Jornais, emissoras e o presidente do Supremo Tribunal Federal encabeçam campanha contra a luta no campoA direita mostra seus dentes mais uma vez. Nos últimos dias, a grande imprensa vem exibindo matérias sobre o Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra (MST) que visam desqualificar e caluniar o movimento. Numa delas, apresenta integrantes do MST como bandidos, depois que estes se defenderam de jagunços no interior de Pernambuco.

Quatro jagunços foram mortos e dois sem-terra foram presos e acusados. Segundo o líder do MST na região, Jaime Amorim, os quatro jagunços “foram contratados para matar”. Em nota, o MST disse que “repudia a violência como solução para os conflitos no campo”, e que o conflito em Pernambuco foi “um exemplo de ação em legítima defesa, a que os trabalhadores tiveram de recorrer para evitar mais um massacre”.

De acordo com os sem-terra, os pistoleiros (chamados de “seguranças” pela mídia) foram armados ao acampamento e fizeram provocações. Eles perseguiram e espancaram um dos líderes do acampamento. Cerca de 100 famílias vivem há oito anos no local.
Pressionado pela mídia, Lula não poupou criticas ao MST e classificou como “inaceitável” a justificativa do movimento de legítima defesa. Caso os sem-terra fossem mortos, será que haveria punição para os responsáveis pelo crime? O retrospecto de crimes no campo responde a questão. Sob o governo Lula, nenhum jagunço ou latifundiário foi preso ou condenado por ter assassinado trabalhadores rurais.

Caso os sem-terra fossem mortos, os jornais e TVs teriam dedicaram espaço semelhante no noticiário e o mesmo tom? Ou o massacre não receberia mais do que algumas linhas e seria abandonado em poucos dias?

Outras declarações contra os sem-terra partiram do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes. Recentemente, ele condenou as ocupações de terra em Pernambuco e em São Paulo e disse ser inaceitável o repasse de dinheiro público ao MST. “A Justiça tem de dar resposta adequada. Há meio e modos jurídicos para se ter uma resposta serena, mas firme. No Estado de direito, todos estão sujeitos à lei, não há soberano. Se alguém invadir uma área sem autorização judicial, se torna soberano e isso é ilícito”, disse.

Mendes poderia ter aproveitado a ocasião para também explicar por que ele concedeu com tamanha rapidez a liminar que livrou da cadeia o banqueiro corrupto Daniel Dantas, um dos maiores corruptores da República que, segundo auxiliares, tem “um trânsito ferrado” no STF.

Também poderia ter aproveitado para explicar o repasse de R$ 2,4 milhões em recursos públicos ao que o Instituto Brasiliense de Direito Público, vinculado a Mendes, conforme reportagem da revista Carta Capital. No Estado de Direito citado por Mendes, nem todos estão sujeitos à lei.

As declarações soam a hipocrisia. Quase todos os dias, explodem escândalos de envio de dinheiro público para políticos e partidos. Quanto a isso, porém, a mídia e o presidente do STF se calam. Como questionou o colunista Clovis Rossi, da Folha de S. Paulo, um jornal nada simpático aos sem-terra, “importantes líderes do PT enfrentam processo no próprio STF (por formação de quadrilha). O PT, como os demais partidos, recebe dinheiro púbico. O governador afastado da Paraíba, Cássio Cunha Lima (PSDB), perdeu o cargo por compra de votos. O PSDB recebe dinheiro público. (…) Mas onde está então a sentença que condena o MST por ilegalidades?”.

O presidente do STF nunca fez sequer uma condenação aos grupos de latifundiários armados no campo ou a concessão de financiamentos públicos aos grandes grupos econômicos, que tem provocado o trabalho escravo. A Justiça que Gilmar Mendes representa é a mesma que manda soltar latifundiários que assassinaram a missionária Dorothy Stang. No dia 16 de fevereiro, a Justiça concedeu habeas corpus a Regivaldo Pereira Galvão, o “Taradão”, suspeito de ser um dos mandantes do crime contra a missionária.

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