reagindo. Quais ações vocês pretendem realizar?

Valéria – O movimento está bastante unido, dando muito apoio, a CSP-Conlutas e a Vera Lúcia estão vendo uma forma de ajudar a viúva, porque ele deixou três filhos, e vendo uma forma de buscar um meio de proteção, além de nos ajudar financeiramente. Eu vivo dos meus bolos e salgados, meu marido que faz parte do SOS Emprego, está há 4 anos desempregado, e desde que está acontecendo isso eu não estou conseguindo pegar as minhas encomendas porque o povo ficou com medo de vir à minha casa.

Willames – O movimento vai fazer um ato na frente do Palácio do Governo exigindo que os culpados sejam punidos e os mandantes presos (o ato aconteceu nesse dia 21). O movimento se fortaleceu mais. Temos o apoio do PSTU e da CSP Conlutas. Mas, infelizmente, eles levaram a vida do meu irmão e tão ameaçando todo o movimento e eu, irmão do Barriga, estou à mercê dos marginais. Mas a gente não desistiu do movimento.
No domingo eu liguei para a polícia várias vezes, mas a polícia não apareceu por lá. A gente tá cobrando. A OAB [Ordem dos advogados do Brasil) e a CSP [Conlutas] estão nos apoiando e esperamos que esse assassinato seja solucionado o mais rápido possível.
Nesse momento a prioridade do movimento é a nossa segurança. O movimento tá atuante. Estamos buscando os meios legais para garantir nossa segurança e estamos divulgando as ações. O SOS não vai desistir dessa luta. Vamos honrar o nome do Clodoaldo.

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