Mariucha Fontana

A luta sindical, sendo imprescindível, é limitada e insuficiente para vencer o capital`Sêlo

Os sindicatos surgiram no período de formação e de auge do capitalismo. Karl Marx e Friedrich Engels dedicaram muitas páginas à análise dos sindicatos. Engels, no livro “A condição da classe trabalhadora na Inglaterra”, afirma que “como escolas de guerra, os sindicatos não têm competidores”. Com esta idéia, buscava valorizar a união dos operários na luta contra o capital, que possibilitava uma preparação para a “batalha futura”. Para a batalha política do proletariado em direção a tomada do poder de Estado: o fim do trabalho assalariado e a implantação do socialismo.

Mas, mesmo Marx e Engels, que viveram sob o capitalismo da livre concorrência e não sob a época imperialista, já apontavam os limites do sindicalismo. Falavam de como a “prosperidade” industrial criava tentativas de comprar e corromper os operários; de como os líderes dos operários ingleses se transformavam num tipo de intermediários “entre o burguês radical e o operário”.

A luta sindical deve subordinar-se à luta política

Para os marxistas revolucionários, a luta econômica e sindical é parte fundamental da luta de classes, mas deve combinar e se subordinar à luta política, porque não é a luta mais importante e nem a única a ser travada.

Pelo contrário, o sindicalismo desenvolve espontaneamente tendências oportunistas, de limitação das lutas ao sistema capitalista e ao Estado Burguês.

Se o marxismo revolucionário sempre defendeu a participação dos revolucionários nos sindicatos e nas lutas imediatas dos trabalhadores contra todo ultra-esquerdismo, não dedicou menos esforços à luta contra o oportunismo. Este, desviando-se para o sindicalismo, adaptava-se ao reformismo e, em situações diretamente revolucionárias, representava a burocracia e a aristocracia operária, atuando ao lado da burguesia “democrática” contra a revolução.

Por isso, Lenin definia que os sindicatos e a luta sindical eram apenas uma “escola de guerra, não eram ainda a própria guerra” e que a consciência apenas sindical era uma consciência burguesa.

O combate ao sindicalismo e ao reformismo

As tendências ao revisionismo oportunista e as grandes polêmicas com este se manifestaram no Partido Social Democrata alemão (SPD), na década de 1890. Esta situação ecoou por toda II Internacional, através dos debates de Rosa Luxemburgo e outros. Eduard Bernstein afirmava ser “o movimento tudo e o objetivo final nada”, pregando a via pacífica para o socialismo, através da conquista de reformas sucessivas e da negação da ditadura do proletariado. Foi, neste mesmo período que Lenin enfrentou os economicistas (sindicalistas russos), antecipando na Rússia, em 1903, o que ocorreria em 1914, em toda a Europa. Ou seja, a ruptura dos revolucionários com a ala oportunista da social-democracia, que acabou apoiando a burguesia de seus respectivos países na Primeira Guerra Mundial.

O livro Que Fazer?, escrito em 1902, polemiza com a corrente economicista, acusando-a de ser apenas uma forma de Bersnteinismo, e defende a necessidade de um partido revolucionário que atue e conduza “num só feixe a luta econômica, política e teórico/ideológica”, em direção a tomada do poder.

Lenin afirmava que a luta econômica deveria subordinar-se à luta política revolucionária, pois a luta sindical, sendo imprescindível sob o capitalismo, por si só era estreita, porque convivia com este e apenas almejava vender a um preço melhor a mercadoria força de trabalho. Os economicistas rebatiam que não negavam a luta política, apenas entendiam que “a política acompanha docilmente a economia”. Ou seja, negavam a política revolucionária e defendiam na prática uma política sindical ou reformista, que se limita à denunciar o governo, visando reformas, através de leis que não suprimem a sujeição do trabalho ao capital.

Lenin defendia a necessidade de organizar um partido revolucionário, que subordinasse sua atuação sindical aos objetivos políticos revolucionários, participando e ajudando o movimento operário em todas as suas lutas, mesmo as mais modestas, mas que – ao mesmo tempo – realizasse agitação política revolucionária e combatesse o espontaneísmo e as ideologias burguesas e reformistas.

A atualidade do leninismo nesse terreno é inegável, pois nesta etapa de decadência imperialista, a burocracia e a aristocracia operárias estrangulam a independência dos sindicatos em relação ao Estado burguês, com a política de conciliação, e mantém seus privilégios, através da traição mais descarada e aberta aos interesses dos trabalhadores.

Post author Mariúcha Fontana, da redação
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