Redação

Schmidt Von Köln, da Alemanha, especial para o Opinião Socialista

“Revoluções são festas dos oprimidos e dos explorados. Em nenhum outro momento, as massas populares encontram-se em condições de avançarem tão ativamente enquanto criadores de uma nova ordem social como no tempo da Revolução.” Lênin

A história da Revolução de 1917 consagrou de maneira plena o método consciente, e organizado, de intervenção do Partido Bolchevique. Lênin, principal dirigente desse partido, elevou o Outubro de 1917, à condição de maior referência dos projetos de vitória proletária na revolução mundial.

Imperialismo: a ordem dos grandes monopólios

Ingressando no movimento revolucionário russo em 1887, Lênin defendeu em seus escritos revolucionários que, já no início do século XX, o capitalismo mundial atingira o estágio imperialista. Trata-se do período em que os conglomerados capitalistas “cartéis, trustes, consórcios internacionais” assumiram decisiva importância, ao substituírem o capitalismo competitivo pelo capitalismo monopolista.

O capital bancário fundira-se com o capital industrial, gerando o capital financeiro. Iniciou-se, então, a exportação de capital para países estrangeiros, dividindo o mundo entre os países mais ricos.

Assim, os novos obstáculos situados no caminho da luta econômica e política do proletariado, a ruína, os horrores e a brutalização da I Guerra Mundial, haviam transformado o estágio imperialista na era da revolução proletária socialista.

A luta contra a guerra

As novas guerras pela dominação do mundo e de mercados para o capital financeiro haviam adquirido a natureza de guerras imperialistas, ou seja, guerras de anexações, conquista e roubo, dinamizadas por diferentes grupos de potências.

Lênin desvendou corretamente os objetivos perseguidos pelos dois principais grupos inimigos de governos burgueses imperialistas na I Guerra. Defendeu que os partidos operários assumissem o derrotismo revolucionário perante todas essas guerras, contra o governo beligerante de seu próprio país, bem como a transformação da guerra imperialista em guerra revolucionária, como a única forma de pôr fim à guerra imperialista em andamento.

Além disso, Lênin denunciou e combateu a traição da II Internacional e de seus partidos, que se colocaram a favor da guerra imperialista. Lênin defendeu a criação de uma nova Internacional Revolucionária, como a melhor forma de aproveitamento da crise econômica e política gerada pela guerra, para intensificar a luta pela revolução socialista.

“É preciso uma nova revolução”

Ao chegar à Rússia em 3 de abril de 1917, poucos dias após a conclusão vitoriosa da revolução democrático-burguesa de fevereiro, Lênin trazia consigo uma clara compreensão do novo estágio das contradições materiais e superestruturais do capitalismo imperialista.

Já nos primeiros dias após a derrubada do milenar absolutismo czarista pela Revolução de Fevereiro, Lênin, frente ao novo poder instituído pelo Governo Provisório, compreendeu, ainda em seu exílio na Suíça, a necessidade de ser elaborada em palavras simples e claras, uma nova tática revolucionária para a Revolução Russa.

Em suas Cartas de Longe, redigidas no exílio, Lênin desenvolveu essa nova tática, posicionando-se claramente contra o patriotismo burguês, exigindo a denúncia dos tratados de aliança com os imperialistas, a transformação da guerra imperialista em guerra revolucionária, como meio de assegurar pão, paz e liberdade. Por isso, ao desembarcar em Petrogrado, Lênin conclamou o proletariado a não depositar nenhuma confiança no Governo Provisório de coalizão de classes.

Lênin posicionou-se, então, a favor de uma segunda revolução na Rússia: uma revolução proletária, apoiada pela vasta maioria dos camponeses pobres, que, destruindo completamente a velha máquina de Estado, transferiria o poder político dos capitalistas e latifundiários para um governo dos trabalhadores e camponeses.

Rússia: o estopim da revolução mundial

Para Lênin , o êxito definitivo da construção do socialismo na Rússia poderia apenas ser atingido se estimulado ativamente pela vitória da revolução proletária socialista nos principais países capitalistas da Europa ocidental e dos EUA, emergindo das contradições insolúveis decorrentes da guerra.

Em seu modo internacionalista de apreciar a luta de classes, Lênin entendeu que o proletariado russo não poderia, com suas próprias forças, conduzir a revolução socialista à vitória, porém poderia, em certo sentido, iniciá-la, devendo tomar o poder e criar as melhores condições para que seus aliados de classe na Europa e nos EUA aderissem à batalha decisiva pelo socialismo.

Caso isso não se desse, mesmo que fosse vitorioso na Rússia, o proletariado iria fracassar, a menos que fosse capaz de resistir até receber o poderoso apoio dos trabalhadores revolucionários vitoriosos nos principais países capitalistas.

A batalha interna no partido bolchevique

Em virtude de sua nova elaboração tática, Lênin se opôs abertamente à orientação defendida pela maioria da direção de seu próprio partido (na época dirigido por Kamenev e Stalin), que, em março de 1917, defendiam o “apoio crítico” ao governo provisório frente-populista.

Chegando em Petrogrado, na noite de 3 de abril, Lênin se encontrou com a dualidade de poderes “Sovietes vs. governo provisório” existente.

Apoiou-se então na vanguarda proletária e, sobretudo, nas forças proletárias de Vyborg, em Petrogrado, e de outros grandes centros da Rússia. Em suas Teses de Abril, defendeu que não houvesse nenhum apoio ao governo provisório burguês-latifundiário. Também que os Sovietes de Deputados Trabalhadores, Soldados e Camponeses são a única forma possível de governo revolucionário. O objetivo não deveria ser uma república parlamentar, mas sim uma república dos deputados trabalhadores, soldados e camponeses. Deveria ser feito o confisco e a nacionalização de todas as terras, que seriam tomadas e colocadas à disposição dos Sovietes de Deputados Trabalhadores Rurais e Camponeses. Pela fusão de todos os bancos em um único banco nacional, submetido ao controle dos Sovietes de Deputados Trabalhadores. Contra o defensismo na guerra, e pela criação de uma nova Internacional Revolucionária.

Lênin defendeu as Teses de Abril em aberta oposição às posições defendidas por Stalin e Kamenev. Depois de um duro debate interno, as Teses acabaram por prevalecer, nas Conferências bolcheviques em Petrogrado e na VII Conferência Bolchevique de Toda a Rússia, realizada em abril.

Um partido para tomar o poder

Uma das características fundamentais da estratégia revolucionária de Lênin foi a construção de um partido proletário marxista-revolucionário. Esse partido deve ser dirigido preponderantemente por revolucionários profissionais e trabalhadores conscientes, e apoiado no princípio organizativo do centralismo democrático. Deve ter um programa claro para a derrubada da burguesia, por meio da tomada do poder pelo proletariado.

Lênin demonstrou que o partido revolucionário não pode cumprir jamais o seu papel histórico embriagando-se em suas próprias vitórias, deixando de reconhecer as deficiências de seu trabalho de ligação com as mais amplas massas trabalhadoras.

No quadro da nova situação política russa e internacional, surgida com a Revolução de Fevereiro, os partidos dos socialistas-revolucionários e dos mencheviques posicionaram-se publicamente, nos Sovietes e diante das massas, a favor do defensismo da Rússia na guerra imperialista. Dessa maneira, defenderam seu próprio ingresso no governo provisório, alegando ser, assim, possível mudar a política imperialista por este praticada.

Diante desse fato, Lênin defendeu a estratégia de promover relações mais estreitas, e até mesmo a fusão de suas forças apenas com grupos e tendências proletárias que se encontravam sustentando posições políticas realmente revolucionário-internacionalistas, como o grupo dirigido por Trotsky.

A incorporação de novos agrupamentos e tendências revolucionários fortaleceu o potencial de luta do antigo Partido Bolchevique, aglutinando todos os melhores lutadores do movimento proletário russo de então na luta comum em prol da revolução proletária.

O novo partido de Lênin e Trotsky demonstrou que, em um cenário de profunda crise revolucionária, seu impacto poderia aumentar qualitativamente, encabeçando ações muito superiores à sua dimensão puramente quantitativa.

Preparando a vitória

O partido dirigente de Lênin mostrou-se capaz de intervir, com arte e talento, rumo à tomada do poder.

Com disciplina e ousadia, os bolcheviques conseguiram combinar distintas táticas, em meio à rapidez inacreditável do furacão revolucionário.

Tiveram a lucidez para conter o processo insurrecional espontâneo dos trabalhadores de 3 e 4 de julho, quando não existia ainda condições para a luta pelo poder, quando os Sovietes ainda tinham uma maioria de mencheviques e socialistas-revolucionários. Apenas desse modo, foi possível, já em 31 de agosto, a conquista da maioria nos Sovietes pelos bolcheviques nas principais cidades “sob à palavra de ordem ‘Todo o Poder aos Sovietes!'”.

Nesse momento, Lênin é Presidente do Soviete de Petrogrado, e cria o Comitê Militar Revolucionário, quartel-general da insurreição armada.

Uma vez obtida a maioria nos Sovietes, Lênin passou a defender que os bolcheviques deviam e podiam tomar imediatamente o poder, marcando antecipadamente a data para a deflagração da insurreição.

Presente clandestinamente em Petrogrado em 10 de outubro, Lênin contribuiu decisivamente para que sua proposta de preparação e desencadeamento imediato da insurreição fosse aprovada por 10 votos a 2, na reunião do Comitê Central do Partido Bolchevique.

Assim, o partido dirigente de Lênin foi capaz de desempenhar, em 25 de outubro de 1917, com talento e habilidade, a arte da insurreição socialista.

Varrendo da face da Terra os órgãos de poder da burguesia e do latifúndio russos, a insurreição consagrou a passagem de todo o poder de Estado ao II Congresso dos Sovietes de Toda a Rússia, aprovou os novos decretos sobre pão, paz e terra e elegeu o novo governo de Comissários do Povo (encabeçado por Lênin).

A Revolução Russa de outubro desencadeou a energia revolucionária de explorados e oprimidos de todo o mundo. Com uma dimensão jamais vista ao longo de todo o século XX, espalhou-se rapidamente pelas principais capitais e rincões do planeta, inspirando novos movimentos revolucionários proletários, populares e nacionais-libertadores.

Anos mais tarde, Lênin tombou em meio à luta travada contra a degeneração burocrática encabeçada por Stalin e seus aliados. Mas seu legado demonstra a todas as novas gerações de revolucionários marxistas que a luta de classes moderna, travada entre burguesia e proletariado, há de ser necessariamente conduzida por uma partido revolucionário de combate e a vitória do socialismo só pode ser plenamente realizada em âmbito internacional.

GLOSSÁRIO

Derrotismo revolucionário
Implica em não apoiar o governo e nem a sua guerra. Os bolcheviques se apoiavam nas derrotas militares russas para forjar a oposição ao governo e à sua guerra reacionária.

Governo Provisório
Governo de coalizão entre a burguesia (partido dos Cadetes) e os partidos operários (mencheviques e socialistas revolucionários – SR’s). Num primeiro momento, o príncipe Lvov esteve à frente do governo, mas, depois, foi substituído por Kerenski, líder dos SR’s.

Sovietes
Conselhos de operários, camponeses pobres e soldados instituídos nos seus locais de trabalho. Nos Sovietes eram eleitos os representantes dos trabalhadores que poderiam ter seus mandatos revogados pela própria assembléia do conselho.

Vyborg
Maior bairro operário de Petrogrado, onde os bolcheviques obtiveram uma enorme influência.