Nos dias 30, 31 de maio e 1º de junho, serão realizadas as eleições para a reitoria da Universidade Federal Fluminense (UFF). Entre os candidatos está o professor Cláudio Gurgel (Chapa 2), um dos dirigentes do Reage Socialista. Sua candidatura é apoiada pVocê saiu candidato pelo movimento para a reitoria da UFF. O que torna este processo eleitoral diferente dos outros, que justifique o lançamento da candidatura?
Cláudio Gurgel –
Este processo conta com um ambiente de retomada das lutas sociais, em que o projeto popular pode e deve se reapresentar diante da sociedade em seus diferentes espaços, institucionais, estaduais e nacionais. A conjuntura ainda é adversa, mas também a fazemos. Cabe portanto fazer a disputa e não esperar que a conjuntura por si mesma se altere e caia sorridente no nosso colo. Vale ainda considerar que a UFF aprovou a paridade no processo de escolha do seu reitor e seria de esperar que os movimentos valorizassem esta conquista com uma participação mais relevante.

Que programa defende a chapa 2 – a UFF que queremos para a Universidade ?
Gurgel –
O programa de reconstrução da universidade pública na UFF, muito referenciado nas pautas de reivindicação dos movimentos docente, discente e dos técnicos-administrativos. Disputa de verbas públicas, democratização da vida interna, aprofundamento da relação com a sociedade, revisão das terceirizações e eliminação de todas as formas de precarização do trabalho, recomposição da pós-graduação gratuita e extinção das fundações ditas de apoio à Universidade.

Como você avalia a última greve dos federais, no segundo semestre de 2005 ?
Gurgel –
Avalio bem, mas creio que podemos ampliar nosso espectro de apoio e prepararmo-nos melhor para uma intervenção semelhante. Penso que a greve de 2001 pode ser uma referência melhor.

Qual a sua posição em relação à reforma universitária ?
Gurgel –
Trata-se de um modelo mercantil que se pretende implantar, de aumento da dependência da universidade ao mercado. A única passagem interessante é o fim da reeleição para reitor. Fora isto, nada se aproveita.

A sua candidatura recebeu o apoio dos estudantes e dos trabalhadores reunidos no Encontro Estadual da Conlutas no Rio de Janeiro, no Conat e dos estudantes reunidos no Encontro Nacional de Estudantes, tendo sido aprovadas moções de apoio à Chapa 2. Estes fóruns foram impulsionados pela Conlutas e pela Conlute, claras alternativas político-organizativas à CUT e à UNE. Qual a sua posição frente ao processo de reorganização do movimento de massas em curso no país?
Gurgel –
Creio que há avanços na recomposição do movimento de massas. Mas penso que temos de crescer também no plano teórico, para compreendermos as razões de nossas dificuldades, de nosso distanciamento das grandes massas do povo e da incapacidade de dar direção ao processo político. Penso também que continuamos a subestimar a questão da comunicação de massa, aspecto que precisa de um projeto de esquerda capaz de responder de modo adequado ao desafio e disputa com poder midiático burguês. O embate ideológico está sendo travado constantemente pelos meios de comunicação de massas e a reorganização dos movimentos precisa enfrentar com seriedade esta questão. Parodiando Lênin, na atualidade, não há movimento revolucionário sem comunicação de massas revolucionária.

A sua candidatura é produto da unidade de vários setores da esquerda socialista. PSTU, PSOL, PCB e Reage Socialista. Em nível nacional, discute-se a conformação de uma frente de esquerda classista e socialista para as eleições de outubro. O que você pensa sobre a construção desta frente? Como você acha que o exemplo da UFF pode contribuir para a construção da mesma?
Gurgel –
Seguindo a orientação do Reage Socialista, sou defensor desta frente há muitos anos, desde o momento em que percebemos que os litígios e ranços políticos impediam a formação de um partido socialista, que reunisse todas as forças políticas que romperam com o capitulacionismo do PT.
Creio que a frente é a arquitetura política que podemos executar no momento. Devemos ir para ela com cuidados, com sobriedade, conscientes de que é um passo adiante, da esquerda brasileira, e que deve ser aproveitado para avançarmos mais, em breve. Penso também que devemos construir uma agenda de lutas, que ultrapasse os limites do eleitoral. Além disto, impulsionar uma pauta de discussões teóricas que nos revele as diferenças e principalmente os pontos comuns de nossas referências ideológicas. O exemplo da UFF, que reuniu toda a esquerda socialista do Estado do Rio de Janeiro, foi um ensaio. Nos sentimos muito felizes em termos contribuído, com nosso exemplo, para esta conquista das esquerdas brasileiras, que é a frente classista e socialista. A capacidade de coesionar estas forças é um desafio, mas lhe confesso que não tivemos grandes dificuldades porque lidamos com companheiros leais, solidários e verdadeiros socialistas, que reconheceram o momento que viviam e souberam se comportar à altura.

Post author Por Rafael Rossi, de Niterói (RJ)
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