Lenin demonstrou o domínio do capital financeiro, a partir da fusão do capital bancário com o industrial, sobre o modo de produção capitalista. Esse conceito está mais atual do que nunca num mundo marcado por guerras e revoluçõesLenin considerou que o ponto central do programa dos revolucionários deve ser a distinção das nações entre opressoras e oprimidas, o que constitui a essência do imperialismo.

A chamada “globalização” trouxe o debate sobre essa definição, e não poucos autores e organizações marxistas passaram a questionar a validade da definição leninista de imperialismo. Nós, ao contrário, acreditamos que a definição leninista se mantém atual.

Uma fase histórica especial do capitalismo

O imperialismo é uma fase histórica especial do capitalismo. Mas que transformações econômicas foram essas que marcaram essa nova fase histórica? Desde um ponto de vista econômico, o imperialismo (ou a época do capital financeiro) é o grau superior do desenvolvimento do capitalismo, precisamente o grau em que a produção é tão grande e gigantesca que a livre concorrência foi substituída pelo monopólio, isto é, a essência econômica do imperialismo.

As expressões atuais dos monopólios são as grandes empresas multinacionais, empresas gigantescas, que foram muito além das fronteiras nacionais, organizando sua produção de fato em uma escala global, monopolizando ramos inteiros da produção. Isso só confirma a tendência descrita por Lenin.

Outro aspecto resgatado por Lenin foi o domínio do capital financeiro, a partir da fusão do capital bancário com o industrial, sobre o modo de produção capitalista. Até os piores adversários de Lenin confirmam o domínio do capital financeiro no mundo atual.

A exportação de capitais, que, segundo Lenin, caracterizava o imperialismo, se agigantou, tanto na forma de capital-dinheiro, vide o crescimento da dívida externa em todo mundo, como na forma de empresas, com a produção mundial.

Além disso, outras formas de exploração entre os países foram desenvolvidas como a Propriedade Intelectual, que passou a ter uma grande importância com o desenvolvimento de novos ramos como a informática e a chamada exportação nos setores de serviços.

Uma época de guerras e revoluções

A existência dos monopólios gerou uma nova situação no capitalismo: “Em seu conjunto, o capitalismo cresce com maior rapidez (…), mas esse crescimento não é somente cada vez mais desigual, senão que essa desigualdade se manifesta de um modo particular na decomposição dos países onde o capital ocupa posições firmes”, afirma Lenin.

O imperialismo tende a aumentar as desigualdades entre os países ricos e pobres, que em 1780 era de três a um. Hoje é de setenta a um.

O outro lado da desigualdade é a decomposição e o parasitismo. Sua maior expressão são os Estados Unidos. Com uma dívida nacional de U$ 7 trilhões, que cresce à razão de U$ 1,83 bilhão ao dia, esse país funciona como um parasita, absorvendo, na forma de repatriação dos lucros, pagamento das dívidas externas etc., as riquezas geradas pelos trabalhadores no resto do mundo ou roubando diretamente pela força, como é o caso do Iraque.

Mas a questão central do conceito de imperialismo é a conclusão política que Lenin tirou desse processo das transformações econômicas: o controle do mundo por um punhado de potências tem como conseqüência o aumento das desigualdades mundiais e uma nova época de enfrentamentos e guerras, que expressa a decadência do sistema.

É impossível que as nações semicoloniais possam chegar a avançar em seu desenvolvimento e superar as travas impostas pelo capital financeiro pela via do desenvolvimento capitalista.

A desigualdade é a forma com a qual o sistema funciona e se reproduz. Por isso, o imperialismo é a ante-sala da revolução social do proletariado. E isso foi confirmado em 1917.


O ESTADO NA ÉPOCA DO IMPERIALISMO

O que assistimos atualmente é um processo de recolonização dos países periféricos


Com a globalização surge um debate sobre a época atual cuja máxima expressão está no livro Império de Negri e Hardt. Uma das teses desses autores é que o desenvolvimento das empresas em rede transformou o Estado-nação em algo historicamente obsoleto. As multinacionais já não teriam nenhuma relação com suas matrizes e, portanto, já não teriam necessidade de um Estado para defendê-las na concorrência.

Se, por acaso, Negri estivesse correto, o ponto central do programa dos revolucionários de luta contra o imperialismo, estaria completamente equivocado.

Mas o que assistimos na realidade não é o fim do Estado-nação, mas um processo de recolonização e o reforço de um dos aspectos centrais das características dos Estados imperialistas definido por Lenin: “O imperialismo, época do capital bancário, época dos gigantescos monopólios capitalistas, época de transformação do capitalismo monopolista em capitalismo monopolista de Estado, mostra o esforço extraordinário da ‘máquina do Estado’, no crescimento inaudito de seu aparelho burocrático e militar em ligação com o esforço da repressão contra o proletariado, tanto nos países monárquicos como nos países republicanos mais livres”.

Essas características ficam claras no orçamento militar do Estado norte-americano de U$ 500 bilhões, o que corresponde a U$ 1.360 bilhão por dia, fora os U$ 60 bilhões que consomem as tropas no Iraque.

A ocupação militar concentra o que se faz diariamente pela via “pacífica” dos acordos de livre-comércio: a destruição de toda soberania dos países semicoloniais.

Mas o veículo da destruição da soberania dos países semicoloniais não é outro que não o Estado (norte-americano, inglês ou francês). E esses Estados não são outra coisa que a expressão dos interesses de suas empresas. Antes de virar vice-presidente, Dick Cheney era diretor-executivo da Halliburton, empresa do setor energético, grande prestadora de serviços para o Pentágono e para a indústria petrolífera. Antes disso, quando era o chefe do Pentágono, Cheney dirigiu a privatização das operações logísticas do Exército americano e, até a senhora Cheney, tinha assento no conselho de administração da Lockheed Martin, a empresa que ocupa o primeiro lugar na venda de armas para o Estado norte-americano (U$ 14,69 bilhões).

O orçamento militar dos EUA está de acordo com o poderio de suas empresas. No ranking das 500 maiores empresas multinacionais, os EUA detêm 227 (45%). O Estado imperialista vai seguir funcionando como o ariete dos bancos e das grandes empresas, na disputa do mercado mundial.

Por isso, é essencial para o programa dos revolucionários entender a divisão entre as nações opressoras e oprimidas. Na época atual, em que um punhado de potências, representando menos de um quarto da população mundial, controla econômica, política e militarmente o mundo, isto constitui o traço essencial da época imperialista.

Assim, como disse o arqui-reacionário economista no New York Times, Milton Friedman: “A mão oculta do mercado nunca funcionará sem o punho oculto”. Ele somente se equivoca no caráter “oculto” do punho.
Post author João Ricardo Soares, da Secretaria Nacional de Formação do PSTU
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