Seguindo a tendência do aumento de preços nas tarifas de ônibus, que estão ocorrendo em todo o país, foi aprovado pelo prefeito de João Pessoam (PB) um reajuste de 10% nas passagens de ônibus municipais. Este já é o segundo aumento do ano: as passagens já subiram outros 10,5% em janeiro, quando os empresários alegaram aumento do preço do combustível.

Sem deixar barato, os estudantes secundaristas vêm atuando em manifestações de rua, entre passeatas e bloqueios, pelo reajuste zero, além de reivindicarem o passe livre. Já foram três os atos desde a última sexta – dia em que o conselho tarifário da capital decidiu pelo aumento – e a tendência de tais atos é crescer. Na primeira fomos até o local da reunião dos conselheiros (na STTrans), onde fomos duramente agredidos pela polícia de choque do prefeito Cícero Lucena do PSDB; na segunda literalmente paramos a cidade em dois atos simultâneos por volta de 4 horas; e na terceira, repetimos a dose da segunda, apenas dois dias depois, paralisando o centro da cidade e a principal avenida pessoense, a Epitácio Pessoa. Todas elas acompanhadas pela tropa de choque da Polícia Militar e sua cavalaria, numa clara tentativa de intimidar o movimento.

Mesmo assim, os estudantes continuam a se organizar, indo para as manifestações no “pula-roleta”, e colocando na prática o passe livre, entrando pela frente dos ônibus sem pagar passagem, para o ódio dos empresários e do prefeito Cícero. Para aumentar ainda mais esta raiva dos ricos e empresários, a juventude nas ruas vem quebrando os ônibus, seus vidros e lanternas, além de pichar a lataria com dizeres de reajuste zero e passe livre, em ações espontâneas que expressam toda a sua revolta.

O aparato repressivo do sistema contra o movimento

A mídia local, braço direito do governo e das oligarquias locais, está realizando uma campanha ferrenha contra o movimento, taxando-o de baderneiro e de manipulado por partidos radicais como o PSTU. E existe já uma forte perseguição de nossos companheiros, que vêm construindo as lutas junto dos estudantes.

No último sábado, a imprensa divulgou que o Ministério Público quer identificar os “responsáveis” pelo movimento, com a ajuda da PM e da Secretaria de Segurança Pública, abrindo inquérito policial contra os mesmos. É uma vergonha que o MP se coloque enquanto segunda coluna dos empresários e da prefeitura, logo atrás dos batalhões da tropa de choque, na repressão ao movimento estudantil quando, pelo contrário, deveria estar investigando as inúmeras denúncias de desvio de verbas de obras superfaturadas da cidade por parte da prefeitura, como o Viaduto Cristo Redentor (o Viaduto Sonrizal – com denúncias de desvio da ordem de R$ 7 milhões), e também a caixa preta das empresas de transportes coletivos, que possuem 10 anos de concessão pública para explorar um serviço que deveria ser público e gratuito, e que pertencem quase todas a um mesmo dono – das seis empresas existentes, quatro são de um mesmo dono, Fernando Marques.

O PSTU/PB reafirma que seu lugar sempre será ao lado dos estudantes, que lutam pelos seus direitos e contra os empresários de transportes coletivos, que tanto exploram, com o aval do Estado, a classe trabalhadora pessoense e seus filhos; e que não deixará de estar presente nas lutas junto ao movimento, apesar da repressão de Cícero Lucena e seus aliados.

Nasce o MRS na luta, contra a direção pelega da UJR

Além da revolta da juventude, estas manifestações se assemelham em outro ponto com as de Salvador. Aqui, também tivemos traições das direções tradicionais do movimento: Dois DCEs votaram a favor do aumento no conselho tarifário (o da UFPB, que é dirigido pela UJS, e o da UNIPÊ). O mais grave foi a atuação da APES, entidade municipal dirigida burocraticamente pela UJR (União da Juventude Rebelião), que desde antes do anúncio do valor do aumento vinha articulando um rebaixado acordo “entre as coxas” com a prefeitura e o sindicato dos empresários: em que conseguiram meio passe para estudantes de cursinho e supletivo, mais 2 postos de venda de tíquetes de meia passagem nos bairros, aumento no nº de talões de tíquetes por pessoa, e a participação de sua entidade no conselho; mas nada acerca da redução das passagens, e com a promessa de que os estudantes “não fariam baderna” – leia-se mobilização e organização. A direção da APES e da Rebelião inclusive chegaram a agredir fisicamente um companheiro nosso, por estar mobilizando no maior colégio da cidade, em cujo grêmio participam: como se estudante agora “tivesse dono”.

A maioria do movimento estudantil pessoense tem hoje a clareza do que é uma direção stalinista e burocrática como a UJR, que privilegia acordos de cúpula entre a burguesia e seu governo. E é nessa conjuntura que está nascendo concretamente e com peso, nas lutas, o MRS e uma nova leva de ativistas do movimento secundarista.