Henrique Canary, da Secretaria Nacional de Formação

A concepção leninista de internacionalismo proletário é uma das maiores contribuições ao marxismo revolucionário. Em 1920, durante o 2º Congresso da Internacional Comunista, Lenin expunha suas elaborações sobre o tema: “Qual é a idéia mais importanteDe forma geral, poderíamos dizer que a concepção leninista de internacionalismo proletário abarca os seguinte pontos:

  • 1. A situação mundial se caracteriza pela decadência da economia capitalista e pela superprodução de mercadorias nos países imperialistas.

    Os grandes monopólios de cada país recorrem ao poder do seu próprio Estado para defender seus interesses econômicos. Isso leva a uma luta mais ou menos aberta entre os países imperialistas por novos mercados e pela redistribuição das velhas colônias. A violência contra os países coloniais e as guerras são a conseqüência lógica dessa realidade.

  • 2. A igualdade entre as nações é absolutamente impossível sob o capitalismo.
  • Qualquer “organismo internacional”, supostamente “neutro”, criado pelas nações imperialistas, nada mais é do que um instrumento para enganar as massas dos países explorados. Lenin chamava esse tipo de organização de “antro de bandidos”. Passados oitenta anos, o apoio descarado da ONU à ocupação do Iraque demonstra a veracidade da análise leninista. A verdadeira igualdade entre as nações só será possível sob o regime da ditadura mundial do proletariado.

  • 3. Para facilitar sua dominação, o imperialismo mantém uma divisão artificial das nações.
  • Em alguns casos, separa em territórios diferentes um mesmo povo (por exemplo, os curdos que estão espalhados por vários países do Oriente Médio) ou, o que é outra face da mesma política, impede que as nações pequenas possam ser independentes das grandes nações (por exemplo, os bascos e os galegos que vivem sob o jugo da dominação espanhola). Como parte da luta contra o imperialismo, o proletariado defende o direito à autodeterminação dos povos, inclusive à sua separação e independência.

  • 4. O objetivo principal de toda a política internacionalista deve ser o de unificar o proletariado de todos os países na luta conjunta contra a burguesia mundial e contra o imperialismo, nosso principal inimigo.
  • Não existe força mais reacionária e mais destruidora do que o imperialismo. Independentemente de suas vestes democráticas, o imperialismo é sempre a ditadura dos monopólios. Em caso de enfrentamento entre uma nação imperialista e uma nação colonial ou semi colonial, o proletariado se posicionará (independentemente de quem tenha atacado primeiro) pela vitória da nação oprimida e pela derrota do imperialismo, não importando o quão “democrático” for esse imperialismo e quão “ditatorial” for o regime da nação oprimida. A derrota do imperialismo em qualquer conflito será sempre uma vitória do proletariado mundial.

  • 5. Uma vez tomado o poder, a tarefa fundamental do proletariado vitorioso será a de colocar todos os recursos do novo Estado proletário a serviço da luta revolucionária mundial contra o imperialismo.
  • Mesmo tomado o poder de Estado, o proletariado não poderá construir o socialismo de forma isolada em um só país, por mais desenvolvido que seja. A restauração do capitalismo na ex-URSS demonstra com total exatidão esta tese leninista. A ditadura do proletariado pode somente criar as condições necessárias para a construção do socialismo (expropriar a burguesia, desenvolver a indústria etc), mas não pode criar o próprio socialismo pelo fato de que a burguesia mundial continuará firme e forte, podendo a qualquer momento invadir militarmente ou conspirar contra a nação proletária pela volta ao poder da burguesia.

  • 6. A forma privilegiada de união entre as ditaduras proletárias que surgirão em várias partes do globo é a federação voluntária de repúblicas soviéticas livres.
  • Somente esse tipo de união poderá acabar com a desconfiança das nações menores com relação às maiores. O proletariado dos grandes países avançados conquistará aos poucos a confiança do proletariado das nações menores. Isso é assim porque a opressão de uma nação sobre a outra envolve fatores culturais e históricos que não se resolvem pela simples tomada do poder, mas sim por uma política consciente de construir condições de igualdade entre as várias nações proletárias. Nesse período de transição, a federação livre (ou seja, a independência de uma nação com relação a outra) é ainda a melhor forma de integração internacional.

  • 7. O proletariado apoiará os movimentos de libertação nacional dos países coloniais e semicoloniais, mas com a condição de completa independência política do partido revolucionário.
  • Nessa luta, seus aliados fundamentais são as massas camponesas e a pequena burguesia empobrecida e não a burguesia nacional supostamente “patriótica” ou “progressista”. Essa tese fundamental da concepção leninista foi totalmente prostituída pelo stalinismo que tinha como política permanente o apoio incondicional às burguesias coloniais e semi coloniais por seu suposto caráter “anti-imperialista”. Hoje em dia, essa mesma deturpação stalinista é revivida no Brasil por várias organizações “de esquerda” que insistem em apoiar os setores “produtivos” da burguesia (supostamente patrióticos), opondo-os artificialmente aos setores “especulativo-financeiros”.

  • 8. Em caso de guerra entre países, o proletariado definirá sua posição a partir do caráter de classe da mesma.
  • Lutará contra as guerras reacionárias de rapina e apoiará as guerras revolucionárias e anti-imperialistas. De nada serve ao proletariado uma reivindicação de “paz” que não leve em conta o caráter da guerra em curso. Por exemplo, a missão das tropas brasileiras no Haiti é justamente garantir a “paz”, mas uma “paz” muito especial: a “paz” entre o povo explorado e os monopólios, a “paz” da bota de guerra brasileira a serviço do imperialismo americano.

  • 9. O objetivo imediato da política proletária é a derrota da burguesia nacional, a vitória da revolução socialista e a instauração da ditadura do proletariado.
  • Ter como objetivo estratégico a revolução proletária mundial não significa deixar de lutar pela derrota da burguesia em cada país. Sem concentrar em suas mãos o poder de Estado, ou seja, sem a instauração da ditadura do proletariado em pelo menos algumas dezenas de países, a classe trabalhadora não poderá derrotar o imperialismo e a burguesia mundial. A revolução proletária em um determinado país é o palco inicial, o primeiro ato da revolução proletária mundial.

  • 10.O internacionalismo proletário de Lenin deixou marcas profundas no movimento revolucionário mundial.
  • Seu trabalho incansável para construir um instrumento político mundial teve continuidade no esforço de Trotsky por fundar a IV Internacional em 1938.

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